SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Goiás tenta virar lar de data centers e, para isto, saiu na frente ao criar um arcabouço legal da inteligência artificial. Marfrig engole BRF, Möet Hennessy procura motivos para celebrar e outras notícias do mercado nesta sexta-feira (16)

*FAZENDA DE IA*

Um dia foi o tempo que levou para o estado de Goiás aprovar a primeira legislação de inteligência artificial do país –antes mesmo do governo federal. O texto, agora, precisa ser sancionado pelo governador Ronaldo Caiado (União).

E o Planalto? Não liga? Não é bem assim. Há um projeto tramitando no Congresso Nacional desde 2020 para tentar colocar ordem na bagunça.

📝 Os detalhes. Ela não cria uma classificação de risco das ferramentas, nem um sistema de remuneração de escritores e artistas, coisas que devem aparecer no desenho da legislação nacional.

Também não aborda pontos espinhosos, como a relação entre a IA e o mercado de trabalho e os direitos autorais.

Ela, contudo, estabelece alguns fundamentos para o desenvolvimento de IA no estado e determina uma preferência para “softwares e modelos abertos” –estilo do Deepseek, por exemplo.

Ainda:

Define os direitos de desenvolvedores, operadores, usuários e não usuários;

Determina políticas de educação e capacitação em IA;

Dispõe sobre sustentabilidade e governança ambiental da infraestrutura necessária.

Para que tudo isso? Aí você fez a pergunta que interessa. A gestão Lula quer que o Brasil se torne uma opção para empresas investindo nesta tecnologia instalarem seus “data centers” –que nada mais são do que galpões enormes cheios de computadores.

Adivinha quem tem bastante espaço sobrando e quer ganhar dinheiro com esta brincadeira? O estado de Goiás. Ele se coloca à frente de outros interessados ao oferecer um ambiente mais preparado (ao menos, no papel) para receber este tipo de negócio.

Isso também justifica um pouco da rapidez com que a coisa toda foi aprovada. Sem grandes entraves e demoras, o texto pôde tratar de temas recentes, como os agentes autônomos e a IA embarcada em carros, câmeras e outros objetos.

Mas…pode não bastar. Fernando Haddad, ministro da Fazenda, anunciou em 7 de maio uma isenção de impostos para a compra de equipamentos de computação usados em data centers. Contudo, Mehdi Paryavi, presidente da IDCA (Autoridade Internacional de Data Centers), disse que há chão até virar um país atrativo.

Seria necessário criar políticas de fomento ao investimento, um portfólio claro dos recursos energéticos disponíveis e, claro, aquilo que está mais obviamente faltando, um arcabouço legal adequado.

*FAMINTA*

Será que a fome da Marfrig foi saciada depois de comprar uma das maiores empresas do ramo alimentício? Veremos.

O frigorífico anunciou ontem que vai engolir todas as ações da BRF que ele ainda não tem. O “ainda” é bem importante nesta frase, uma vez que a empresa já detinha 50,49% de participação na adquirida.

Contexto. A Marfrig estava em um humor “topa tudo” em 2021. Marcos Molina, presidente do conselho da companhia, começou uma investida para assumir o controle da BRF –ele fazia compras agressivas de ações quando elas estavam em baixa.

A aposta valeu a pena, já que ela se beneficiou de uma bonança no mercado de frango, que impulsionou seus lucros e aumentou a perspectiva de pagamentos de dividendos expressivos.

Com a operação, a BRF irá pagar R$ 3,5 bilhões em dividendos e a Marfrig irá distribuir R$ 2,5 bilhões. A incorporação deve ser aprovada pelas assembleias das empresas.

Cara-crachá. Aí vão os resultados do primeiro trimestre deste ano das duas envolvidas.

Marfrig 🥩

Fundação: 2000

Lucro líquido: R$ 88 milhões

Funcionários: cerca de 30 mil

Produtos: carne bovina, alimentos processados e produtos vegetais

Mercados: Brasil, EUA, Ásia e Europa

Principais concorrentes: JBS, Minerva Foods e Tyson Foods

BRF 🐔

Fundação: 2009 (fusão da Perdigão e Sadia)

Lucro líquido: R$ 1,2 bilhão

Funcionários: cerca de 100 mil

Produtos: carne suína e de frango e alimentos processados

Mercados: Brasil, Oriente Médio, Ásia e América do Sul

Principais concorrentes: JBS, Tyson Foods e Aurora Alimentos

Vacas magras. O frigorífico brasileiro também opera nos EUA, e por lá, a coisa não anda tão bem. Há uma grave escassez de gado que complica os lucros da operação de carne bovina no país.

