SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com o esvaziamento da cracolândia na rua dos Protestantes, na região da Luz, os usuários de droga voltaram a se espalhar por outras regiões da área central de São Paulo.

Uns poucos ainda podiam ser vistos, na manhã desta quarta-feira (14), nas proximidades, como nas ruas Conselheiro Nébeas e General Julio Marcondes Salgado e na praça Júlio Mesquita, mas sem grandes aglomerações.

Pontos que já haviam servido de concentração de grupo, como as próprias ruas dos Protestantes e Gusmões, a rua Helvétia, as alamedas Cleveland e Barão de Piracicaba e a praça Princesa Isabel amanheceram com o policiamento reforçado. E alguns usuários foram abordados por guardas-civis metropolitanos e policiais militares.

Entidades sociais que acompanham a situação dos usuários de drogas e desenvolvem políticas de redução de danos lembram que não é a primeira vez que a cracolândia é esvaziada ou muda de endereço.

Citam o exemplo da gestão do então prefeito João Doria (então no PSDB, hoje sem partido), que chegou a anunciar o fim da cracolândia em 2017, após uma megaoperação policial. Na época, ele prometeu um “um amplo projeto de reurbanização” na região

Em 2008, o então prefeito Gilberto Kassab (PSD) já tinha feito um anúncio semelhante. “Não existe mais a cracolândia. Hoje existe uma situação completamente diferente daquela que existia três anos atrás”, disse na época.

Por isso, quem atua com os usuários considera que a situação atual não significa, pelo menos por enquanto, o fim da cracolândia -e sim, um novo espalhamento, como já foi feito em outros momentos.

O maior ponto de concentração de usuários nesta manhã era debaixo do viaduto Diário Popular, próximo do Mercado Municipal e a poucos metros da Inspetoria de Operações Especiais (Iope), da Guarda Civil Metropolitana (GCM).

Algumas barracas foram montadas em cima do viaduto, mas a maioria deles estava concentrada embaixo dele. Protegidas pelos guard rails de concreto, cerca de 50 pessoas usavam a droga sentadas no chão. Com a aproximação da equipe da Folha, um homem na parte de cima passou a jogar pedras para baixo, na tentativa de dispersar os consumidores que apareceriam nas fotos.

Outro grupo maior foi visto na travessa dos Estudantes, entre a rua de mesmo nome e a ligação Leste-Oeste, a região do Glicério. Eles estavam sentados na calçada, junto de um muro. Essa área já havia servido para a concentração de usuários em outros momentos de dispersão da cracolândia.

Também já mapeados em outras oportunidades, pontos no final da rua Prates e no começo da avenida Castelo Branco, no Bom Retiro, também tinham concentrações de usuários, embora em menor proporção.

A mesma situação se repetiu no túnel José Roberto Fanganiello Melhem (entre as avenidas Paulista e Rebouças, já no limite entre o centro e a zona oeste) e no viaduto Júlio de Mesquita Filho (embaixo da Praça Roosevelt).

Procurada, gestão Ricardo Nunes (MDB) disse que não iria responder aos questionamentos da reportagem, e que a única manifestação sobre o tema era uma entrevista dada pelo prefeito na manhã desta quarta.

Na entrevista, Nunes afirma que sua gestão e a de Tarcísio de Freitas (Republicanos) fizeram um trabalho conjunto e conseguiram uma redução gradativa da cracolândia, apesar de ainda haver outros pontos de consumo. “A imprensa precisa parar de pôr defeito e mostrar o trabalho que foi feito”, disse ele.

Diferentemente de Doria e Kassab, o prefeito disse que não é o momento de anunciar o fim da cracolândia. “Não vou ser populista de anunciar que acabou”, afirmou. Ele preferiu dizer que conseguiu avanços e que o combate às drogas é um trabalho contante de equipes de policiais, guardas, agentes de saúde e assistentes sociais.

O prefeito também disse que as ações da polícia dentro da favela do Moinho, última grande comunidade localizada no centro da capital paulista, ajudou a asfixiar a ação dos traficantes que abasteciam a cracolândia, o que teria provocado o seu esvaziamento.

Ele se referiu à favela como “bunker” do tráfico de drogas e lembrou da prisão de Léo do Moinho, no ano passado, na Praia Grande, no litoral paulista. Ele é suspeito de usar a favela para guardar as drogas que abasteciam a cracolândia. Sua defesa nega as acusações.