SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O que você precisa saber sobre a gripe aviária para entender a gravidade da situação, Moody’s é a última a desacreditar os Estados Unidos e outros destaques do mercado nesta segunda-feira (19).

**A GRIPE AVIÁRIA CHEGOU**

Por algum tempo, o Brasil gozou do privilégio de ser o único entre os grandes exportadores de frango a estar livre do contágio da gripe aviária. Como nada que é bom dura para sempre, o sonho acabou na sexta-feira (16).

O primeiro foco da doença em uma granja comercial no país foi registrado em Montenegro, uma cidade do Rio Grande do Sul com 64 mil habitantes.

RAIO-X

A gripe aviária –também chamada de influenza aviária de alta patogenicidade e H5N1– é uma variação da gripe que os humanos pegam. Esta, não representa um risco muito grande para a saúde humana como outras.

Em geral, o contágio para pessoas não acontece no consumo de carne de aves ou ovos, e sim pelo contato frequente com aves infectadas. Em humanos, ela não é muito forte. Para as aves, a história é outra.

O que isto está fazendo na newsletter de Mercado? Você pode ter se perguntado. O vírus é muito letal e de rápida transmissão entre as aves. Tente lembrar de um lugar onde tem várias delas, bem pertinho umas das outras. Isso aí, uma granja.

Para ajudar, tem um certo país aí que é o maior exportador de frango do mundo e que poderia ver a receita do setor despencar no caso de uma epidemia da doença. Agora, deu para ver onde está o problema?

DETALHES

O Brasil é o lidera o comércio de carne de frango do mundo, mas não é o maior produtor –na frente vêm Estados Unidos e China.

Em 2024, o país exportou US$ 10 bilhões (R$ 56 bilhões), o que representa cerca de 35% do que é vendido em todo mundo;

As maiores empresas do setor são a JBS e a BRF, que exportam para mais de 150 países

A Marfrig é uma das mais atingidas. A empresa anunciou a incorporação da BRF, na esperança de que os altos lucros do frango ajudassem a compensar os prejuízos do gado nos EUA. Você entende melhor essa história aqui.

Os principais destinos dos nossos produtos são a China, o Japão, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes.

Mais decepção. Além da perspectiva da redução dos ganhos com o frango, o H5N1 chega para acabar com a festa dos ovos.

As exportações brasileiras do produto aumentaram nos últimos meses, com a redução da produção de ovos nos EUA, onde ele está escasso devido à…gripe aviária, isso aí.

As exportações brasileiras de ovos aumentaram 271% para 4.300 toneladas métricas em abril, segundo a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).

**DAQUI PARA FORA**

Para ajudar na compreensão do tamanho da roubada, vamos entender o que essa doença vem causando nos Estados Unidos.

EM NÚMEROS

– 170 milhões de aves foram atingidas pelo vírus;

– 783 granjas comerciais registraram casos;

– 79% foi o aumento do preço dos ovos em abril, em relação ao mesmo período do ano passado.

Ou seja, a situação ficou bastante complicada.

MISSÃO IMPOSSÍVEL (?)

O Ministério da Agricultura e da Pecuária anunciou que está tomando todas as medidas possíveis para conter o avanço da influenza sem prejudicar o fluxo da produção nacional.

A expectativa é que os preços aqui no país não mudem muito, mas a redução das exportações pode derrubá-lo em algum tempo –por um curto prazo. Se a crise sanitária se estender, o cenário pode ser de escassez dos produtos e aumento nos valores.

BARRADOS

Muitos países, com medo de infecções entre seus animais, interromperam a importação da carne de frango e ovos brasileiros. Até o momento, estão entre eles:

– China;

– As nações da União Europeia;

– Uruguai;

– México;

– Chile;

– Argentina.

Outros, como Japão, Emirados Árabes e Arábia Saudita aprovaram manter as compras, mas sem lotes vindos do Rio Grande do Sul.

Também foram cancelados envios de pintinhos e ovos férteis para Bolívia, Rússia, Peru, Venezuela, Colômbia e Equador.

**SE FOR CHORAR, MANDA ÁUDIO**

Dá para ouvir de longe o choro de um aluno que sempre tira dez nas provas ao ler um nove na mais recente. Algo parecido está acontecendo nos Estados Unidos.

A Moody’s, uma das maiores agências de risco do mundo, tirou a classificação máxima de crédito do país, a AAA. A justificativa é, sobretudo, o aumento descontrolado da dívida –na perspectiva da empresa.

O QUE É UMA AGÊNCIA DE RISCO?

O que é uma agência de risco? Elas analisam uma série de fatores financeiros e econômicos para atribuir classificações de risco de crédito.

