SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A realização do que poderia ser a primeira negociação direta de paz entre Moscou e Kiev em anos ficou envolta em incerteza nesta quarta (14), após o Kremlin adiar o anúncio sobre quem representaria a Rússia no encontro em Istambul, na Turquia. Diante da indefinição, a Ucrânia cobrou esclarecimentos antes de confirmar sua participação.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, entrou em cena e afirmou da China que tentará convencer Vladimir Putin a viajar à Turquia para negociar o fim da guerra com Volodimir Zelenski.

“Quando parar em Moscou, vou tentar falar com o Putin. Não me custa nada falar: Ô, companheiro Putin, vá até Istambul negociar, porra”, afirmou em entrevista coletiva em Pequim, onde está em visita de Estado.

Lula, que retorna a Brasília nesta quarta, fez a declaração após o chefe de gabinete da Presidência ucraniana, Andrii Yermak, pedir ao Brasil -por meio de uma mensagem na rede social X- que usasse “sua voz autorizada no diálogo com a Rússia” para viabilizar um encontro entre Putin e Zelenski.

Antes de viajar para a China, Lula assistiu em Moscou à cerimônia de comemoração dos 80 anos da vitória na Segunda Guerra Mundial.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que está viajando da Arábia Saudita para o Qatar, cogitou estender sua agenda até a Turquia para comparecer pessoalmente ao encontro em Istambul, caso as circunstâncias sejam favoráveis. Depois, disse que enviará o secretário de Estado, Marco Rubio, e os enviados seniores Steve Witkoff e Keith Kellogg às negociações.

Trump afirmou não saber se o presidente russo participará das conversas. “Não sei se ele [Putin] estaria lá se eu não estiver. Vamos descobrir”, disse o americano aos repórteres enquanto viajava a bordo do Air Force One a caminho do Qatar.

Zelenski desafiou publicamente o líder do Kremlin a estar presente nas negociações. Depois, nesta quarta, declarou prontidão para “qualquer forma de negociação” para encerrar a guerra com a Rússia. Ele disse que decidiria quais medidas tomar quando soubesse quem representaria Moscou nas negociações de quinta.

“Estou esperando para ver quem chega da Rússia. Depois decidirei quais medidas tomar”, disse Zelenski durante seu discurso diário. “A Ucrânia está pronta para qualquer forma de negociação e não temos medo de reuniões.”

Trump, que está ficando cada vez mais frustrado com a Rússia e a Ucrânia enquanto tenta empurrá-las para um acordo de paz, disse que está “sempre considerando” sanções secundárias contra Moscou se achar que está bloqueando o processo.

Autoridades americanas discutiram a possibilidade de sanções financeiras diretas e também de medidas secundárias contra compradores de petróleo russo.

Trump quer um cessar-fogo de 30 dias na guerra, o que Zelenski apoia. Putin disse que primeiro quer iniciar conversas nas quais os detalhes de tal trégua possam ser discutidos.

O presidente russo propôs no domingo (11) a realização de negociações diretas com a Ucrânia nesta quinta (15), em Istambul, “sem quaisquer precondições” -o que marcaria o primeiro encontro desse tipo entre os dois países em três anos.

Putin, no entanto, não revelou quem participaria em nome de Moscou. Seu porta-voz afirmou a repórteres nesta quarta que as negociações estão confirmadas, mas que ainda não poderia divulgar o nome do representante russo, pois aguardava instruções do próprio presidente.

Uma pessoa ligada à diplomática ucraniana afirmou à Reuters, nesta quarta, que a decisão da liderança da Ucrânia sobre os próximos passos nas negociações de paz na Turquia dependeria da confirmação da participação de Putin. Zelenski disse que participará das negociações com a Rússia apenas se Putin também estiver presente.

Se o presidente russo concordar em participar, seria o primeiro encontro entre os líderes dos dois países em guerra desde dezembro de 2019. As últimas negociações diretas entre negociadores da Ucrânia e da Rússia ocorreram em Istambul em março de 2022, um mês depois que Putin enviou dezenas de milhares de tropas para a Ucrânia.

Relatórios não confirmados da mídia russa e americana disseram que o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, e o assessor de política externa de Putin, Yuri Ushakov, estarão em Istambul e prontos para se encontrar com seus pares ucranianos.

Questionado se o Kremlin poderia revelar a composição da delegação russa, o porta-voz Dmitri Peskov disse: “Faremos isso quando recebermos uma instrução do presidente para fazê-lo.”

Peskov disse que a oferta de Putin de negociações diretas com a Ucrânia “permanecia válida”. “A delegação russa estará esperando pela delegação ucraniana em Istambul em 15 de maio.”