SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente Donald Trump passou pouco mais de duas horas ao telefone com seu colega russo, Vladimir Putin, mas não conseguiu arrancar dele a aceitação de um cessar-fogo imediato na Guerra da Ucrânia.

Foi a terceira ligação divulgada entre os líderes desde que Trump voltou à Casa Branca, em janeiro, encerrando o rompimento total que marcou a relação das maiores potências nucleares do planeta desde que Putin invadiu a Ucrânia, em 2022.

Segundo Putin disse a jornalistas em um centro educacional do balneário do mar Negro de Sochi, de onde fez a ligação, a conversa foi “produtiva”. “Estamos no caminho certo, de forma geral”, afirmou. Ele disse, contudo, que uma trégua é possível apenas “quando certos acordos forem feitos”.

Disse estar pronto para trabalhar em um “memorando de acordo de paz” com os ucranianos, mantendo a posição de só aceitar um cessar-fogo quando o que considera “as causas do conflito” for negociado. Ou seja, manter a Ucrânia neutra militarmente e tomar para si as áreas que anexou ilegalmente em 2022, condições mínimas que já havia divulgado.

O republicano havia ligado antes para o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, e iria fazer uma nova chamada após falar com Putin. Ainda não há um relato da Casa Branca sobre as conversas.

Trump vem sinalizando exasperação com a falta de saída para a crise, que busca mediar desde que voltou ao poder. Russos e ucranianos chegaram a se reunir pela primeira vez desde 2022, na semana passada na Turquia, mas não concordaram com um cessar-fogo: Moscou quer a negociação do que chama de razões do conflito antes de uma trégua incondicional.

Nos meios políticos russos, há a sugestão de que os combates só serão suspensos se a Ucrânia de cara abrir mão do que restou sob seu controle dos quatro territórios que Putin tomou: Donetsk, Lugansk, Zaporíjia e Kherson. Kiev rejeita isso.

Pouco antes dos telefonemas, o vice-presidente americano, J.D. Vance, havia dito que a situação havia chegado a um impasse e voltou a dizer que os EUA devem se retirar do processo para tentar acabar com o mais sangrento conflito em solo europeu desde 1945.

“Nós percebemos que há um pequeno impasse aqui. Sinceramente, acho que o presidente Putin não sabe muito bem como sair da guerra”, disse Vance antes de deixar a Itália. “É preciso dois para dançar um tango. Se a Rússia não estiver disposta, então vamos simplesmente dizer: esta não é a nossa guerra.”

Ele já usou essa terminologia, que sugere o abandono do apoio americano a Kiev, antes, mas não foi endossado por Trump, que busca negociar no estilo vaivém com Zelenski e Putin.

O presidente chegou a congelar o envio de armamentos para os ucranianos, mas ele foi retomado quando Zelenski passou a flexibilizar sua posição, além de aceitar um acordo de exploração conjunta de minerais estratégicos com Washington.

Os EUA são os maiores apoiadores de Kiev. Desde o começo da guerra até o fim de fevereiro, segundo o Instituto para a Economia Mundial de Kiel (Alemanha), Washington enviou sozinha o equivalente hoje a R$ 727 bilhões, ante R$ 875 bilhões de todos os países europeus juntos.

Mais importante, 56% da ajuda americana é militar, em armas. O valor é cinco vezes maior do que o doado pelo segundo maior apoiador bélico da Ucrânia, a Alemanha. Desde a volta de Trump, os países do continente discutem como aumentar o fluxo.

As conversas ocorrem em um momento particularmente violento do conflito. No domingo (18), a Rússia havia lançado o maior ataque com drones contra a Ucrânia na guerra.

Foram disparados 273 aparelhos, com 88 sendo derrubados e 128, caindo sem consequências —provavelmente eram de modelos inertes, sem explosivos e construídos com material barato, que servem para atrair as defesas aéreas e revelar suas posições aos rivais. Nesta segunda, ao menos cinco pessoas morreram em bombardeios no país.

Na via inversa, nesta segunda um drone matou uma pessoa na região russa de Belgorodo, segundo as autoridades locais. Foi também decretado um alerta de ataque contra o balneário de Sochi, no mar Negro, onde Putin passou o dia em reuniões.