SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Filme com Wagner Moura é um suspense, sobre memória e os poderosos do Brasil, que concorre à Palma de Ouro
Dia mais aguardado pelos brasileiros neste Festival de Cannes, o domingo (18) trouxe os tubarões do Recife para a Riviera Francesa com a primeira exibição de “O Agente Secreto”, longa do pernambucano Kleber Mendonça Filho que concorre à Palma de Ouro.
Tubarões literais –uma das cenas envolve arrancar uma perna humana de dentro de um deles– e no sentido figurado, com o protagonista de Wagner Moura sendo cercado lentamente por homens poderosos e violentos, com sede de sangue.
Exibido exatamente na metade do festival, “O Agente Secreto” emerge como um dos fortes concorrentes aos prêmios deste festival, que ainda não havia exibido nenhum consenso, nada especulado como digno de Palma de Ouro por críticos e jornalistas.
Foram enérgicos os aplausos recebidos na sessão de gala da tarde deste domingo, após um tapete vermelho solar, às 15h do horário local, embalado por uma orquestra de frevo, levando o carnaval de Pernambuco a Cannes.
Além do cineasta e de Moura, cruzaram o tapete outros membros do elenco, como Gabriel Leone, Maria Fernanda Candido e Isabel Zuaa, bem como a produtora Emilie Lesclaux, casada com Mendonça Filho.
A ministra da Cultura, Margareth Menezes, também esteve presente na sessão de gala. Antes de embarcar para Cannes, ela havia se reunido com o cineasta em Brasília, ocasião em que lhe desejou sorte. “Estamos na torcida para que ele traga mais um prêmio para nós”, disse ela a este repórter.
Outros presentes no tapete vermelho do filme foram Camila Queiroz, Juan Paiva e Juliana Paes, embaixadores brasileiros da Campari, patrocinadora do festival, em Cannes. Artistas de outros filmes da competição, como o diretor ucraniano Sergey Loznitsa e o ator Alexander Kuznetsov, também prestigiaram.
E, claro, o júri desta edição também viu o filme na sessão de gala. Juliette Binoche, a presidente, foi acompanhada por Jeremy Strong, Halle Berry, Hong Sang-soo, Alba Rohrwacher, entre outros.
Havia grande expectativa para a primeira exibição de “O Agente Secreto”, não só entre os brasileiros. O cineasta, afinal, saiu de Cannes com o prêmio do júri na última vez em que esteve aqui em competição, com “Bacurau”, há seis anos.
Nas conversas entre jornalistas que tiveram acesso ao filme antes da gala, havia quem cravasse como certo que “O Agente Secreto” será laureado com algo, a julgar pelo perfil do filme, do festival e do júri encabeçado pela francesa Juliette Binoche.
Os premiados serão revelados no próximo sábado, porém, e meia seleção oficial ainda separa o brasileiro da cerimônia.
“O Agente Secreto” narra a história de um professor universitário que foge de São Paulo após um desentendimento com um empresário. Ele volta ao Recife natal, onde seu filho mora com os avós, mas precisa adotar um nome falso e viver escondido para a sua segurança.
Ambientada em 1977, a trama tem como pano de fundo a ditadura militar, embora não haja menção direta a ela. Sua presença está principalmente nos retratos de Ernesto Geisel que vigiam todos os locais públicos por onde o protagonista passa.
Sua truculência e corrupção, porém, contaminam todas as estruturas de poder presentes no filme, como se o caso de perseguição vivido por Moura fosse consequência direta do clima que castigava o país.
“O Agente Secreto” também é mais um filme nacional recente a falar da importância das lembranças e de registros históricos, após “Ainda Estou Aqui” e “A Vida Invisível”. É como se o cinema brasileiro trabalhasse pela reconstrução de uma memória coletiva.