SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa bateu um novo recorde histórico nesta segunda-feira (19), subindo 0,32%, a 139.636 pontos, enquanto o dólar encerrou a sessão com uma queda de 0,25%, a R$ 5,654, refletindo as perdas generalizadas da moeda norte-americana nos mercados globais.
Os investidores reagiram à notícia de que a agência de classificação de riscos Moody’s rebaixou a nota máxima de créditos AAA dos Estados Unidos para AA1. Após a sinalização do presidente do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, de que a autoridade monetária deve manter a taxa básica de juros, a Selic, hoje em 14,75% ao ano, mais alta por mais tempo, a divisa dos EUA intensificou queda, enquanto a Bolsa passou a subir.
O recorde do Ibovespa pertencia a última quinta-feira (15), quando fechou com um avanço de 0,65%, a 139.334 pontos. Na máxima do dia, o índice chegou aos 140.203 pontos, a primeira vez que atingiu esse patamar, e renovou também a máxima intradiária, que havia sido de 139.418 pontos, registrados na última terça-feira (13). Entre os destaques positivos, estavam Itaú e JBS, enquanto Marfrig puxou o índice para baixo.
Mais cedo na sessão, os movimentos dos mercados de câmbio e de ações tinham como pano de fundo a decisão da Moody’s de rebaixar a classificação de crédito máxima (triplo A) dos Estados Unidos.
Ao rebaixar a nota, a agência de classificação de risco citou dívida e juros crescentes no país, “que são significativamente mais altos do que os de soberanos com classificação semelhante”. Outras agências, como Fitch e S&P, já haviam retirado a classificação impecável dos EUA anteriormente.
Diante desse cenário, o dólar chegou a acumular ganhos no Brasil, refletindo o que parecia ser uma aversão inicial ao risco em reação à decisão da Moody’s. Na máxima do dia, às 9h42, a moeda chegou a subir 0,38% R$ 5,6913. Ao longo da manhã, no entanto, a divisa dos EUA foi retornando à estabilidade.
“A gente já começou a semana com uma notícia não muito boa para os Estados Unidos. O rebaixamento da nota por lá acontece porque toda essa pressão tarifária que o Trump fez acabou tirando parte de investimentos do país ou quem estava pensando em investir lá está segurando um pouco até ver realmente onde vai os desdobramentos”, afirmou Alison Correia, analista de investimentos e sócio-fundador da Dom Investimentos.
O dólar virou para queda após falas de Galípolo durante o evento Annual Brazil Macro Conference, promovido pelo banco Goldman Sachs, em São Paulo.
O dirigente do BC afirmou que a autoridade monetária dependerá de novos dados sobre a atividade econômica e a inflação para decidir o que fará com os juros nas próximas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária do BC).
“Faz sentido que os juros fiquem em um patamar restritivo por mais tempo. Agora o momento é de pensar como vamos reagir, e não o que vamos fazer.”
Investidores calcularam que, com a garantia de juros restritivos por um tempo prolongado, o diferencial de juros entre Brasil e outros países continua favorável para a moeda brasileira, gerando ganhos para o real ao longo da sessão. As falas ainda teriam indicado comprometimento da autarquia com a perseguição da meta de inflação, um fator positivo também para os ativos brasileiros.
“Isso levou o mercado a pensar que na próxima reunião, o Copom não optará por mais uma alta, mantendo a taxa atual. Isso colaborou para o otimismo na Bolsa”, disse Correia, da Dom Investimentos.
Segundo Willian Andrade, CIO da Kaya Asset Management, a permanência de juros reais elevados torna o Ibovespa mais atrativo, trazendo investidores e recursos estrangeiros para cá.
Com ele concorda Ian Lopes, economista da Valor Investimentos. “Esse movimento favorece o fluxo de capital para mercados emergentes, beneficiando países como o Brasil”, disse.
No exterior, os mercados também reagiram à decisão da Moody’s. Os rendimentos do Tesouro americano, considerados os mais seguros do mundo e referência para investidores, subiram e as ações dos EUA fecharam praticamente estáveis nesta segunda-feira, com o humor do mercado enfraquecido pela decisão da Moody’s.
O índice DXY, que mede o desempenho do dólar ante outras seis divisas fortes, tinha queda de 0,72%, a 100,37 pontos, ao fim do pregão. As ações europeias e asiáticas também caíram.
Nesta segunda, o assessor para assuntos econômicos da Casa Branca, Kevin Hassett, minimizou o rebaixamento da nota de crédito, dizendo que a mudança não deveria ser uma surpresa. Já o vice-presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), Philip Jefferson, disse que o rebaixamento da Moody’s será tratado como qualquer outro dado na política monetária.
“Colocaremos esse rebaixamento na mesma perspectiva que fazemos com todas as informações que chegam: quais são as implicações disso em termos de atingirmos nossos mandatos”, disse Jefferson em uma conferência sobre os mercados financeiros do Fed de Atlanta nesta segunda.
No domingo, o Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, também minimizou o rebaixamento da Moody’s durante entrevistas para televisão, enquanto advertia os parceiros comerciais de que receberiam tarifas máximas se não oferecessem acordos de “boa fé”.
As incertezas comerciais continuaram em foco, com os mercados à espera do anúncio de novos acordos tarifários dos EUA com seus parceiros, já que negociações seguem em andamento para conter as altas tarifas de Trump.
Na cena doméstica, o mercado avaliou dados sobre atividade econômica, com o Banco Central informando que o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica), considerado um sinalizador do PIB (Produto Interno Bruto), avançou em março 0,8%, em resultado acima do esperado.
Mais cedo, analistas consultados pelo BC na pesquisa Focus voltaram a reduzir a estimativa para a inflação este ano, de 5,51% na semana anterior 5,50%. Esta é a quinta queda consecutiva na previsão feita. O centro da meta oficial para a inflação é de 3,00%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
Com a agenda doméstica mais fraca nesta semana, o agentes do mercado devem acompanhar de perto as atualizações sobre algumas medidas fiscais “pontuais”, segundo o ministro Fernando Haddad (Fazenda), que estão sendo preparadas pelo governo para assegurar o cumprimento da meta fiscal.
“O que está em evidência é toda essa questão fiscal, principalmente essas possíveis movimentações de planos populistas que o governo poderia fazer. Está todo mundo de olho para entender os próximos passos do governo”, afirmou Correia, da Dom Investimentos.
Na semana passada, as medidas em questão elevaram os ruídos sobre o cenário fiscal e aumentaram as preocupações dos investidores de que o governo poderia lançar medidas econômicas para melhorar a avaliação de Lula, elevando a dívida pública. Havia rumores de um reajuste no valor do Bolsa Família de R$ 600 para R$ 700 a partir de janeiro de 2026.
“As únicas medidas que estão sendo preparadas para levar ao conhecimento do presidente [Lula], que seria hoje [quinta], mas em função do falecimento do Mujica [ex-presidente do Uruguai] passou para semana que vem, são medidas pontuais para o cumprimento da meta fiscal”, disse Haddad em entrevista a jornalistas nesta quinta na sede da Fazenda, em Brasília.