SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Por algum motivo estranho, eu realmente só comecei a envelhecer aos 90 anos”, avalia Warren Buffett, 94, o legendário investidor por trás da Berkshire Hathaway.

“Não houve um momento mágico”, disse em entrevista ao jornal The Wall Street Journal. “Mas, quando o envelhecimento começa, ele é irreversível.”

O bilionário afirma que passou a perder equilíbrio, esquecer nomes e sentir dificuldade para ler. No último mês, ele anunciou que deixará o cargo de CEO. Seu sucessor será Greg Abel, 62, atual vice-presidente da holding. A decisão, segundo ele, foi tomada de forma gradual.

Buffett permanecerá como presidente do conselho da Berkshire e manterá sua rotina de trabalho. “Minha saúde está boa. Trabalho com pessoas de quem gosto. E elas gostam de mim também.”

Ele afirma que continuará atuando como conselheiro da empresa e que ainda pode contribuir em momentos de turbulência. “Se houver pânico, ainda posso tomar decisões. Não fico com medo quando os preços caem. E isso não depende da idade.”

A transição formal para o comando de Abel será concluída em dezembro. Buffett, no entanto, continuará presente. “Não vou ficar em casa vendo novela”, disse, rindo. “Meus interesses continuam os mesmos.”

Buffett comanda a Berkshire desde 1965. Assumiu o controle de uma fabricante de tecidos em dificuldades e transformou a empresa em um dos maiores conglomerados dos Estados Unidos, com quase 400 mil funcionários.

A holding é dona da seguradora Geico, da ferroviária BNSF e da fabricante de baterias Duracell. Também controla fatias significativas de empresas como Apple, Coca-Cola, American Express e Bank of America.

A sucessão já vinha sendo preparada desde 2021, quando Abel foi oficialmente anunciado como herdeiro do cargo. Canadense, ele entrou na Berkshire em 1999 com a aquisição da MidAmerican Energy, e desde então subiu na hierarquia com foco em eficiência operacional e crescimento do setor de energia. Em 2018, foi promovido a vice-presidente e passou a comandar todas as áreas da empresa fora do setor de seguros.

Buffett destacou a capacidade de gestão e a disciplina de Abel. “Ele era mais eficaz em executar tarefas, fazer mudanças na gestão, ajudar onde fosse necessário. O nível de energia dele era muito maior que o meu. Era injusto não o colocar no cargo”, disse.

Segundo o investidor, Abel também tem perfil de alocador de capital. “Ele terá ideias sobre onde o dinheiro deve ser aplicado.”

A troca de comando ocorre em um momento em que a Berkshire acumula US$ 189 bilhões em caixa e títulos do Tesouro dos EUA, segundo o balanço divulgado em maio. Analistas observam com atenção o destino dessa liquidez, já que a empresa não realiza grandes aquisições desde a compra da Alleghany, em 2022.

A influência de Buffett no mercado é tamanha que suas decisões de investimento muitas vezes provocam reações imediatas em Wall Street. Ele é considerado um dos maiores investidores da história, conhecido por sua estratégia de longo prazo e preferência por empresas sólidas, com marcas fortes e boa geração de caixa.