BELÉM, PA (FOLHAPRESS) – Pesquisa de boca de urna indicam que o centrista Nicosur Dan, prefeito de Bucareste, superou o ultranacionalista George Simion no segundo turno da eleição presidencial na Romênia, neste domingo (18). O pleito, considerado por analistas o mais importante do país na fase pós-comunismo, tiraria assim o país de uma rota de colisão com União Europeia e Otan. Freiaria ainda a ascensão do bloco pró-Rússia na região, que já conta com Hungria e Eslováquia.
Segundo levantamento divulgado logo após o fechamento das urnas, na noite romena, meio da tarde no Brasil, Dan teria obtido 55% dos votos, contra 45% de Simion. O forte comparecimento, notadamente de eleitores jovens, teria favorecido o candidato independente. O populista, porém, em sua primeira manifestação, declarou que contesta o resultado, alegando que a contagem de seu partido lhe dá 400 mil votos a mais do que o rival.
No primeiro turno, disputado há duas semanas, Dan recebeu 21%, contra 41% de Simion, um ex-hooligan, admirador de Donald Trump e que comanda um partido que tem como plataforma anexar regiões das vizinhas Ucrânia e Moldova.
Acusações de interferência externa e censura governamental marcaram o fim de semana eleitoral, que teve início na sexta-feira (16) em outros países. Um quinto da população romena, de aproximadamente 20 milhões, vive fora do território, diáspora que reflete as severas condições econômicas do país mais pobre da União Europeia.
Simion, que das arquibancadas de futebol ao Parlamento construiu uma imagem de agitador, com um discurso nacionalista e de soluções fáceis, trabalhava justamente essa frustração. Afirmava que iria acabar com a sensação de europeu de segunda classe dos romenos, conhecidos por abastecer o continente com trabalhadores da construção civil e agricultura, motoristas e faxineiros, mas também com profissionais qualificados de TI.
Aliados de Simion afirmam que o candidato foi prejudicado por uma censura generalizada das redes sociais, que teria sido imposta pelo governo romena para evitar nova ingerência russa. As acusações foram corroboradas até por grupos liberais, que registram até conteúdos de eleitores comuns sendo derrubados das plataformas.
Em novembro do ano passado, o ultradireitista Calin Georgescu foi tirado da disputa em controversa decisão judicial, logo após vencer o primeiro turno original da eleição, também anulado. Georgescu, com uma campanha baseada exclusivamente no TikTok, saiu do traço para a liderança nas urnas em questão de dias. Após o resultado, o serviço de inteligência do país disse ter constatado interferência russa, o que baseou a decisão da corte superior.
A Comissão Europeia abriu uma investigação contra a rede social chinesa, mas adotou posição mais prudente sobre o cancelamento do pleito, visto por parte dos eleitores como uma tentativa do establishment de se manter no poder. Simion, que chegou a dizer em uma live no Facebook que os juízes do caso mereciam apanhar, tornou-se o herdeiro natural dos votos de Georgescu, chegando a lhe prometer o cargo de primeiro-ministro.
Simion também classificou a França como um país de “tendências ditatoriais”, alegando que Emmanuel Macron e diplomatas buscaram influir no destino da eleição. Neste domingo, a denúncia ganhou a adesão de Pavel Durov, fundador do Telegram, que declarou em postagem no próprio aplicativo que havia sido contatado para influir no resultado.
“Um governo da Europa Ocidental… entrou em contato com o Telegram, solicitando que silenciássemos vozes conservadoras na Romênia antes das eleições presidenciais de hoje. Recusei categoricamente”, escreveu Durov, que não revelou o país, mas acrescentou à postagem um emoji de baguete.
“Não se pode ‘defender a democracia’ destruindo a democracia. Não se pode ‘combater a interferência eleitoral’ interferindo nas eleições. Ou se tem liberdade de expressão e eleições justas, ou não se tem. E o povo romeno merece ambas as coisas”, afirmou.
O ministério das Relações Exteriores da França declarou no X que as acusações são infundadas. “A França rejeita categoricamente essas alegações e exorta todos a agirem com responsabilidade e respeito pela democracia romena.”
Macron fez gestões públicas na região, assim como diversos setores do empresariado romeno, que percebiam na ascensão de Simion uma degradação ainda maior da economia do país.