CANNES, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Uma das maiores e mais aguardadas estrelas do Festival de Cannes deste ano, ironicamente, não trabalha com cinema. De tão cinematográfica, porém, sua vida foi parar nas telas do festival, em “Bono: Histórias de Surrender”.

O vocalista do U2 cruzou o tapete vermelho do festival nesta sexta-feira como protagonista e produtor da mistura de filme-concerto, stand-up e documentário que é o filme de Andrew Dominik, exibido em caráter especial.

Vestidos de preto, a partir da esquerda, os músicos The Edge e Bono e o ator Sean Penn, ao lado de soldados ucranianos, no Festival de Cannes Bertrand Guay AFP Um grupo de pessoas posando em um evento, com um fundo de escadas vermelhas. Nele, Bono narra sua história de vida ao público de um dos shows da turnê “Stories of Surrender: An Evening of Words, Music and Some Mischief…”, em Nova York, costurando a narrativa às canções mais famosas da banda irlandesa, que não tocou ao seu lado neste projeto.

Um dos temas que mais recebem atenção no documentário -e ao longo da vida pública de Bono- são as causas humanitárias apoiadas pelo músico, que os retomou em conversa com um grupo de jornalistas, recebidos em seu hotel no começo da semana.

Ativista de inúmeras causas, o irlandês falou sobre o programa emergencial Pepfar, do governo de George W. Bush, enquanto respondia às perguntas. Disse reconhecer que sua aliança com o republicano no início dos anos 2000, fazendo campanha para viabilizar a iniciativa, pode parecer equivocada, mas que ajudou a salvar 26 milhões de portadores do vírus HIV na África, especialmente crianças.

“Mas agora vem um imperador para cortar esse apoio, sem aviso prévio”, disse sobre o corte de financiamento ao programa, por parte de Elon Musk e seu Departamento de Eficiência Governamental, recém-criado por Donald Trump.

“Um africano branco e rico é o responsável pelo fato de os africanos pretos e pobres não estarem mais recebendo seus remédios retrovirais. Eu digo que é um tipo de apartheid retornando”, afirmou ainda, chamando o sul-africano de viajante espacial, em referência à empresa SpaceX.

Bono, que é cristão e sempre teve uma relação próxima com a religião, também falou sobre o momento de incertezas pelo qual passa a Igreja Católica. Diz estar esperançoso com o novo papa, Leão 14, mas que ele terá muitos problemas para enfrentar.

“Eu não sei se ele vai querer me conhecer, mas o papa Francisco foi tolo o suficiente para passar um tempo comigo. Tenho ótimas memórias, ficamos juntos quase uma hora. Ele foi um homem realmente extraordinário, e eu fiz todas as perguntas difíceis a ele”, diz sobre o encontro com o pontífice morto no mês passado.

“Nós nunca precisamos tanto da Igreja como agora, mas a Igreja deve lidar com os seus problemas. Se este papa [Leão 14] estiver pronto para fazer isso, e eu acredito que ele está, então as pessoas voltarão. Mas essas questões são pertinentes a qualquer fé.

Dizem, e isso é algo engraçado, que a escuridão cerca a luz.”Depois de algumas poucas sessões concorridas em Cannes, “Bono: Histórias de Surrender” estreia no Apple TV+, incluindo no Brasil, já no dia 30 deste mês.