SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um comunicado conjunto de J&F, da família Batista, e Paper Excellence, do empresário indonésio Jackson Wijaya, divulgado na tarde desta quinta-feira (15), oficializou o fim da disputa pela Eldorado Celulose.
Segundo o texto conjunto, a J&F fez a recompra da companhia pelo valor de US$ 2,640 bilhões (R$ 15 bilhões), pagando à vista.
Os documentos foram assinados no banco BTG Pactual pelos respectivos times de cada empresa. Em salas separadas, do alto comando de cada parte, estavam Claudio Cotrim, presidente da Paper no Brasil, e Aguinaldo Filho, presidente da J&F e presidente do conselho administrativo da Eldorado, que é sobrinho de Joesley e Wesley Batista.
A pilha com centenas de documentos para zerar o litígio era tão extensa que demandou mais de seis horas de assinaturas, segundo a reportagem apurou. Começou às 8h e se estendeu até o início da tarde.
O BTG atua pela Paper desde o início do negócio. Primeiro, trabalhou na transação de compra, quando começou a ser discutida em 2017. Com o litígio, se afastou. No entanto, segundo a reportagem apurou, em meados do ano passado, o banco entrou para auxiliar na negociação que buscava pôr fim ao impasse.
Houve envolvimento pessoal do banqueiro André Esteves, por ter boa relação tanto com Joesley Batista, do lado da J&F, quanto com Wijaya, da Paper.
Especialistas do mercado dizem que, considerando os indicadores da Eldorado, o montante da transação que encerra a briga equivale a um múltiplo de dez vezes o Ebitda (sigla em inglês para Lucros antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização, um indicador que mede a geração de caixa).
O comunicado, enxuto, confirma o fim das pendências.
“A transação atende plenamente aos interesses de ambas as partes e põe fim, de forma plena e definitiva, a todos os processos judiciais e arbitrais em curso”, destaca a nota.
“A J&F demonstra, com esse investimento, a sua confiança no Brasil e na Eldorado. A Paper Excellence seguirá explorando oportunidades no setor de celulose e papel.”
A Eldorado foi fundada em 2010 pela J&F e produz celulose para fabricação de papéis para embalagens, higiene pessoal e outros usos. Tem sede administrativa em São Paulo e fábrica em Três Lagoas (MS), inaugurada em 2012, sendo que as florestas de eucalipto e áreas de preservação da empresa ficam no entorno.
A companhia tem também um terminal próprio em Santos e escritórios comerciais nos Estados Unidos, na Áustria e na China.
A venda da empresa foi fechada em setembro de 2017. O negócio foi anunciado, na época, por R$ 15 bilhões, incluindo dívidas.
Na primeira fase, o braço brasileiro do conglomerado de Jackson Wijaya comprou 49,41% das ações da Eldorado e pagou R$ 3,9 bilhões, cerca de US$ 1,24 bilhão na época. O restante foi depositado numa conta judicial para ser utilizado ao final da transação, que nunca ocorreu.
Um ano depois, a transação começava a saga judicial, sem que as partes se entendessem sobre a transferência da parcela restante.
Segundo a reportagem apurou com pessoas envolvidas na transação, uma das razões para as partes encerrarem a briga foi o impacto sobre a Eldorado. Empresas envolvidas em litígios de seus acionistas são penalizadas por falta de investimento e morosidade na tomada de decisões.
Enquanto os Batista e Wijaya não se acertavam, concorrentes como Suzano, Arauco e Bracell avançavam.
Em 2024, a Eldorado vendeu 1,8 milhão de toneladas de celulose e obteve receita líquida de R$ 6,4 bilhões, alta de 10,7% em relação a 2023 (o faturamento vem principalmente do mercado externo, com R$ 5,4 bilhões no ano passado). O lucro líquido foi de R$ 1,1 bilhão em 2024.