ROMA E MILÃO, ITÁLIA (FOLHAPRESS) – Dez dias após ser eleito, Leão 14 celebra neste domingo (18), na praça São Pedro, a missa que marca oficialmente o início de seu papado. Cerca de 250 mil fiéis são esperados para a cerimônia, além das delegações de 144 países e de diversas organizações internacionais. A dimensão se assemelha ao funeral de Francisco, o antecessor que deixa ao novo pontífice uma série de desafios na condução da Igreja.
Os representantes dos dois países cujas nacionalidades o papa detém Estados Unidos e Peru terão posição de destaque na cerimônia. Os peruanos estarão representados pela presidente, Dina Boluarte, e a Casa Branca enviou seu vice, J. D. Vance, e o secretário de Estado, Marco Rubio.A imprensa italiana especulou uma reunião bilateral entre Leão 14 e Vance, o que não foi confirmado até a noite deste sábado (17). A chegada da comitiva dos EUA parou o trânsito nas ruas do centro de Roma. Um forte esquema de segurança acompanhou o comboio de 15 veículos.
Outra presença destacada é a do presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, que já estivera no funeral de Francisco. Naquela ocasião, encontrou-se com o presidente dos EUA, Donald Trump.
Pelo Brasil, o representante desta vez será o vice-presidente, Geraldo Alckmin.
Um dos momentos mais aguardados da missa deste domingo é a homilia. O discurso de Leão 14 pode ser um sinal de como vai lidar com a herança de Francisco. Alguns dos temas que o pontífice terá de enfrentar estão listados a seguir.
Número de fiéis
Há 1,4 bilhão de católicos no mundo, mas a dinâmica de crescimento é desigual. Enquanto o número avança bastante na África, com alta de 3,3% de 2022 para 2023, na Europa a situação é preocupante, com crescimento de apenas 0,2% no período. Na Alemanha, o país europeu mais populoso, o quadro é dramático: 320 mil deixaram a Igreja em 2024, segundo a conferência de bispos.
Padres e religiosas
A quantidade de sacerdotes, seminaristas e religiosas exige atenção. O ano de 2023 fechou com 734 padres a menos em todo o mundo, queda de 0,2% em um ano entre os continentes, houve alta na África e na Ásia e queda na Europa e nas Américas. Entre seminaristas, queda global de 1,8%. O número de religiosas professas, como freiras, caiu 1,6%.
Igreja unida
Entre alas do clero, o papado de Francisco acumulou críticas. Não só devido a temas divisivos, como a bênção a casais homossexuais, mas também por um modo de governar considerado solitário. Nos EUA, conservadores apontaram o risco de cisma por causa do sínodo finalizado em 2024. Americano, Leão 14 terá de construir pontes, a começar dentro da própria casa.
Nos EUA
O desafio do papa americano é esfriar os ânimos entre o governo Donald Trump e o Vaticano. Em janeiro, Francisco chamou de “desgraça” o plano de combate à imigração, e o próprio Leão 14, antes de virar papa, criticou o vice J. D. Vance por questões religiosas. Nessa tarefa, terá que lidar com a expectativa da oposição, que espera o reforço do papa na frente anti-Trump.
Diplomacia da paz
O novo papa deixa claro que essa é uma prioridade, mas seu desafio é encontrar o tom certo no pós-Francisco. O argentino foi acusado de nem sempre tratar a Rússia como agressora, forçando uma equidistância entre Moscou e Kiev. Francisco também se referiu ao conflito em Gaza como genocídio e viu deteriorar as relações da Santa Sé com o mundo judaico.
Na China
As relações entre o país asiático e o Vaticano melhoraram desde 2018, graças ao acordo sobre a nomeação de bispos. O acerto, cujo teor não é conhecido totalmente, é criticado por parte do clero, que vê excessivo poder concedido ao regime chinês.
Finanças e administração
Apesar de esforços de Francisco de cortar gastos, as contas do Vaticano estão no vermelho. Em 2023, ano dos relatórios mais atualizados, a Cúria fechou com déficit operacional de 83 milhões (R$ 524 milhões). Na Previdência, o rombo é de 600 milhões (R$ 3,7 bilhões). Iniciada por Francisco, a reforma do braço administrativo da Santa Sé é outro desafio para Leão 14, sob risco de resistência interna.
Progressistas
Com Francisco, houve mais abertura para a comunhão dos divorciados, a bênção de casais homossexuais e a nomeação de mulheres em cargos de governança do Vaticano. Progressistas esperavam mais, como o sinal verde para o diaconato feminino. Agora, devem observar os passos de Leão 14 nesses temas.
Ação contra abusos
A pressão para agir contra abusos sexuais do clero será ainda maior. A comunidade católica dos EUA é bastante sensível ao tema, com associações de vítimas ativas e vigilância de doadores a instituições de caridade. Francisco tentou implementar política de tolerância zero e mecanismos para denúncias, mas não solucionou o problema.