SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – De janeiro a 15 de maio de 2025, a cidade de São Paulo já registrou 353 casos de hepatite A. O número representa 57,1% do total do ano passado, que finalizou com 618. Neste ano, três pessoas morreram —em 2024 houve um óbito. No ano passado, de janeiro a abril, foram registrados 172 casos da doença. Os dados são da Secretaria Municipal da Saúde.

O cenário epidemiológico do município, em 2025, segue a mesma tendência de alta observada no estado de São Paulo —até 16 de maio, foram computados 642 casos de hepatite A. No ano anterior (até 18 do mesmo mês), alcançou 412 (1.142 de janeiro a dezembro). As informações são da plataforma estadual, atualizada até às 17h de 16 de maio.

No interior, Sorocaba tem o maior número de casos, 119. Na Baixada Santista, Santos (67) e Praia Grande (10) aparecem na frente, com mais infecções.

Segundo a Secretaria Estadual da Saúde, em 429 dos 642 casos a fonte provável de infecção é ignorada. Em 106, alimentos e água contaminados provocaram a doença. Outros 35 contraíram hepatite A por contato sexual. Nos demais, transmissão pessoa a pessoa (7), domiciliar (4), tratamento dentário (3) e uso de drogas (3). Em branco e outros somam 55.

Para o infectologista, diretor nacional de infectologia da Rede D’Or e reitor do Centro Universitário FMABC, David Uip, o aumento de casos está relacionado à falta de saneamento básico.

“Primeiro, a contaminação fecal-oral. Tudo tem a ver com o saneamento básico. De um país que só tem 50% [da população] sem coleta ou com esgoto tratado não dá para esperar muito. Esse é o ponto crucial. O segundo é que a doença é prevenível por vacina. Se o programa de vacina é efetivo, você seguramente vai ter, a despeito da exposição, menos casos. Terceiro, os cuidados pessoais. Lavar as mãos antes das refeições. Quando o indivíduo tem hepatite diagnosticada, ele tem que ficar afastado. Há uma série de regras que são básicas para evitar o aumento de casos”, afirma Uip, que já foi secretário estadual da Saúde de São Paulo.

Como prevenir a hepatite A

A melhor forma é a vacinação, mas há outras:

– Lavar as mãos (incluindo após o uso do sanitário, trocar fraldas e antes do preparo de alimentos);

– Lavar com água tratada, clorada ou fervida os alimentos que são consumidos crus, deixando-os de molho por 30 minutos;

– Cozinhar bem os alimentos antes de consumi-los, principalmente frutos do mar e peixes;

– Lavar adequadamente pratos, copos, talheres e mamadeiras;

– Usar instalações sanitárias;

– No caso de creches, pré-escolas, lanchonetes, restaurantes e instituições fechadas, adotar medidas rigorosas de higiene, tais como a desinfecção de objetos, bancadas e chão utilizando hipoclorito de sódio a 2,5% ou água sanitária.

– Não tomar banho ou brincar perto de valões, riachos, chafarizes, enchentes ou próximo de esgoto;

– Evitar a construção de fossas próximas a poços e nascentes de rios;

– Usar preservativos e higienização das mãos, genitália, períneo e região anal antes e após as relações sexuais.

Uip alerta que a hepatite A é uma doença benigna, mas pode se tornar grave no caso de pacientes com comorbidades e imunodepressivos.

De acordo com o infectologista, a maioria dos casos é assintomático. Quando apresenta sintomas, os principais são mucosas (principalmente dos olhos) e a pele ficam amareladas, urina escura, fezes claras e mal-estar. Febre, cansaço e constipação também podem ocorrer.

O diagnóstico é laboratorial. “Você faz um exame, que é TGO/TGP, que são as enzimas do fígado. Para ser hepatite, elas devem estar bem elevadas. Quando isso ocorre, você vai atrás do agente que causou a hepatite. Lembrando que quando se fala em hepatite viral, para o leito é a hepatite A, B ou C. Não é assim. Tem uma porção de outros vírus que causam hepatite. O diagnóstico é fácil: alteração das enzimas hepáticas e sorologia específica”, explica o especialista.

Não há um tratamento específico contra a doença. Para aliviar os sintomas, siga a prescrição médica. Evite a automedicação.

VACINAÇÃO

A vacina contra hepatite A é indicada para crianças de 15 meses até 4 anos, 11 meses e 29 dias em esquema de uma dose. Para grupos especiais incluindo, desde 11 de abril, pessoas que fazem o uso de PrEP (profilaxia pré-exposição), são duas doses com intervalo de seis meses. A proteção começa após dez dias da primeira dose.

De janeiro a abril de 2025, foram aplicadas 1.645 doses da vacina Hepatite A Adulto —1.932 no mesmo período de 2024. Em relação à vacina Hepatite A pediátrica, de janeiro a abril de 2025, a cidade ministrou 37.535 doses. No mesmo intervalo de 2024, foram 39.354 doses. A cobertura vacinal da hepatite A é calculada no público infantil e está em 99,71%.

Grupos especiais

Pessoas com hepatopatias crônicas de qualquer etiologia, inclusive portadores do vírus da hepatite C; quem possui o vírus da hepatite B; coagulopatias; pessoas vivendo com HIV/Aids; imunodepressão terapêutica ou por doença imunodepressora; doenças de depósito; fibrose cística (mucoviscidose); trissomias; candidatos a transplante de órgão sólido, cadastrados em programas de transplantes; transplantados de órgão sólido; transplante de células-tronco hematopoiéticas; doadores de órgão sólido ou de células-tronco hematopoiéticas, cadastrados em programas de transplantes; hemoglobinopatias; asplenia (ausência total ou parcial do baço) anatômica (ausência física do órgão) ou funcional (o baço não funciona adequadamente) e doenças relacionadas, e usuários de PrEP.

Os grupos podem ser vacinados nos CRIEs (Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais) e nos SAEs (Serviços de Assistência Especializada), que são equipamentos estaduais localizados na capital paulista. Os demais devem se dirigir às UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e AMAs/UBSs integradas.