BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – Um candidato antissistema vencerá o segundo turno da eleição presidencial na Romênia neste domingo (18). Resta apenas saber se será um ex-hooligan, admirador de Donald Trump e que pleiteia fatias de terra das vizinhas Moldova e Ucrânia ou o prefeito de Bucareste, um matemático formado na Sorbonne, ex-ativista contra especulação imobiliária e sem partido.

George Simion, 38, liderou o primeiro turno com 41% dos votos. Alinha-se à ultradireita europeia, defende valores cristãos, domina as redes sociais, tira fotos com Giorgia Meloni e, na última quinta-feira (15), chamou o adversário de autista, apenas o último de seus muitos excessos verbais. Era o favorito, até as últimas pesquisas.

Nicosur Dan, 55, obteve 21% no primeiro turno, um ponto percentual a mais do que o candidato governista Crin Antonescu. É declaradamente pró-Europa e pró-Otan, posições compartilhadas com milhares de romenos que saíram às ruas do país no último fim de semana. Comparece aos debates da TV que o adversário falta. Segundo observadores, tem chance de vencer se o comparecimento às urnas for alto.

A eleição romena não foge do roteiro básico do populismo europeu, que assombra o continente e conta com a propalada interferência subterrânea russa –fator que levou à decisão da Justiça de anular o pleito inicial, no ano passado– e o recente engajamento americano. Após a morte por fuzilamento do ditador Nicolae Ceausescu (1989), mais de três décadas de democracia não conseguiram depurar a corrupção sistêmica do país nem o maior déficit orçamentário do bloco europeu.

Em uma campanha quase toda travada pelos meios de comunicação e redes sociais, Simion trabalha justamente essa frustração. Diz que vai acabar com a sensação de europeu de segunda classe dos romenos, conhecidos pela diáspora que abastece o continente com trabalhadores da construção civil e de colheitas, motoristas e faxineiros. Não à toa o populista recebeu 61% dos votos registrados no exterior –970 mil dos cerca de 4 milhões que vivem fora do país, um quinto da população.

Depois da vitória no primeiro turno, Simion moderou o discurso em relação à Rússia. O pragmatismo se explica pelos 90% de apoio local à União Europeia e talvez pelo destino do ultradireitista Calin Georgescu, que foi tirado da disputa por controversa decisão judicial, em novembro passado, logo após vencer o primeiro turno original, depois cancelado.

Georgescu, que fez uma campanha baseada exclusivamente no TikTok, saiu do traço para a liderança nas urnas em questão de dias. Após o resultado, o serviço de inteligência do país disse ter constatado interferência russa, o que baseou a decisão da corte superior. A Comissão Europeia abriu uma investigação contra a rede social chinesa, mas adotou posição mais prudente sobre o cancelamento do pleito, visto por parte dos eleitores como uma tentativa do establishment de se manter no poder.

Simion, que chegou a dizer em uma live no Facebook que os juízes do caso mereciam apanhar, tornou-se o herdeiro natural dos votos de Georgescu, chegando a lhe prometer o cargo de primeiro-ministro. O nacionalista também classificou a França como um país de “tendências ditatoriais”, alegando que Emmanuel Macron e diplomatas buscam influir no destino da eleição.

Do outro lado, observadores reclamam das medidas impostas pelo governo para coibir uma nova ingerência russa. Grupos liberais afirmam que até conteúdos de eleitores comuns estão sendo derrubados das redes sociais. Simion seria o principal prejudicado.

No sistema político romeno, o presidente comanda as relações exteriores e a segurança, o que faz o fim de semana do país ser acompanhado de perto pelas autoridades europeias e pelos delegados da Otan, a aliança militar do ocidente. A Romênia tem papel estratégico na defesa do continente, pois abriga um sistema antimísseis e é corredor de escoamento da produção agrícola da Ucrânia.

Ainda que tenha assegurado a permanência do país na Otan nos últimos dias, sua relação com Kiev é complicada pelo histórico expansionista, razão de ser de seu partido. A Aliança para Unificação da Romênia defende a volta das fronteiras do país aos anos 1940, um avanço em territórios vizinhos. Simion é persona non grata na Ucrânia e na Moldova.

Bruxelas avalia também como seria o futuro da região com um terceiro país-membro do bloco inclinado para Vladimir Putin, além da Eslováquia de Robert Fico e da Hungria de Viktor Orbán. “Bucareste não é Budapeste”, gritaram os manifestantes no último sábado.

Reformista, Nicosur Dan seria um nome bem mais palatável para o continente. Os últimos levantamentos mostram situação de empate. Observadores calculam que, se o comparecimento superar os 60%, depois dos 55% registrados no primeiro turno, suas chances crescem. “A Romênia não pode se dar ao luxo de aventuras neste momento”, declarou o prefeito na última semana.

Neste momento, a Romênia está em estado de quase paralisia, sem presidente eleito, que deixou o cargo em fevereiro, e sem primeiro-ministro, que renunciou logo após o primeiro turno.