SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A chegada da gripe aviária em uma granja comercial gaúcha, anunciada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária na sexta-feira (16), tem gerado dúvidas sobre o consumo de frango e ovos.

Especialistas e governo afirmam que não há risco para o consumo de ovos, desde que sejam devidamente cozidos. “Consumir o alimento não traz risco, porque ninguém vai consumir carne [de frango] crua ou ovos não cozidos, não só por gripe aviária, mas porque tem outros riscos, como o de salmonella”, afirmou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, em entrevista coletiva nesta segunda-feira (19).

A OMS (Organização Mundial da Saúde) e a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), da ONU (Organização das Nações Unidas), também afirmam que frango e ovos podem ser consumidos com segurança, desde que preparados adequadamente, bem cozidos.

Como o vírus da gripe aviária não resiste ao calor, a OMS afirma que o consumo de carne e ovos crus ou mal cozidos de áreas com surtos de gripe aviária deve ser evitado.

No sábado, o governo de Minas Gerais destruiu 450 toneladas de ovos do Rio Grande do Sul, o que suscitou dúvidas nas redes sociais. Os ovos da granja em Montenegro (RS), onde havia o foco de gripe aviária, foram rastreados, localizados em Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul e destruídos.

“Esses ovos não eram destinados para o consumo, eles eram ovos embrionários, ou seja, ovos para fazer outras galinhas e, por esse motivo, eles foram descartados. O pintinho que nascesse poderia já carregar a doença”, segundo Paulo Eduardo Brandão, professor da Faculdade de Medicina Veterinária da USP.

Com relação ao impacto nos preços de frango e ovos para os consumidores brasileiros, o ministro afirmou não acreditar em uma queda duradoura, mas em pequenas variações e por pouco tempo. Também afirmou que já há redução no valor cobrado pelos ovos no atacado, que era esperada após o período da Quaresma.

“Antes a caixa com 30 dúzias estava sendo vendida a R$ 240, R$ 250 e hoje já estão reportando a R$ 160 reais, já vem tendo queda no preço”.

Segundo Fávaro, o Brasil exporta 0,9% de sua produção de ovos e os Estados Unidos, que são o grande comprador de ovos brasileiros, já anunciaram que não vão suspender as compras.

É SEGURO CONSUMIR CARNES E OVOS DE AVES APÓS A CONFIRMAÇÃO DO VÍRUS?

Sim. Órgãos de governos como o Ministério da Agricultura e a Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul informaram que o consumo de carne de aves e ovos armazenados em casa ou em pontos de venda é seguro. Paulo Eduardo Brandão, professor da Faculdade de Medicina Veterinária da USP, explica que a influenza aviária não é transmitida para pessoas pelo consumo de carne ou de ovos, mesmo nos casos em que a ave estiver infectada. “Isso acontece sobretudo porque o consumo de qualquer carne de frango deve ser bem passada, não só pensando na gripe aviária, como também em outras doenças.”

POSSO CONSUMIR O OVO DE UMA GALINHA INFECTADA?

Sim. Caso o ovo esteja destinado ao consumo humano, ele não apresentará um embrião. Dessa forma, o vírus não encontrará células para se hospedar, o que significa que o ovo não estará infectado.

AINDA POSSO COMER O OVO CRU?

A OMS (Organização Mundial da Saúde) e a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) afirmam frango e ovos podem ser consumidos com segurança, desde que preparados adequadamente, bem cozidos. Segundo a OMS, o consumo de carne e ovos crus ou mal cozidos de áreas com surtos de gripe aviária deve ser evitado. Animais que estão doentes ou que morreram inesperadamente não devem ser consumidos.

É POSSÍVEL QUE O RISCO COM RELAÇÃO AO CONSUMO DESTES ALIMENTOS AUMENTE?

Não há risco com relação ao consumo, mesmo que novos surtos ocorram. Um dos problemas que pode surgir no país, no entanto, segundo o professor, é a possibilidade de a situação se disseminar de forma semelhante ao que ocorreu nos Estados Unidos, o que pode afetar a produção de ovos e, consequentemente, elevar o preço do alimento.

O QUE É O H5N1?

O H5N1é uma variante do vírus da gripe comum. Brandão explica que todos os tipos da família influenza apresentam um nome e um sobrenome, ou seja, um ‘H’ e um ‘N’.

Na vacina anual contra a gripe, um dos vírus de influenza mencionados é o H1N1. Enquanto o H5N1, que é bastante comum em aves, é outra forma em que um vírus da gripe pode aparecer.

