BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) abriu inquérito para apurar um suposto abandono de patrimônio deixado pela aristocrata Eufrásia Teixeira Leite (1850-1930) na cidade de Vassouras, no centro-sul do estado.
Apontada como a primeira mulher a investir na Bolsa de Paris, a aristocrata que viveu no Brasil e na França deixou uma fortuna em ouro que valeria hoje pouco mais de R$ 1 bilhão. A maior parte dos recursos foi para instituições de Vassouras, sua cidade natal, e de Paris.
Os bens citados pela Promotoria incluem o hospital Eufrásia, o antigo colégio Regina Coeli e o prédio do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), que foram doados por Leite para atender às áreas de educação e saúde do município.
De acordo com a Promotoria, eles estão desativados e em avançado estado de deterioração.
A reportagem não conseguiu contato com a Santa Casa de Misericórdia de Vassouras, entidade responsável pela gestão do patrimônio deixado pela aristocrata.
Em publicação recente nas redes sociais, a instituição afirmou que enfrenta um “cenário delicado”, com dívidas acumuladas de ações trabalhistas, impostos e junto a fornecedores e prestadores de serviço.
“Para reverter esse quadro, temos buscado utilizar os bens disponíveis com responsabilidade, firmando parcerias e realizando locações de imóveis -tudo isso com o objetivo de quitar compromissos, recuperar o equilíbrio financeiro e, assim, continuar cumprindo nosso propósito social”, diz a nota.
O MP fluminense também cita a prefeitura municipal e o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) entre os investigados pelo inquérito. Os dois órgãos não retornaram as tentativas de contato até a publicação da reportagem.
A Promotoria diz que reuniu documentos históricos, o testamento original e imagens atuais dos imóveis abandonados, com foco na responsabilização por omissão e desvio da destinação original dos bens.
Eufrásia Leite nasceu em 1850, fruto de um casamento que uniu dois sobrenomes ricos da sociedade fluminense: os Teixeira Leite, do lado paterno; e os Correia e Castro, da linhagem materna.
Caçula de três irmãos, ela foi desde pequena educada para tomar as rédeas dos negócios da família. Seu irmão primogênito morreu ainda criança, e a irmã do meio tinha problemas de saúde.
Joaquim José Teixeira Leite (1812-1872), o pai, tinha uma firma que comissionava negócios de fazendeiros de café e emprestava dinheiro a juros para esses grandes proprietários de terras.
Após a morte dos pais, ela e a irmã se mudaram para Paris após receberem a herança. Foi quando Eufrásia aproveitou os ensinamentos de matemática financeira repassados pelo pai e se tornou investidora na Bolsa.
Apesar de não negociar os papéis diretamente, função que ela atribui a homens de sua confiança, era a aristocrata quem tomava as decisões de investimento, segundo informações do museu Casa da Hera.
Além de repassar a maior parte da fortuna para instituições ligadas à educação e saúde, Eufrásia, que não teve filhos, destinou um valor para ser distribuído “aos pobres de Vassouras” e outro montante “aos mendigos” que viviam no seu bairro em Paris. Também foram beneficiados alguns parentes do lado materno –apenas três primos.
Boa parte das instituições de Vassouras funciona em terras que foram dela. Além dos locais investigados pelo MP-RJ, também fazem parte da lista o quartel da polícia militar, a delegacia de polícia, o museu Casa da Hera, entre outros.