CANNES, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Três meses após a morte de Cacá Diegues, o Festival de Cannes exibe “Para Vigo Me Voy!”, documentário que mescla trechos dos filmes do cineasta com entrevistas dadas por ele ao longo da vida.
Logo antes de morrer, o célebre autor do cinema novo enviou uma carta ao presidente Lula (PT) expressando “profunda preocupação” com os rumos da política para o setor do audiovisual, “que enfrenta um preocupante processo de desindustrialização”.
José Bial, neto de Cacá Diegues, diz que o avô “entendia a necessidade da presença estatal no cinema”.
Na carta, revelada pela Folha de S.Paulo na sexta (16), Diegues expressava sua preocupação com o setor audiovisual e pedia por políticas que garantissem a “constância de conteúdo brasileiro nas nossas telas”. Hoje, uma das pautas mais urgentes para o setor cultural é a regulamentação do streaming.
“Essa questão do streaming é como se um grande valentão todo-poderoso quisesse passar por cima das regras da sociedade. É uma coisa mafiosa, que não deveria acontecer”, disse, à reportagem, José Bial.
Na carta, Cacá Diegues disse a Lula que “a política cultural de seus mandatos anteriores foi um sucesso”, mas que “hoje, vivemos um retrocesso” com Lula 3.
Hoje, ao contrário de salas de cinema e TVs por assinatura, as plataformas de streaming não pagam a Condecine, a Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional.
As propostas de regulamentação e taxação das plataformas de streaming tentam sair do papel há anos no Brasil, sem sucesso.
O assunto voltou a esquentar em Brasília nos últimos meses, com pelo menos quatro agendas importantes. A ministra da Cultura, Margareth Menezes, e seu secretário-executivo, Márcio Tavares, se reuniram com os parlamentares relatores dos projetos de lei sobre o assunto na Câmara e no Senado. Hoje o projeto que veio do Senado está sob relatório de Jandira Feghalli (PCdoB), na Câmara.
Em meio a isso, Netflix e Amazon têm se aproximado de diferentes áreas do governo federal e participam de mesas de negociação para apoiar projetos variados.
Reformas de salas de cinema, campanhas de promoção do turismo e reformas em equipamentos públicos estão nos planos de algumas plataformas de streaming que atuam no Brasil.