BELÉM, PA (FOLHAPRESS) – “Espaços para descentralizar o debate climático e deixar um legado positivo para as comunidades periféricas onde ocorrem as COPs (conferências do clima)”, assim o movimento COP das Baixadas define as yellow zones (zonas amarelas), criadas pelo coletivo em Belém (PA), em contraponto às oficiais green zone (zona verde) e blue zone (zona azul) dos eventos da ONU. Este ano, a conferência, em sua 30ª edição, acontece na capital paraense, em novembro.
A COP das Baixadas, que reúne 15 organizações da periferia ligadas ao ativismo climático (14 de Belém e uma de Castanhal, na região metropolitana), quer que a ideia das yellow zones (zonas amarelas) se internacionalize e que elas estejam presentes em todas as cidades-sede da COP.
Em Belém, quatro dessas zonas já estão em funcionamento como espaços permanentes, implantadas em espaços que já existiam em bairros periféricos, como o centro cultural Gueto Hub, no Jurunas, e a biblioteca comunitária Barca Literária, na Vila da Barca.
Durante uma COP, a blue zone recebe as autoridades para negociações oficiais; na green zone, acontecem eventos e atividades paralelos da sociedade civil, empresas e instituições de pesquisa.
“Os nossos territórios em geral, em Belém e nos arredores, têm muitas expectativas que não serão supridas pela COP. Então resolvemos fazer algo para beneficiá-los”, explica Jean da Silva, um dos fundadores da COP das Baixadas e coordenador da yellow zone do Gueto Hub. “Nós resolvemos não concentrar tudo em um só lugar, então criamos várias zonas. Nossa meta é chegar a pelo menos 12 até a COP.”
As outras duas yellow zones ficam no espaço EcoAmazônias, também no Jurunas, e no Espaço Cultural Ruth Costa, em Águas Lindas. O nome para as zonas surgiu durante uma reunião dos membros da COP das Baixadas. “Como somos todos jovens, pensamos em algo com young ou youth [jovem e juventude, em inglês], e daí surgiu o yellow, que, coincidentemente, era a cor que faltava da bandeira do Brasil.”
Entre as atividades das yellow zones, há cursos, formações e debates. “No Gueto Hub, realizamos eventos de cunho científico, com uma linguagem mais acessível. Já fizemos uma oficina de cartografia social e um debate sobre mudanças climáticas com a engenheira sanitarista e ambiental Waleska Queiroz, que também é da COP das Baixadas”, conta Jean, que participou das três últimas COPs, com a viagem financiada por entidades como o Instituto Clima e Sociedade e a Fundación Avina.
MUSEU DA VILA DA BARCA
As yellow zones também “visam demarcar os territórios com suas potencialidades culturais, turísticas, sociais e econômicas, além de atrair investimentos estruturais e financeiros para as necessidades e demandas das comunidades locais”, segundo texto da COP das Baixadas sobre esses espaços.
Na Barca Literária, instalada em uma casa de madeira sobre palafitas na Vila da Barca, já começou a funcionar um centro de informação turística. “Há pessoas de Belém e também de fora que querem conhecer a nossa comunidade”, diz a educadora e produtora cultural Suane Barreirinhas, coordenadora desta yellow zone.
Na Vila da Barca, as precárias casas sobre palafitas não contam com nenhum sistema de esgotamento sanitário, sendo os dejetos despejados diretamente nas águas da Baía do Guajará, que banha a capital paraense. Uma pequena parte da comunidade ganhou casas de alvenaria, entregues em 2007 e no final do ano passado pela prefeitura.
Em uma área próxima, também sobre palafitas, será construído o centro cultural A Barca – Cultura Amazônica, que fará parte da yellow zone e abrigará um museu, com o objetivo de contar a história e preservar a memória da comunidade.
O espaço terá ainda uma galeria de arte, para promover artistas locais; uma cozinha industrial, para cursos de qualificação profissional para moradores da comunidade; um píer com um café, para contemplação da baía e do seu pôr-do-sol; e uma hospedaria coletiva, com camas e redário.
Para financiar a fase inicial do projeto, foi criada uma campanha de arrecadação de fundos por meio do site Benfeitoria.
CONFERÊNCIA DA JUVENTUDE
Jean conta que, alguns dias antes do início da COP30, o coletivo COP das Baixadas, juntamente com as organizações Águas Resilientes e PerifaConnection, será coanfitrião da 20ª COY (Conference of Youth, ou Conferência da Juventude), organizada pela Youngo, o segmento oficial das crianças e dos adolescentes da UNFCCC, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima.
“A COY reúne ativistas do mundo todo para saber qual é a perspectiva dos jovens em relação às mudanças climáticas. Ela gera um documento oficial para ser lido pelo ponto focal da Youngo, durante as negociações da COP, sobre todos os temas que ela acompanha”, explica.
Jean pretende que as yellow zones sejam utilizadas durante a COY “para aproximar os jovens da periferia do que está acontecendo no planeta com as mudanças climáticas, para que eles talvez se inspirem e se engajem, e para que jovens do mundo todo vejam a realidade dos jovens daqui e o que eles estão fazendo”.
Já durante o período da COP30, de 10 a 21 de novembro, Jean explica que ainda não há um “planejamento fechado” das atividades nas yellow zones. “Como também fazemos parte de um contexto internacional, a gente não quer desmobilizar nenhum tipo de agenda importante. A gente vai tomar cuidado para não pulverizar momentos em que deveríamos estar juntos”, explica.
No entanto, ele afirma que pode haver ações para tratar de temas urgentes que são colocados como secundários pela COP, como racismo ambiental e os direitos dos rios.
Segundo o ativista, as yellow zones, depois da COP30, serão espaços para potencialmente promover soluções de futuro e de adaptação. “São lugares que serão referências nas questões climáticas”, conlcui.