SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em entrevista a Folha de S.Paulo publicada em 2011, Frans Krajcberg (1921-2017) recusou a alcunha de artista. Seu maior objetivo era defender a vida. Em seu sítio em Nova Viçosa, onde viveu durante anos no litoral baiano, passava dias extraindo matéria-prima e dizia se sentir mais à vontade entre as árvores. Nem por isso as criações que montou, com folhas, cascas, troncos e pigmentos, deixaram de chegar ao resto do mundo.

“Não estamos falando sobre representações da paisagem. Os materiais que compõem suas obras estão presentes in natura. Krajcberg era minucioso ao traduzir os ambientes em que vivia e trabalhava. Ele nunca quis copiar a natureza. É ela que se apresenta”, diz Laura Cosendey, curadora-assistente do Masp e da primeira exposição do museu dedicada ao polonês que encontrou nos biomas brasileiros seu verdadeiro propósito.

“Frans Krajcberg – Reencontrar a Árvore” tem início nesta sexta (16) e mistura criações emblemáticas do artista. Ela integra este ciclo da instituição que se propõe a discutir o meio ambiente e divide o prédio original com a exposição dedicada à ecologia de Monet.

No coração do segundo subsolo do museu -sala com pé direito ideal para receber peças monumentais-, um tronco retorcido mira o teto. O piche escuro que o reveste reforça sua imponência e surgem dele diferentes ramificações. São galhos longos, retorcidos e pintados que fortalecem a base da “Flor do Mangue” sobre o chão.

As madeiras que se voltam para o alto lembram raízes que se escondem sob a terra. Elas representam pétalas e se projetam para o resto do espaço, questionando o contato entre o homem e a natureza ao trazer à superfície elementos normalmente escondidos da visão humana.

Construída a partir de madeiras residuais, a escultura reinventa vestígios condenados à destruição e se tornou uma das mais reconhecidas entre as obras de Krajcberg.

Ela divide a exposição com manifestações de diferentes fases, dos experimentos sobre papel japonês -quando a diversidade de formações no solo inspiravam os desenhos que fez em Ibiza- aos trabalhos monumentais que produziu nos territórios que visitou.

A curadora relembra passagens que marcaram o contato entre o artista e a flora brasileira. Ela cita suas visitas a Minas Gerais, sua expedição pela Amazônia que resultou no “Manifesto do Rio Negro” e as queimadas que testemunhou ao conhecer o Mato Grosso. O artista foi também guiado pelo trauma de perder a família para o Holocausto. A barbárie o seguiu desde cedo e ele desenvolveu uma maneira de denunciar outros tipos de devastação.

Na mostra, caules de palmeira impressionam pela altura e resgatam a beleza de pigmentos naturais comumente destruídos pelo cotidiano. Ao redor, pedaços de folhas, flores e cipós saltam de peças em relevo. Do vermelho ao amarelo, elas abstraem sombras, contornos e demais aspectos da biologia vegetal.

No centro do salão, três paredes circundam peças tridimensionais. Atrás delas, predominam experimentos em suportes planos. Em uma moldura, traços em azul se misturam à cor cinza de um desenho que mistura lâminas de vegetação. Outra obra escolhe grãos de terra e de areia para expor o planeta de dentro para fora.

Num quadro, fraturas em uma camada de solo separam as pedras que compõem um mosaico, rico em tamanhos e diferentes tons terrosos. “Quando Krajcberg fala dessa violência contra o meio ambiente, ele questiona a violência contra a vida”, diz Cosendey. “Ele entendia os próprios lugares em que criava como parte fundamental de suas obras.

Seja pelas esculturas, ou seja por outros tipos de experimentação, a mostra respira a matéria-prima que o artista estudou durante a vida inteira e torna suas obras em raízes para a reflexão sobre a permanência do planeta.

FRANS KRAJCBERG – REENCONTRA A ÁRVORE

Quando Ter., das 10h às 20h; qua., qui., sáb. e dom., das 10h às 18h; sex., das 10h às 21h. De 16/5 a 19/10

Onde Masp – av. Paulista, 1.578, São Paulo

Preço R$ 75