DESDE QUANDO O VÍRUS CIRCULA?

Circula agora uma mutação do H5N1, mas existe um ancestral do vírus que já é conhecido desde 1996, infectando gansos. “O vírus atual existe desde 2020, tomou África, Ásia e Europa e, entre 2022 e 2023, chegou ao continente americano”, afirma Brandão.

No Brasil, há registro em animais silvestres desde 2023, quando houve a confirmação da doença no Espírito Santo. Houve casos em ao menos sete estados.

QUAL É O NÍVEL DE FATALIDADE ENTRE AS AVES?

De acordo com o professor, trata-se de um vírus extremamente letal para esses animais, que se transmite muito rapidamente nessas populações. “Galinhas, frangos e outras aves mantidas em criação humana são altamente suscetíveis e é comum que essa alta letalidade seja ainda mais observada em granjas”. O motivo são as condições de criação, com muitos animais em pouco espaço.

COMO É FEITO O CONTROLE PARA GARANTIR A SEGURANÇA DOS ALIMENTOS?

De acordo com o especialista, todas as aves que não morreram com a doença são abatidas para evitar a disseminação da gripe. Depois disso, a granja é interditada pelo período de pelo menos dois meses e as carcaças são queimadas e enterradas para conter o vírus.

A DOENÇA É TRANSMISSÍVEL PARA OUTROS ANIMAIS? NESTE CASO, AINDA É SEGURO CONSUMIR OS PRODUTOS DERIVADOS DELES?

Sim. A doença pode ser transmitida para outros animais, incluindo alguns mamíferos. Segundo o especialista, nos Estados Unidos, houve casos em que leite não pasteurizado apresentou o vírus. No entanto, no caso da carne bovina ou de produtos derivados do leite que foram pasteurizados, não há risco de infecção para os consumidores.

A DOENÇA É TRANSMISSÍVEL PARA HUMANOS?

Sim, mas os casos de transmissão da doença para seres humanos só acontecem com aqueles que trabalham e manuseiam diretamente o animal contaminado. Segundo o professor, a doença se manifesta como uma gripe forte. A Embrapa afirma que a contaminação humana ocorre por contato direto com secreções de aves infectadas, especialmente feiras de aves vivas, fezes de aves, sangue, aves mortas.

É POSSÍVEL QUE UMA PESSOA TRANSMITA A DOENÇA PARA OUTRA?

Não. Brandão explica que não há registro da influenza sendo transmitida entre seres humanos, fator que evita que ela se torne uma pandemia.

A VACINA CONTRA A GRIPE ME PROTEGE CONTRA A INFLUENZA AVIÁRIA?

Não. A atual vacina contra a gripe protege os seres humanos contra a H1N1 e não contra outras variantes de influenza.

EXISTE UMA VACINA CONTRA A H5N1 PARA ANIMAIS?

Sim. No entanto, o especialista explica que a vacina não é comumente utilizada, pois, ao ser aplicada, os anticorpos seriam detectados em todas as aves, tornando difícil determinar se o animal apresenta os anticorpos devido à vacinação ou por estar realmente contaminado com a doença. Por essa razão, a vacina não é amplamente adotada, a fim de evitar que o diagnóstico rápido seja comprometido.

A GRIPE AVIÁRIA PODE INFECTAR GATOS E CACHORROS?

Até o momento, a única pista de animais domésticos infectados pela influenza aviária já registrada foi de gatos em fazendas dos Estados Unidos que tomavam o leite puro de vacas infectadas. Assim, de acordo com Brandão, não é necessário se preocupar com a infecção desses animais.

O QUE EXPLICA OS EMBARGOS COMERCIAIS?

Os países têm políticas de suspensão de importações de lugares onde houve detecção de gripe aviária para evitar a entrada do vírus em zonas livres da doença.

É SEGURO VIAJAR PARA ÁREAS QUE RELATAM SURTOS DE GRIPE AVIÁRIA EM ANIMAIS E/OU HUMANOS?

Atualmente, a OMS (Organização Mundial da Saúde) não recomenda restrições de viagem relacionadas à gripe aviária. No entanto, o órgão indica que algumas medidas podem ser tomadas para evitar o risco de infecção.

EM ÁREAS COM SURTOS DE GRIPE AVIÁRIA, EVITE

– Contato com animais doentes ou mortos;

– Contato com animais em fazendas e mercados de animais;

– Entrar em áreas onde animais possam ser abatidos;

– Contato com quaisquer superfícies que pareçam estar contaminadas com fezes de animais;

– Abater ou comer animais doentes