SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta segunda-feira (19) estar surpreso que o país não foi avisado há muito tempo sobre o diagnóstico de câncer de próstata do ex-presidente Joe Biden -insinuando que o democrata sabia da doença e escondeu sua existência.

“Acho que é muito triste, na verdade” disse Trump quando questionado a respeito por jornalistas. “Estou surpeso que a população não foi informada há muito tempo atrás, porque até que se chegue ao escore 9, leva muito tempo”, afirmou, em referência ao escore de Gleason que mede a agressividade do câncer de próstata.

Biden recebeu um escore 9 em uma escala que vai de 6 a 10, o que significa que a doença deve crescer rapidamente -segundo a equipe do ex-presidente, o câncer entrou em metástase e já atingiu os ossos. Especialistas dizem que o diagnóstico é grave, mas novos tratamentos têm sido eficazes para que homens com esse tipo de câncer possam viver cinco anos ou mais. Biden tem 82 anos de idade.

Ao mesmo tempo, médicos ouvidos pela agência de notícias Reuters dizem que é raro que um câncer de próstata não seja detectado antes de atingir o escore 9. “Acredito que o ex-presidente deva fazer um check-up bastante completo a cada ano”, disse Chris George, diretor do departamento de oncologia do Northwestern Health. “É difícil de acreditar que ele tenha feito qualquer exame de sangue no último ano que tenha tido um resultado normal.”

Nesta segunda, Trump também sugeriu que os médicos que avaliaram Biden durante a presidência e afirmaram que ele estava bem de saúde não conseguiram perceber sinais do câncer naquela época. “Se foi o mesmo médico que disse que o Joe estava bem cognitivamente, que não havia nada de errado com ele… essa foi uma situação que se mostrou ser muito triste”, afirmou Trump.

Apoiadores do presidente americano foram além, dizendo abertamente que a equipe de Biden escondeu o câncer assim como teria escondido sinais de deterioração mental. “Todos eles participaram do acobertamento! Quem estava governando o país? Precisamos de respostas!”, escreveu o filho de Trump, Donald Trump Jr., em uma publicação nas redes sociais.

“Por que o povo americano não teve um entendimento melhor do seu estado de saúde?”, perguntou a jornalistas o vice-presidente, J. D. Vance, nesta segunda. “Por que o povo americano não tinha informações corretas sobre o que [Biden] estava enfrentando? Isso é coisa séria.”

A notícia sobre o diagnóstico de Biden coincide com o lançamento de um livro escrito pelos jornalistas Jake Tapper e Alex Thompson sobre o tamanho do declínio cognitivo do ex-presidente e sobre a decisão da sua equipe de esconder o problema. Tapper, conhecido jornalista e apresentador da CNN, moderou o debate entre Trump e Biden que serviu de estopim para a crise que culminaria na desistência do democrata.

O livro será lançado nesta terça (20) e tem o título “Original Sin: President Biden’s Decline, Its Cover-Up, and His Disastrous Choice to Run Again”, traduzível como “Pecado original: o declínio do presidente Biden, seu encobrimento e a escolha desastrosa dele de se candidatar novamente”.

Alguns dos episódios mais chamativos foram adiantados em reportagem extensa publicada pela revista New Yorker, entre eles a reação do ator George Clooney após um encontro com o presidente Biden, que ele considerou devastador.

Clooney, um dos principais arrecadadores de recursos para os democratas e aliado próximo do presidente, teria ficado chocado com a aparência e o comportamento de Biden durante um evento em Los Angeles, em junho de 2024.

Segundo o relato da New Yorker, o ator disse a interlocutores que o presidente parecia “não estar presente” e que nem sequer o reconheceu num primeiro momento. O encontro aconteceu poucos dias antes do fatídico debate contra Trump -que, segundo o livro, apenas confirmou os sinais preocupantes que aliados vinham notando em privado.

O impacto foi tão grande que Clooney escreveu um artigo de opinião para o jornal The New York Times pedindo publicamente que Biden deixasse a disputa pela reeleição. “O Joe Biden que vi naquele dia não era o mesmo de 2020. Não vamos vencer com ele em novembro”, escreveu o ator.

Recentemente, Biden tem feito entrevistas dizendo que não há provas que embasem a afirmação de que sua capacidade mental estava prejudicada. Em uma entrevista no último dia 8, ele disse à emissora ABC que “nada sustenta isso”.