SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um novo enfrentamento na tarde desta quarta-feira (14), entre moradores da favela do Moinho e o Batalhão de Choque da Polícia Militar provocou disparo de balas de borracha, por parte da PM, para tentar conter os manifestantes, que armaram barricadas e colocaram fogo na entrada da comunidade que fica na região central de São Paulo. Eles também arremessaram pedras nos policiais.

Por causa do confronto e da violência, a avenida Rio Branco, no trecho com a alameda Eduardo Prado e o viaduto Engenheiro Orlando Murgel, precisou ser interditada.

A circulação de trens da linha 8-diamante entre as estações Júlio Prestes e Palmeiras-Barra Funda acabou interrompida –a linha foi normalizada por volta das 18h, após intervenção da PM.

Em nota, a ViaMobilidade, responsável pela linha, diz que equipes da concessionária acompanham a situação em tempo real durante a paralisação dos trens. Avisos sonoros foram emitidos para orientar os passageiros a utilizarem as linhas 3-vermelha, 7-rubi e 4-amarela para acesso às estações Palmeiras-Barra Funda e Luz.

Questionada sobre o enfrentamento, a Secretaria da Segurança Pública do estado disse que a CDHU (companhia de habitação) iria se manifestar, o que não aconteceu até a publicação deste texto.

Esse foi o terceiro dia de confrontos no local. Na terça-feira, a Polícia Militar jogou duas vezes bombas de gás contra os moradores da favela.

Os moradores protestam contra ação da CDHU que entrou na favela para demolir casas que foram desocupadas nos últimos dias. A ação começou na segunda-feira.

Na terça, moradores relataram que um bebê inalou gás e dois homens foram atingidos por balas de borracha. Um deles chegou a ser chutado pelos policiais depois de ser atingido. Ele acabou detido.

O governo Lula (PT) publicou na tarde de terça nota em que afirma que irá paralisar a doação, para a gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), do terreno da favela do Moinho.

Localizada em uma área da União entre duas linhas de trens metropolitanos, na região central da cidade, a comunidade onde vivem cerca de 800 famílias passa atualmente por um processo de reassentamento comandado pelo governo estadual.

A decisão do governo federal sobre a interrupção da cessão da área é justificada com críticas ao processo de demolição das casas e às seguidas intervenções da Polícia Militar para apoiar a ação do estado.

Desde o início da operação, em meados de abril, há confrontos entre moradores e policiais. Protestos da comunidade também têm provocado interrupção da circulação dos trens.

Já a gestão Tarcísio alega que está realizando uma descaracterização cuidadosa e manual das habitações já desocupadas e que tem atuado para garantir a segurança. A medida, segundo o governo estadual, é necessária para evitar a reocupação dos imóveis.

Ainda segundo o governo de São Paulo, a discussão sobre a destinação da área não irá interromper a desocupação em curso.

Aproximadamente 180 famílias que aderiram ao plano, ao aceitarem cartas de crédito de até R$ 250 mil reais para comprarem apartamentos subsidiados pela CDHU (companhia estadual de habitação), já teriam deixado a comunidade, segundo o governo.

No projeto apresentado pelo estado ao governo federal, após a remoção, o terreno receberá um parque e ainda poderá contar com outras intervenções, como uma futura estação de trens. Para tanto, a área precisaria ser cedida ao estado.

A suspensão do processo de doação ocorre horas depois de a SPU (Secretaria de Patrimônio da União) ter enviado ofício ao governo paulista autorizando a descaracterização dos imóveis.

Celso Carvalho, superintendente do Patrimônio da União que havia assinado na segunda-feira (12) um ofício autorizando a descaracterização, esteve pessoalmente nesta terça no escritório de atendimento montado pela CDHU perto da favela do Moinho. No local, ele criticou a ação da gestão Tarcísio.

“Para construir esse processo coletivo nos precisamos que seja um acordo, não é um processo de agressão a comunidade. Eu vim aqui para mudar o que foi feito hoje”, disse.