BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O PL passou a ser procurado por políticos de outros partidos, com ou sem mandato, interessados em pegar carona na popularidade do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), cujos vídeos alcançaram centenas de milhões de visualizações nas redes sociais.
Nas projeções do PL e de políticos de outras legendas, o efeito Nikolas fará com que o partido tenha 30% das vagas de Minas na Câmara dos Deputados na próxima eleição. A estimativa é a de que o parlamentar ultrapasse 2 milhões de votos e ajude a eleger de 17 a 18 dos 53 deputados federais do estado.
Caso isso se concretize, a bancada mineira do PL, por si só, seria maior do que o tamanho atual de partidos como PDT (17 deputados), PSB (15), PSOL e PSDB (13).
Na eleição passada, Nikolas recebeu 1,47 milhão de votos e puxou outros seis candidatos com baixíssima votação. Marcelo Álvaro Antônio venceu com apenas 31 mil votos, o 83º no ranking de Minas. A sigla só não fez 13 deputados daquela vez porque nenhum dos demais candidatos do PL superou o piso de 21 mil votos para preencher as duas vagas extras.
Com forte atuação nas redes sociais, seus aliados usam esse como um dos critérios de aumento na relevância do deputado. Em 2022, ele tinha pouco mais de um milhão de seguidores e foi o mais votado em 544 dos 853 municípios. Hoje tem 17,5 milhões de seguidores e ganhou visibilidade nacional com vídeos críticos ao governo Lula (PT).
Além da possibilidade de uma votação ainda mais expressiva para Nikolas, de 28 anos, o aumento da bancada ocorreria com a filiação de deputados com mandato pelo menos outros três já sondaram a sigla para se filiarem em março, quando abre a janela para troca de partido e a chegada de políticos com média votação.
A conta dos interessados em migrar para o PL é a seguinte: candidatos com cerca de 40 mil ou 50 mil votos são cobiçados por ajudarem no total de votos do partido, mas dificilmente têm chances de eleição e apenas auxiliam os cabeças de chapa a obterem o número de votos necessários.
Em troca, têm a projeção para outras eleições, como de prefeito, e a perspectiva de apoio para assumirem outros cargos, como uma secretaria ou estatal.
A projeção é a de que cada vaga de deputado federal em Minas Gerais exigirá 190 mil votos. Para duas vagas, portanto, seria preciso o apoio de 380 mil eleitores para a chapa. Já um puxador como Nikolas obtém votos suficientes para si e para carregar outros com menor votação.
“A maioria dos candidatos nessa faixa acima de 30 mil votos quer ir para o PL”, diz o ex-deputado Fábio Ramalho (MDB), que negocia com o partido. O emedebista teve 77 mil votos na eleição de 2022, o mais votado entre os que não foram eleitos, mas ficou de fora porque o MDB só teve votos suficientes para fazer duas cadeiras. O ex-deputado Aelton Freitas, por exemplo, já deixou o PP e retornou ao PL.
Outro que teria feito contato é o ex-deputado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (RJ), que estuda concorrer em Minas Gerais. Segundo líderes locais, o partido teria respondido que não concorda com a filiação, por entender que isso pode ser utilizado para atacar toda a chapa.
Cunha disse à Folha que “conversa com todo mundo”, mas que não procurou o PL e que não decidiu ainda por qual estado será candidato a deputado federal. “Eu vou levar essa decisão para último momento.”
O presidente do PL de Minas Gerais, deputado Domingos Sávio, nega conversas com Cunha, mas diz que o partido decidiu em abril que fará um filtro nas filiações. “O critério inegociável é de que só aceitaremos pessoas que comungam com os nossos princípios e valores. Se for só estratégia eleitoral, agradecemos, mas não temos interesse.”
O movimento de filiações pode se intensificar quando Nikolas decidir se concorrerá mesmo à reeleição.
Por outro lado, pode esvaziar caso a opção seja por uma candidatura ao Governo de Minas Gerais, cenário em que seria necessária uma composição com o senador Cleitinho (Republicanos), que já se lançou pré-candidato e é seu aliado.
Outro fator que poderia incentivar Nikolas a se lançar ao Palácio da Liberdade seria a insistência de Bolsonaro em se lançar à Presidência. Inelegível, ele tem dito que tentará registrar a candidatura e, entre aliados, há quem ainda aposte que seja possível reverter o cenário até lá.
Desta forma, Nikolas é visto como alguém que daria um palanque mais forte para um estado considerado chave na eleição nacional. Em 2022, Bolsonaro perdeu para Lula em Minas Gerais.
Outra possibilidade que foi levantada seria a de Nikolas mudar o seu domicílio eleitoral e concorrer por São Paulo, como mostrou o Painel.
A troca aproveitaria o vácuo deixado pela saída dos três maiores puxadores de voto do estado.
Além de se projetar nacionalmente, poderia manter e ampliar a bancada do PL em São Paulo, que deve perder seus três puxadores de votos: Eduardo Bolsonaro concorrerá ao Senado, Carla Zambelli está inelegível e Ricardo Salles se filiou ao partido Novo.
A mudança também ajudaria a eleger o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, que pretende concorrer a deputado federal por São Paulo na próxima eleição. Ele já exerceu o cargo há 20 anos, quando renunciou por causa das denúncias do escândalo do mensalão.
À rádio Itatiaia Nikolas negou essa possibilidade e que tenha conversado sobre isso com o partido. “Agradeço o carinho do povo paulista comigo, mas venho reafirmar com clareza: meu coração, minha missão e meu compromisso permanecem firmes com Minas Gerais”, disse.
Para fazer frente ao potencial efeito de Nikolas nas urnas, adversários políticos já começaram a se mobilizar na base com um argumento pragmático: o que ele trouxe de retorno ao município?
O questionamento deve ser intensificado até a eleição. Parlamentares avaliam que, apesar da performance de grande alcance nas redes, não é possível que consiga ter priorizado tantos municípios e de forma equilibrada. A ideia é explorar esses gargalos.
Um deputado de partido de esquerda espera usar a política local como contraponto. Se em 2022, Nikolas era desconhecido e foi uma aposta da população, agora quer que os eleitores cobrem o que foi trazido de positivo para o município de retorno.