SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – Foi no leito de morte da mãe que Ednilson Pereira da Silva, 54 anos, ganhou um novo pai. Ele ainda era criança quando sua mãe, pouco tempo antes de morrer, pediu que ligassem para a Mansão do Caminho, entidade filantrópica liderada pelo médium Divaldo Franco desde 1952 em Salvador.

O líder religioso acatou a proposta no ato. Ednilson e sua irmã gêmea Ednice foram para a Mansão do Caminho, onde cresceram, estudaram e trabalharam. Ambos fazem parte do grupo de 685 crianças e adolescentes que foram criados por Divaldo Franco ao longo de sete décadas.

Divaldo morreu nesta terça-feira (13), aos 98 anos, após falência de múltiplos órgãos. Nos últimos anos, vinha enfrentando problemas de saúde, incluindo um câncer na bexiga identificado em novembro de 2024.

Ele foi um dos principais disseminadores da doutrina espírita no Brasil e fundador da Mansão do Caminho, entidade que atende diariamente a 2.500 crianças da periferia de Salvador com escola e creche.

Nesta quarta-feira (14), centenas de pessoas foram ao velório do médium, no ginásio da Mansão do Caminho, em Salvador. Admiradores, funcionários e voluntários da entidade fizeram fila para se aproximar do caixão.

Entre eles estava Ednilson Pereira, que relembrou da infância na Mansão do Caminho junto com outras crianças adotadas pelo líder religioso, que não se casou nem teve filhos biológicos.

Divaldo cuidava das crianças com a ajuda de voluntárias, chamadas de tias, sendo que parte delas também adotaram meninos e meninas que viviam na entidade. Ao menos 40 foram adotadas formalmente pelo médium.

“Ele é o nosso pai. O pai que deu carinho, que deu amor e que também nos deu exemplos e puniu quando foi necessário, nos apresentou um Jesus de amor e não aquele Jesus castrador que a gente costuma ouvir”, afirmou.

Ednilson lembrou momentos da infância em que Divaldo reunia as crianças na sombra de uma jaqueira para fazer o evangelho no lar –a leitura e estudo da doutrina espírita em família.

“Ele sempre falava que doação é fácil, mas doar-se é o mais difícil. E ele fez o mais difícil e doou a sua vida”, diz Ednilson.

A professora Solange Nunes, 59, estudou na Mansão do Caminho quando criança, mas não foi interna da entidade. Nesta quarta, ela percorreu as ladeiras da sede da entidade para se despedir do líder religioso.

“Divaldo estava sempre presente no dia a dia da escola, junto com as professoras”, afirma Solange, que é evangélica, foi voluntária da entidade e afirma que o trabalho do médium estava acima das religiões.

Diretora da escola e da creche que funciona na Mansão do Caminho, Clese Cerqueira, 87, destacou o papel do religioso na formação de crianças que viviam em situação de vulnerabilidade por mais de sete décadas.

Ela disse que conheceu o trabalho de Divaldo em uma palestra em Aracaju (SE), onde morava na juventude. Aos 27 anos veio morar em Salvador e passou a atuar como voluntária na Mansão do Caminho.

Com 60 anos dedicados à instituição, ela falou do desafio de continuar o legado do líder religioso após a sua morte: “O Brasil perdeu Divaldo. Pela generosidade, pela bondade e por tudo que ele construiu aqui na Mansão do Caminho. Ele deixa um legado lindo.”

A entidade ocupa uma área de 78 mil m² no bairro do Pau da Lima, periferia de Salvador e atende diariamente cerca de 2.500 crianças e adolescentes de famílias de baixa renda.

A estrutura inclui uma creche, uma escola de ensino fundamental, uma de ensino médio, além de clínica para partos humanizados.

A Mansão também atua na assistência social, oferecendo auxílio a mais de 500 pessoas em estado de vulnerabilidade social, com patologias graves, idosos e gestantes.

O velório segue aberto ao público até as 17h. O enterro do líder religioso será realizado nesta quinta-feira (15), às 10h, no Cemitério Bosque da Paz, em Salvador.