SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um novo livro sobre os bastidores da eleição presidencial de 2024 nos Estados Unidos faz um relato de situações com potencial constrangedor para a Casa Branca de Joe Biden e para líderes do Partido Democrata.

A obra, assinada pelos jornalistas Jake Tapper e Alex Thompson, que fizeram carreira na CNN, sai na próxima semana pela editora Penguin com o título “Original Sin: President Biden’s Decline, Its Cover-Up, and His Disastrous Choice to Run Again”, traduzível como “Pecado original: o declínio do presidente Biden, seu encobrimento e a escolha desastrosa dele de se candidatar novamente”.

Alguns dos episódios mais chamativos do livro foram adiantados em reportagem extensa publicada nesta semana pela revista New Yorker, entre eles a reação do ator George Clooney após um encontro com o presidente Biden, que ele considerou “devastador”.

Clooney, um dos principais arrecadadores de recursos para os democratas e aliado próximo do presidente, teria ficado chocado com a aparência e o comportamento de Biden durante um evento em Los Angeles, em junho de 2024.

Segundo o relato da New Yorker, o ator disse a interlocutores que o presidente parecia “não estar presente” e que nem sequer o reconheceu num primeiro momento. O encontro aconteceu poucos dias antes do fatídico debate presidencial contra Donald Trump —que, segundo o livro, apenas confirmou os sinais preocupantes que aliados vinham notando em privado.

O impacto foi tão grande que Clooney escreveu um artigo de opinião para o jornal The New York Times pedindo publicamente que Biden deixasse a disputa pela reeleição. “O Joe Biden que vi naquele dia não era o mesmo de 2020. Não vamos vencer com ele em novembro”, escreveu o ator.

A publicação causou desconforto no alto escalão da campanha e teria irritado conselheiros próximos ao presidente.

Segundo os autores, o episódio de Clooney foi apenas um entre vários momentos em que apoiadores de peso, inclusive o ex-presidente Barack Obama, líderes no Congresso e financiadores, expressaram preocupações com a idade e o desempenho de Biden, mas evitaram confrontá-lo diretamente. À época da campanha, ele tinha 81 anos (fez 82 logo após as eleições, em 20 de novembro passado).

A reportagem da New Yorker aponta que havia uma tentativa sistemática de minimizar os sinais de declínio físico e cognitivo do presidente —tanto para o público quanto dentro da própria campanha.

A obra ainda destaca o histórico de Clooney com Biden, incluindo a parceria de anos entre os dois, especialmente em questões humanitárias, como a luta contra o genocídio em Darfur, no Sudão.

Clooney, após ganhar o Oscar de melhor ator coadjuvante por “Syriana”, se envolveu ativamente na causa, viajando com seu pai para a região de Darfur em 2006 para documentar os abusos do governo sudanês. Esse histórico de apoio a Biden teria tornado mais dolorosa a decepção do ator, que, diante da deterioração da condição do presidente, se sentiu compelido a agir publicamente.

Ainda de acordo com a revista, o livro mostra que a demora de Biden para abandonar a candidatura, mesmo após o fraco desempenho no debate contra Trump em junho, prejudicou a organização de uma alternativa forte dentro do partido. A vice-presidente Kamala Harris assumiu a candidatura democrata às pressas, mas perdeu para Trump na eleição geral de novembro.

A obra, que deve reacender o debate interno entre democratas sobre os erros estratégicos de 2024, ainda não tem data de lançamento ou editora confirmada no Brasil.