RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – Após o afastamento de Ednaldo Rodrigues, o tabuleiro eleitoral da CBF tem muitas peças. Mas ainda não muito organizadas.

O cenário no dia seguinte à queda do presidente ainda não está claro, apesar de movimentos já feitos por um bloco significativo das federações estaduais.

De todo modo, mesmo cabendo a Fernando Sarney, nomeado pela Justiça como interventor, apertar o “play” no processo eleitoral, as federações já se anteciparam e abriram um debate sobre a sucessão a Ednaldo.

O sinal é claro. Elas não esperam que o Supremo Tribunal Federal (STF) devolva Ednaldo ao cargo novamente. E olha que o recuso do presidente afastado está novamente nas mãos de Gilmar Mendes, que já salvou Ednaldo em janeiro de 2024.

Há forças políticas que atuam de forma explícita. Outras, de maneira velada. Donos de sobrenomes famosos, como Sarney, aguardam a movimentação.

QUEM VAI PARA CADA LADO?

Para as federações, é importante não perder o controle dos caminhos eleitorais na CBF. Por isso, 19 delas já se juntaram.

O Rio de Janeiro, do presidente Rubens Lopes, um dos vices atuais de Ednaldo, entrou nessa. São Paulo, de Reinaldo Carneiro Bastos, que também era VP, não.

Pensando no novo mandato para o qual Ednaldo já tinha sido eleito, dois VPs na chapa já se desgarraram do presidente afastado: Rozenha (AM) e Rubens Angelotti (SC).

O discurso de quem entrou no bloco é de que é preciso abandonar o perfil de centralização das decisões na CBF. Um recado claro ao modo como Ednaldo conduzia a entidade até nesta quinta-feira (15).

Os dirigentes estaduais também não gostaram do texto da reforma estatutária aprovada por eles mesmos. Alegam que não tiveram acesso a tempo da versão final do estatuto da CBF, que deu mais poder à figura do presidente. Inclusive, para intervir nas próprias federações.

Na matemática eleitoral, 19 federações representam 57 dos 141 votos possíveis em uma eleição presidencial na CBF. É uma fatia significativa. Ainda ficam 84 em jogo.

A formação desse bloco não antecipa o resultado final porque ainda permite que até outros dois candidatos consigam apoios necessários para pelo menos participar da eleição.

A cláusula de barreira prevista no estatuto exige quatro federações e quatro clubes como apoio mínimo. No entanto, essa divisão geraria um enfraquecimento da candidatura que vier fora do bloco das 19.

Ainda não há um nome que seja consenso entre as federações. Nas últimas semanas, estavam todas na contagem regressiva para a queda de Ednaldo e não necessariamente focadas na decisão de quem seria um eventual candidato.

Na outra vez que Ednaldo foi afastado e quase aconteceu eleição, as federações se dividiram em três blocos de apoio: um ao próprio Ednaldo, outro a Reinaldo Carneiro Bastos e mais um a Flavio Zveiter.

O bloco de Ednaldo, desta vez, derreteu. Reinaldo ainda não se mobilizou e, nos bastidores, há federações com ressalvas. Zveiter se aproximou a Sarney.

E OS CLUBES?

Os clubes aguardam o STF. Não têm tanta confiança quanto as federações de que já seja a hora de fazer movimentos explícitos de abandono a Ednaldo ou definição de apoios para o futuro próximo.

Leila Pereira, presidente do Palmeiras, acompanhou Ednaldo no Congresso da Fifa, no Paraguai, e até o último instante defendia pacificação para permitir ao cartola uma gestão mais tranquila. Nem parece que Ednaldo foi eleito por unanimidade em março deste ano para o mandato de 2026 a 2030.

“Gente, desde que o presidente Ednaldo se tornou presidente da CBF, não se dá tranquilidade para ele trabalhar. Tem que se ouvir clubes e federações. O que eles quiseram? Que o presidente continuasse o mandato dele. Eu acho muito ruim esse clima de que você não sabe o que pode acontecer. É muito ruim para o Brasil, para a credibilidade do futebol brasileiro”, afirmou a presidente, pouco antes da decisão da Justiça do Rio que tirou Ednaldo do poder.