BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – As presenças de um dos principais rostos do governo de Javier Milei, de uma promessa do combalido campo peronista e de um ex-prefeito que queria ser presidente fez com que uma eleição local entrasse no radar dos argentinos.
As eleições legislativas da cidade de Buenos Aires, que acontecerão no próximo domingo (18) ganharam peso nacional, quando Milei convocou seu porta-voz, Manuel Adorni, para ser candidato, e sua irmã, Karina para comandar a campanha e tentar fazer com que o seu grupo político, Liberdade Avança, imponha-se como a principal força de direita do país.
Apesar de ser uma disputa para cargos com peso menor, o ultraliberal a transformou em uma medição de forças com o ex-presidente Mauricio Macri, cujo grupo político (PRO) governa a cidade desde 2007 e a considera uma fortaleza do macrismo. Em 2023, o primo de Mauricio, Jorge Macri, foi eleito prefeito.
Milei chegou a cancelar a viagem que faria a Roma, à missa que dá início formal ao pontificado do papa Leão 14, para dar apoio a Adorni em sua campanha.
A Cidade Autônoma de Buenos Aires tem status de província e elege políticos de forma distinta da Província de Buenos Aires, governada pelo peronista Axel Kicillof e que renovará o Legislativo local em setembro. Neste fim de semana, 30 das 60 vagas de deputados da capital argentina serão renovadas.
Os legisladores portenhos têm atribuições semelhantes às dos deputados distritais de Brasília, e os cerca de 2,5 milhões de eleitores da cidade terão de vencer um intrincado sistema de votação, que combina uma urna digital com cédulas impressas e que já causou falhas há dois anos.
As pesquisas há algumas semanas davam vantagem ao candidato Leandro Santoro, que ficou em segundo lugar na disputa pelo governo de Buenos Aires em 2023 e é considerado uma das promessas de renovação para os peronistas. Agora, com a entrada da Casa Rosada na disputa, parte dos institutos registra empate técnico entre Adorni e Santoro.
Em 2023, quando Milei precisava disputar o segundo turno com o ministro da Economia à época, Sergio Massa, o apoio de Macri foi crucial para o sucesso do agora presidente. Há dois anos, a candidata do PRO era Patricia Bullrich, que viria a se tornar ministra de Segurança de Milei, romper com Macri e entrar para o Liberdade Avança.
O PRO terminou 2023 rachado, com o então prefeito de Buenos Aires e pré-candidato à Presidência, Horacio Rodríguez Larreta, dizendo-se traído por Macri. Após perder a disputa interna para Bullrich, Larreta tenta agora uma cadeira no Legislativo portenho.
Entre outras desavenças, Macri e Milei discordam sobre a indicação de novos juízes para o Supremo e o ex-presidente acusa o atual de manobrar para a não aprovação da lei da Ficha Limpa no Senado.
A versão argentina da Ficha Limpa não foi aprovada por um voto, e os macristas dizem que a Casa Rosada interveio nos bastidores apenas para que a candidata do macrismo em Buenos Aires, Silvia Lospennato, uma das principais defensoras do projeto que impediria a candidatura de políticos condenados em segunda instância, não colhesse os frutos da aprovação do projeto.
“Eu sei com toda certeza que a interna de 2023 foi muito prejudicial, os dois candidatos [Bullrich e Larreta] se deixaram corromper pelo ego, mas ambos não estão mais aqui. Fora, energia ruim, fora más vibrações”, disse Macri no ato de encerramento da campanha de Lospennato.
Caso o grupo de Milei vença na capital, isso terá um grande impacto simbólico, e o Liberdade Avança ganha fôlego para as eleições legislativas nacionais, em outubro.
O presidente precisa expandir a presença de seu partido no Congresso, para reduzir a dependência que tem atualmente de outras forças políticas, como a de Macri.
Em um comício em que encerrou a campanha de Adorni, Milei desqualificou os membros do PRO afirmando que estão lutando, no máximo, pelo quarto lugar. “Ainda temos muito a fazer para tirar um terço dos argentinos da pobreza, uma infinidade de reformas estruturais. Mas do outro lado estão os ogros que querem destruir esse esforço, e não vamos deixá-los, vamos reafirmar a mudança nas urnas”, disse.