SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Vera Fischer, Lindsay Lohan, Paris Hilton, Britney Spears, Lana del Rey e Madonna. As referências às divas pop numa das músicas do primeiro disco da banda Vera Fischer Era Clubber indicam os universos estético e festivo no qual o quarteto de Niterói habita.

Nova sensação das noites mais descoladas de São Paulo e do Rio de Janeiro, a banda acaba de lançar o álbum “Veras I” -Veras é como as integrantes se chamam carinhosamente-, trabalho que recupera o glamour e a decadência dos inferninhos da noite eletrônica, com uma sonoridade feita para abraçar quem vira a madrugada na balada.

As faixas do disco, compostas com beats de sintetizador, teclado, baixo e vocal, lembram as do No Porn, dupla paulistana que fez sucesso entre os fashionistas e clubbers na década de 2000. Não é exagero dizer que Vera Fischer Era Clubber olha com carinho para Liana Padilha, a vocalista do No Porn, morta no ano passado. “Liana ensina a noite como poesia”, diz a vocalista Crystal Duarte, numa conversa por vídeo.

As Veras também têm em alta conta o Cansei de Ser Sexy, o CSS, outra banda muito querida da cena independente da virada de século que cantava sobre a ferveção da noite em músicas electropunk. Malu, a baixista, conta que Lovefoxxx, vocalista do CSS e hoje pintora, é uma referência sua desde a infância.

Mas enquanto o CSS era mais colorido e alto-astral, com letras divertidas, as Veras são mais ácidas, debochadas e algo melancólicas, encarando a noite a um só tempo como uma salvação e um vício. Duarte, a vocalista, não canta –ela fala as letras como quem conta a sua história de vida ou causos interessantes que presenciou.

“Uma menina chamada Ina/ E sua amiga Coca/ Ina curtia cigarros e bebidas alcoólicas/ Coca um bom livro e almoçar pipoca/ Uma menina chamada Ina/ E sua amiga coca/ Ina era sua preferida/ Ela só confiava em Coca”, diz na música que narra a relação de duas garotas, como um “Eduardo e Monica”, do Legião Urbana, às avessas.

As integrantes da banda, com idade entre 27 e 30 anos, se conheceram no fervo eletrônico das ruas do centro do Rio de Janeiro, por volta de 2015. Foi um período em que passou a ser legal ocupar o espaço público em festas de graça, não mais frequentar as baladas elitizadas da zona sul.

Dali, seguiram-se sessões de improvisação na casa de Pek0 -que faz os beats- e, mais tarde, shows também improvisados num espaço cultural de Niterói, momento em que as pessoas curtiram a banda e começaram a pedir mais apresentações. O que era só diversão tomou forma e nasceram as músicas do disco, lançado agora pelo novo selo Palatável Records.

“A gente não mirava em nada, mas é muito apegada às nossas referências, se apega demais às coisas que a gente gosta esteticamente”, diz Duarte, a vocalista, ao comentar como a banda, com apenas dois anos de vida, chegou à sua identidade sonora. Ao vivo, ela performa enquanto canta, mas diz que isto não é ensaiado. “Fico inebriada no momento. Só vou, só vou com tudo.”

As Veras surgem num contexto de renovação de grupos brasileiros que fazem música eletrônica, seja de pista ou não. Em São Paulo Adriano Cintra e Clara Lima lançaram há pouco sua nova banda, Superafim, que faz um som lascivo e dançante, na mesma pegada do Cansei de Ser Sexy. Já os Jovens Ateus, de Maringá, vêm se destacando pela sua sonoridade mais sombria, que lembra o pós-punk do New Order.

O nome Vera Fischer Era Clubber surgiu inadvertidamente a partir de uma história de uma parente de Pek0. Ela conta que uma tia sua frequentava a boate Hippopotamus, em Ipanema, reduto dos famosos na noite carioca dos anos 1970 e 1980, e que numa das festas dançou com a atriz da Globo. “Isso é um bafo, isso é incrível”, diz Pek0, aos risos. “E aí cheguei à conclusão de que Vera Fischer era clubber.”

Para a vocalista, há certo preconceito com a noite, como se a balada fosse do mal, vazia. Contudo, ela argumenta que as festas são também lugares de acolhimento, prazer e conexões verdadeiras. “Quem disse que diversão não é importante? A gente está falando de você explorar o seu desejo agora. O clube é o lugar metafórico que simboliza isso.”

VERAS I

Onde Disponível nas plataformas digitais

Autoria Vera Fischer Era Clubber

Gravadora Palatável Records

SHOW VERA FISCHER ERA CLUBBER

Quando 17 de maio, sábado, às 15h

Onde Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica – r. Luís de Camões, Praça Tiradentes, 68, Rio de Janeiro

Preço Grátis