O acesso a toda a grana gerada pela BRF –que é dona da Sadia e da Perdigão, caso tenha esquecido– pode ajudá-la a fechar o buraco deixado por esta crise.

Muita calma nessa hora. Ainda falta uma certa entidade, um tal de Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovar a fusão. A função dela é garantir a competitividade dentro dos mercados no Brasil.

*CHAMPAGNE PARA COMEMORAR O QUÊ?*

Como uma empresa que gerava 1 bilhão de euros (R$ 6,36 bilhões) em caixa em 2019 passa a queimar 1,5 bilhão de euros (R$ 9,54 bilhões) cinco anos depois?

A Möet Hennessy, império de vinhos e destilados da holding francesa LVMH, pode demonstrar.

Quem? A Möet Hennessy produz bebidas de luxo, algumas entre as mais conhecidas do mundo. Aí vão alguns exemplos:

🍾 Möet & Chandon, Dom Pérignon, Veuve Clicquot, Krug e Ruinart;

🥃 Hennessy, Glenmorangie e Belvedere.

Sobriedade virou tendência. Uma parte da crise interna da companhia se deve ao baque da desaceleração global nas vendas de bebidas alcoólicas.

Durante a pandemia, com boa parte das pessoas em isolamento social, elas começaram a comprar itens que não adquiriam normalmente –porque sobrou um pouco de dinheiro ou para se distrair, vai saber. Com isso, empresas de luxo viram suas receitas crescerem.

Quando essa tendência começou a se reverter, a empresa não soube responder com rapidez.

↳ Cada vez mais gente tem preferido versões zero álcool de bebidas uma vez alcoólicas.

Da galinha dos ovos de ouro…para o elefante na sala. A Möet Hennessy foi uma fonte segura de receita para a LVMH por muito tempo.

Mas, em apresentação em fevereiro de 2024, os gerentes seniores do grupo receberam alertas contundentes à medida que os orçamentos foram sendo pressionados.

Tudo ficou mais claro neste mês, quando os executivos recém-nomeados da divisão informaram aos funcionários que cerca de 1.200 empregos seriam cortados como parte de uma campanha de redução de custos.

✏️ Na ponta do lápis. Em abril, a LVMH divulgou que as vendas de vinhos e destilados caíram 9% em base orgânica no primeiro trimestre, em comparação com um declínio de 3% em todo o negócio.

Os lucros de operações recorrentes das marcas caíram 36% para 1,35 bilhão de euros (R$ 8,5 bilhões) no ano passado.

Com esse resultado, ela virou –com tranquilidade– a divisão com pior desempenho da LVMH.

Futuro incerto. As tarifas de Donald Trump (bingo!) pioram a situação. Ele ameaçou algumas vezes impor uma taxa de 200% na importação de champagne aos EUA, país que é um grande consumidor dos produtos da empresa.

*PARA VER*

Som na Faixa (2022)

The Playlist. Netflix. Seis episódios.

Onde você ouve suas músicas? Talvez você tenha entrado na moda das antigas e esteja colecionando CDs e LPs. Mas, se tivéssemos que apostar, diríamos que assina algum streaming musical. Você sabe quem teve a ideia de agregar tudo o que você quer ouvir em uma plataforma?

A minissérie “Som na Faixa” dramatiza a criação da Spotify, com base no livro “Spotify Untold”, dos jornalistas Sven Carlsson e Jonas Leijonhufvud. Cada um dos seis episódios mostra uma perspectiva diferente sobre o período que vai de 2004 a 2008 –quando a ideia nasceu e foi desenvolvida.

As versões de cada um dos personagens se sobrepõem, contrapõem e mudam, como toda boa história deve ser. Além dos conflitos internos dos criadores, há também a tensão entre a novidade e a indústria fonográfica –digamos que não era do interesse das grandes gravadoras baratear o acesso à música.

*O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER*

🎤 Quem sabe faz ao vivo. Wolney Queiroz, recém-empossado ministro da Previdência, bateu boca com Sérgio Moro em uma audiência sobre a fraude no INSS.

📚 De livraria para galeria. Se você mora ou já morou em São Paulo, provavelmente se lembra da enorme Livraria Cultura no Conjunto Nacional, na Avenida Paulista. Aquele espaço vai virar uma megaloja do Magazine Luiza. Gostou?

📈 Tá chovendo ação. A bolsa de valores brasileira bateu mais um recorde ontem, alcançando o patamar dos 139 mil pontos. Quem falou em falta de apetite para risco, mesmo?

⚖️ É oficial. A J&F Investimentos e a Paper Excellence colocaram uma pedra (ao menos, por enquanto) no assunto venda da Eldorado Celulose. Eles anunciaram a recompra por US$ 2,6 bilhões.