SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Dados da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) mostram que nos últimos nove anos o consumo de tadalafila aumentou em quase 2.000% no Brasil. Em 2015, foi registrada a venda de 3.248.316 unidades do medicamento e, em 2024, 64.725.760.
O aumento expressivo pode ser relacionado com a popularidade que o fármaco ganhou nas redes sociais para além da melhora da performance sexual, mas ainda, como um estimulante para exercícios físicos.
Presidente da SBU (Sociedade Brasileira de Urologia), Luiz Otávio Torres explica que, assim como o sildenafila (popularmente conhecido como Viagra), o tadalafila se popularizou como uma alternativa aos homens com disfunção erétil, mas ambos os medicamentos podem ser utilizados para outras finalidades, como para tratar hipertensão pulmonar grave. “E para todas essas indicações existem estudos que comprovam eficácia e segurança dos medicamentos”, completa.
O tadalafila, no entanto, recentemente se popularizou para outras finalidades, como um “pré-treino” que auxiliaria na melhora da atividade física, ganhando até versões em balinhas chamadas gummies -proibidas na última quarta-feira (14) pela Anvisa.
De acordo com Torres, não existe nada científico que comprove essa tese de que tadalafila pode ser benéfico para o desempenho em atividades físicas. Além disso, é importante a proibição de produtos como o “metbala” porque não passam pela fiscalização farmacológica adequada, então não é possível atestar a quantidade de princípio ativo presente.
A indicação máxima diária de tadalafila é de 20 miligramas por dia. Torres alerta que, assim como acontece com o Viagra, o consumo excessivo do medicamento pode ser associado a um maior risco de problemas cardiovasculares.
“Assim como aconteceu com a sildenafila, criou-se um uso indiscriminado e, muitas vezes, sem necessidade. Em parte das vezes são homens com ereção normal, mas que querem aumentar a performance sexual e isso trás riscos”, afirma Torres, acrescentando que o medicamento ainda pode causar a falsa sensação de melhora para performances em atividades físicas.
Preço baixo, venda sem a necessidade de prescrição médica e divulgação em redes sociais são alguns dos fatores que ajudam a popularizar o medicamento para uso indevido, segundo Torres, que recomenda a indicação médica para pacientes que pensam em fazer uso do fármaco.
Quando o sildenafila se popularizou, em meados dos anos 2000, segundo ele, também existia a ideia de que o medicamento era uma boa opção para quem praticava fisiculturismo e queria aumento muscular. “Na época, a SBU emitiu um comunicado informando que não existia estudo científico que comprovasse isso. E o mesmo permanece para tadalafila”, diz o urologista.
Apesar de serem medicamentos da mesma família e com indicações semelhantes, tadalafila e sildenafila não podem ser tomados juntos por risco de queda da pressão. Já a principal diferença entre os dois medicamentos, segundo ele, é na duração do efeito -o Viagra tende a ser consumido com mais frequência porque tem uma duração menor na corrente sanguínea enquanto o tadalafila pode durar por até um dia.
Dor de cabeça, nariz entupido, rosto avermelhado e dor muscular são alguns dos sintomas considerados leves que podem ser causados por ambos os medicamentos, de acordo com Torres. Pacientes que fazem uso de remédios à base de nitratos, como os fármacos para o coração, devem evitar o uso.