SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Polícia Militar de São Paulo demitiu o soldado Paulo Rogério da Costa Coutinho, que atuava no 18º Batalhão da PM, na zona norte de São Paulo. Ele é conhecido nas redes sociais por divulgar vídeos de ações policiais e do trabalho de entregador nas horas de folga. Ele também atrai atenção por ter o rosto tatuado.

Coutinho foi desligado da corporação por descumprimento de função. Ele teria, de acordo com processo na Justiça Militar, deixado o posto em que trabalhava no sambódromo do Anhembi —durante os desfiles do Carnaval de 2022— e ficado em um camarote.

Conforme a publicação em Diário Oficial nesta quarta-feira (14), Coutinho foi demitido por atos atentatórios à instituição e ao Estado. A publicação fala em transgressão disciplinar de natureza grave.

A defesa do policial afirma que ele demorou no camarote pois é uma celebridade e questiona os motivos de o outro policial militar que o acompanhava não ter sido demitido.

De acordo com o processo-crime militar, o delito de abandono de missão ocorreu em 22 de abril de 2022, quando Coutinho e colegas teriam entrado em um camarote do sambódromo por volta de 1h e ficado lá por pouco menos de duas horas.

Na ocasião, Coutinho e outros policiais participavam da Operação Carnaval 2022 e iniciaram o plantão às 23h, ficando responsáveis pela revista de pessoas no portão 28, do setor A.

Segundo o processo, a permanência no camarote seria injustificada, já que não havia sido solicitada intervenção dos PMs para nenhuma ocorrência ou pedido de apoio pelos responsáveis, tendo os policiais deixado de realizar sua função de policiamento ostensivo e preventivo na área externa do sambódromo.

João Carlos Campanini, advogado de Coutinho, afirmou à Folha de S.Paulo que o soldado teria tirado muitas fotos e atendido fãs durante o plantão pois seu cliente “é uma celebridade”. Segundo o defensor, o policial demitido faz a divulgação do trabalho da Polícia Militar nas redes sociais, e as tatuagens chamam atenção. O defensor ainda destacou que o maior fluxo de pessoas no evento era dentro do camarote neste horário.

O advogado também afirmou ter faltado igualdade no processo. “A mesma conduta apurada em relação ao outro PM não gerou demissão. Isso leva a crer que a decisão foi política e por questões de bastidores.”

A decisão, de acordo com Campanini, fere também o princípio da motivação. “Não fundamentaram claramente as razões de demitir um e não demitir o outro.” Ele ainda disse que “a defesa vai buscar reverter essa injustiça por meio de recurso ao governador e se, preciso, ao Tribunal de Justiça”.

Procurada pela reportagem no início da tarde desta quarta (14), a Polícia Militar não respondeu aos apontamentos do defensor do soldado.

PM RESPONDE PROCESSO POR SUMIÇO DE ORQUÍDEA

Em 2023, a Polícia Militar abriu um procedimento por suspeita de peculato contra Coutinho por causa do sumiço de uma orquídea. Ele atuava no 9º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano, na região do Carandiru.

Segundo o Inquérito Policial Militar, o policial teria subtraído uma orquídea do jardim do batalhão e escondido no alojamento de soldados e cabos para que não fosse localizada. Instantes depois, o PM teria removido a flor do dormitório para o refeitório, onde a planta foi encontrada por um sargento escondida atrás de um extintor de incêndio.

Na ocasião, os superiores do soldado classificaram o sumiço momentâneo da flor como uma transgressão disciplinar de natureza grave, caracterizada como desonrosa e ofensiva ao decoro profissional e atentatória ao Estado.

O crime de peculato consiste no ato de apropriação ou desvio, por funcionário público, de dinheiro, valor ou bem público ou particular de que ele tenha posse em razão do cargo.

A defesa do policial, na época, negou o furto, afirmou que o PM fazia a manutenção do quartel e apenas mudou a planta de local e que o soldado era perseguido por ter tatuagens no rosto. Já a Polícia Militar disse respeitar os direitos de quem está sob investigação ou acusação.