Com isso, os investidores podem ter uma noção do quão seguro é colocar seu dinheiro em notas emitidas por determinados países ou empresas.

A nota máxima é o triplo A, depois AA e assim em diante. Quanto menor a nota, maior o risco de calote.

A MAIS CONFIANTE

A atitude da Moody’s chamou a atenção porque ela foi a última entre suas principais concorrentes a rebaixar os EUA.

O ARGUMENTO

A Moody’s afirmou que espera que os déficits federais aumentem para quase 9% do PIB (Produto Interno Bruto) até 2035, em comparação com 6,4% no ano passado.

Como o patamar dos juros está alto, é mais difícil do que era antes para o país pagar a sua dívida, por mais que permaneça como o principal credor do mundo.

Pela primeira vez na história, os EUA não mantêm a nota de crédito máxima triplo A em nenhuma das três principais agências de classificação de risco — Fitch, S&P e Moody’s.

Para os especialistas…o movimento não é uma surpresa, mas serve de alerta para o governo americano. Não deixa de ser um choque grande para um mercado já tenso, segundo Yesha Yadav, professora da Universidade Vanderbilt.

CONTRASSENSO

A notícia causou uma alta nos rendimentos do Tesouro americano. Como? Pode parecer confuso, mas o movimento esperado é este mesmo.

Quando percepção de risco de um ativo aumenta, os investidores esperam prêmios melhores para colocar o dinheiro lá.

DESAGRADOU

Scott Bessent, secretário do Tesouro dos EUA, ficou contrariado.

“Não dou muita credibilidade ao rebaixamento da Moody’s”, disse Bessent ao programa “State of the Union”, da CNN.

Bessent afirmou que o presidente Donald Trump vai impor as tarifas que ameaçou aplicar no mês passado aos parceiros comerciais que não negociarem de “boa fé” os acordos.

**RASGANDO O MANUAL DE INSTRUÇÕES**

Para que existem as regras? Muitas vezes elas parecem estar lá somente para limitar nossas vontades e impôr limites que, não necessariamente, fazem algum sentido.

Mas…já diz o velho ditado: se tem placa, tem história. É difícil afirmar que regras são meras idiossincrasias de algum amargurado que não quer ver os outros sendo felizes. Talvez os EUA estejam perto de descobrir porque há leis que regulam certos mercados.

COMO ASSIM?

Um dos objetivos de Donald Trump em seu segundo mandato como presidente é diminuir as burocracias do estado americano.

Para isto, ele criou o Doge (sigla em inglês para Departamento de Eficiência Governamental) e colocou Elon Musk à frente dele.

A próxima tarefa na lista das autoridades americanas é um dos maiores cortes nos requisitos de capital dos bancos em mais de uma década. Eles devem reduzir o índice de alavancagem suplementar (SLR), segundo fontes disseram ao Financial Times.

O QUÊ?

O SLR exige que grandes bancos tenham uma quantia definida de capital de “alta qualidade” –recursos sólidos e confiáveis– para suprir a sua alavancagem total.

↳ 💡 Glossário: alavancagem, no setor bancário, é quanto o banco está emprestando em relação ao seu capital.

A regra foi estabelecida em 2014, como parte das reformas depois da crise financeira de 2008.

RECAPITULANDO

Um dos principais motivos que desencadeou a crise naquele ano foi a alavancagem excessiva dos bancos –estavam emprestando muito mais do que poderiam arcar em caso de inadimplência.

Para piorar, eles estavam emprestando a torto e a direito, sem analisar se aquelas pessoas ou empresas tinham reais condições de pagar.

Ou seja…a ideia é fazer mais capital girar, mas, ao mesmo tempo, diminuir a segurança do sistema financeiro. Vale o risco?

Os grandes bancos, em sua maioria, acham que sim. Os lobistas da área fazem campanha contra a lei há anos.

Por outro lado…os críticos dizem que é um péssimo momento para mexer com isso, tendo em vista (e você viu bastante nesta newsletter) a volatilidade recente do mercado. E agora?

O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER

História que não acaba mais. 31 parlamentares de 11 partidos atuaram contra medidas de controle dos descontos nos benefícios do INSS.

No Uruguai…um escândalo está movimentando o país. Um esquema de títulos de gado nunca efetivados colocou várias empresas na berlinda.

Rinha de produtores. No interior de São Paulo, extratores estrangeiros de celulose entram em conflito com proprietários de cultivos de cano de açúcar.

Fim do sonho? Empresas que tentam projetar carros voadores são obrigadas a esperar a turbulência no mercado global passar para retomar suas empreitadas.