BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – A entrada pesada do presidente Javier Milei na campanha para o Legislativo da cidade de Buenos Aires na última semana rendeu frutos, e o porta-voz da Casa Rosada e candidato do ultraliberal, Manuel Adorni, liderou os votos nas eleições deste domingo (18).

Com 99% das urnas apuradas, Adorni ficou com pouco mais de 30% dos votos, em segundo lugar aparece o deputado nacional peronista Leandro Santoro, com 27,4%. Em um distante terceiro lugar ficou o PRO, agrupamento político do ex-presidente Mauricio Macri, com 15,9%.

Com esses resultados, as listas dos três grupos garantem cadeiras na câmara da cidade. O PRO não diminui de tamanho, mas termina na sua pior eleição em 20 anos. As pesquisas, que acertaram ao mostrar um empate técnico entre Adorni e Santoro.

Com o resultado, o peronismo agora terá 20 cadeiras no parlamento (duas a mais que antes), A Liberdade Avança terá 13 (ganha cinco), o PRO terá dez (ganha três). O grupo do ex-prefeito Horacio Rodríguez Larreta, que rompeu com o PRO, ficará com cinco vagas; a UCR, também terá cinco (perde três); as forças de esquerda têm duas vagas (perdem uma); a Coalização Cívica terá um lugar (perde três); outros grupos têm outras quatro vagas.

Depois de uma campanha intensa entre Milei e Macri, os eleitores de Buenos Aires votaram neste domingo para escolher 30 deputados de 17 frentes eleitorais.

A votação eletrônica teve participação baixa, com pouco mais de 50% dos mais de 2,5 milhões de eleitores comparecendo, apontando para uma das menores participações na história das eleições legislativas da cidade.

O principal objetivo da eleição ia muito além da renovação do Legislativo local, que tem funções equivalentes às dos deputados distritais do Distrito Federal.

O grupo político de Milei, A Liberdade Avança, tentava vencer o PRO, que é a força política de Macri e se impor como a principal corrente de direita no país até as eleições legislativas nacionais, em outubro. Enquanto o peronismo corria por fora, em busca de um eleitorado dividido.

O candidato de Milei ganhou, majoritariamente em bairros do norte de Buenos Aires (mais ricos), enquanto o peronismo recebeu mais votos dos eleitores que moram no sul da cidade. O macrismo, por sua vez, não liderou em nenhuma das 15 comunas em que estão agrupados os 48 bairros da capital.

Quando o prefeito de Buenos Aires e primo do ex-presidente, Jorge Macri, decidiu separar as eleições locais do pleito nacional (que acontece em outubro), a intenção era evitar influências da corrente política de Milei na disputa e tentar manter a capital argentina, governada pelo PRO desde 2007, como um enclave do macrismo.

Enquanto o governo nacional procurou nacionalizar a campanha portenha, utilizando figuras conhecidas para atrair votos em Buenos Aires. No final da disputa, as críticas de Milei se voltaram diretamente a Macri e outros aliados, mostrando a tensão entre os diversos tons da direita argentina.

Macri foi às ruas para promover a candidata do PRO, a deputada nacional Silvia Lospennato, e tentar manter o seu grupo político relevante na direita argentina, em meio à pressão dos libertários pelo domínio do campo.

Há duas semanas, o Senado argentino não conseguiu aprovar por um voto a Lei da Ficha Limpa, que impediria a candidatura de políticos com condenações em duas instâncias (como a ex-presidente Cristina Kirchner).

Lospennato apresentava-se como a candidata do Ficha Limpa, e o macrismo acusou a Casa Rosada de manobrar para que o projeto não passasse no Senado, para evitar que ela ganhasse votos.

A situação ficou mais complicada com a acusação de Macri de fraude por conta de um vídeo falso difundido nas redes por apoiadores de Milei, em que Macri supostamente desistia da candidata do PRO e anunciava seu voto em Adorni.

Milei retaliou as acusações, destacando a fragilidade do grupo de Macri.

A ministra da Segurança Patricia Bullrich -que era do PRO, rompeu com Macri e agora entrou para A Liberdade Avança- apoiou Milei, criticando a suposta falta de caráter de Macri, enquanto o ex-presidente expressou preocupações sobre o uso de inteligência artificial para criar desinformação.

Por volta das 20h30, Milei comemorou a vitória de Adorni, ressaltando que a sua força política conseguiu ganhar da de Macri.

“É importante ter consciência de que hoje é se pintou de violeta [cor de A Liberdade Avança] a fortificação amarela [cor do PRO] e vamos fazer isso em todo o país. Esse triunfo tem responsáveis claros”, disse o presidente. “Isso não teria sido possível sem o [o assessor de Milei] Santiago Caputo e o grande arquiteto, o chefe, Karina Milei [irmã dele e secretária-geral da Presidência]. Mas alguém teria de colocar o rosto”, disse ao chamar Adorni ao palco.

“Não era só uma eleição local, mas uma escolha entre dois modelos, entre a decadência do modelo kirchnerista e a liberdade. Uma vez mais a liberdade ganhou, isso aconteceu em outras províncias e agora duplicamos em Buenos Aires a quantidade de votos que tivemos há dois anos”, disse Adorni.

Santoro, que chegou a liderar as pesquisas até as últimas semanas, disse neste domingo que as urnas mostraram que um ciclo de abandono foi encerrado, que permitiu que demandas históricas dos portenhos ficassem sem resposta.

“O PRO deixou de representar os desejos dos portenhos, a realidade mudou. Enfrentamos outros governos, essas são as regras do jogo. Vamos trabalhar para construir uma cidade inclusiva, se a crueldade está na moda, não contem conosco. Entendemos os princípios que vão orientar nossa política nos próximos anos”, disse o peronista.

Em discurso após a divulgação dos votos, Lospennato reconheceu que os resultados não foram os esperados pelo PRO. “Estamos dispostas a cumprir os mandatos pelos portenhos que nos elegeram. Fizemos uma aposta pela renovação do nosso partido e toda semente precisa de tempo para crescer”, disse a deputada.