SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Israel e e o grupo terrorista Hamas retomaram as negociações de cessar-fogo neste sábado (17) no Qatar, em meio à escalada da ofensiva israelense que matou ao menos 146 palestinos e feriu 459 nas últimas 72 horas, de acordo com os palestinos.
Após uma onda de bombardeios, centenas de feridos estavam sendo atendidos em hospitais, e inúmeros ainda estavam soterrados sob escombros, segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas.
O Exército israelense confirmou neste sábado (17) que conduz bombardeios e mobiliza tropas como parte dos preparativos para obter controle sobre Gaza. Israel bloqueou a entrada de todos os alimentos, água e ajuda humanitária em Gaza desde o início de março, levando a uma crescente preocupação internacional sobre a situação dos 2,3 milhões de moradores do território.
Taher Al-Nono, assessor da liderança do Hamas, disse à agência Reuters que uma nova rodada de conversas indiretas com a delegação israelense em Doha começou neste sábado (17), discutindo todas as questões “sem precondições”.
“A delegação do Hamas delineou a posição do grupo e a necessidade de encerrar a guerra, trocar prisioneiros, iniciar a retirada israelense de Gaza e permitir a entrada de ajuda humanitária e todas as necessidades do povo de Gaza”, declarou.
O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, também disse, em um comunicado, que as negociações de um acordo para libertar reféns israelenses mantidos pelo Hamas foram retomadas em Doha. Ele apontou que as conversas começaram sem que Tel Aviv primeiro concordasse com um cessar-fogo ou com o levantamento de seu bloqueio.
A ofensiva orquestrada por Israel desde quinta-feira (15) é uma das fases mais mortais de ataques desde o fim de um período de trégua, em março. Os últimos bombardeios ocorreram quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, encerrou sua passagem pelo Oriente Médio na sexta-feira (16), sem ter visitado Israel e sem progredir em acordos para diminuir a instabilidade na região.
“Desde a meia-noite, recebemos 58 mortos, enquanto um grande número de vítimas permanece sob os escombros. A situação dentro do hospital é catastrófica”, disse o diretor do Hospital Indonésio no norte de Gaza, Marwan Al-Sultan, à agência Reuters.
As autoridades de saúde de Gaza disseram que a maioria dos mortos no sábado 917) estava em cidades na borda norte do enclave, incluindo Beit Lahiya e o campo de refugiados de Jabalia, bem como na cidade sulista de Khan Younis.
“O norte de Gaza está passando por uma campanha sistemática de extermínio”, disse o Hamas em um comunicado, pedindo aos líderes árabes reunidos em uma cúpula em Bagdá para tomarem medidas práticas para deter a agressão e garantir a entrega de ajuda.
O sistema de saúde de Gaza está praticamente inoperante, com hospitais atingidos repetidamente pelo Exército israelense durante os 19 meses de guerra e suprimentos médicos se esgotando. Tel Aviv impõe o bloqueio de ajuda humanitária sob a justificativa de pressionar o Hamas a libertar os reféns ainda em seu poder.
A escalada do conflito, que inclui a concentração de forças blindadas ao longo da fronteira, faz parte das etapas iniciais da operação Carruagens de Gideon, que prevê a tomada completa do território de Gaza, a remoção forçada da população palestina -plano que críticos veem como possível limpeza étnica- e a rendição do Hamas.
Na cúpula da Liga Árabe, o presidente do Egito, Abdel-Fatah al-Sisi, cujo país medeia as negociações de paz em Gaza ao lado do Catar, disse que as ações de Israel visavam “obliterar e aniquilar” os palestinos e “acabar com sua existência na Faixa de Gaza”.
Especialistas da ONU alertam que a fome se tornou ainda mais ameaçadora em Gaza depois que Israel bloqueou entregas de ajuda há 76 dias. O subsecretário-geral para Assuntos Humanitários, Tom Fletcher, questionou nesta semana o Conselho de Segurança sobre como agiria para “prevenir o genocídio”.
Israel culpa o Hamas pelo sofrimento dos civis por operar entre eles e sequestrar ajuda humanitária, o que o Hamas nega. Israel diz que comida suficiente chegou a Gaza durante o cessar-fogo de seis semanas no início do ano para afastar o risco de fome por enquanto.
Na sexta-feira (16), Trump reconheceu que a população de Gaza vive um contexto de fome extrema e que há necessidade de entrega de ajuda, à medida que cresce a pressão internacional sobre Israel para retomar as negociações de cessar-fogo e encerrar o bloqueio.
Uma fundação apoiada pelos EUA pretende começar a distribuir ajuda aos habitantes de Gaza até o final de maio usando empresas privadas de segurança e logística dos EUA. A ONU disse que não trabalhará com o grupo porque ele não é imparcial, neutro ou independente.