BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A maioria dos economistas consultados pelo Banco Central às vésperas da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) projeta que a guerra comercial iniciada pelos Estados Unidos deve trazer alívio para a inflação no Brasil. O resultado do questionário foi divulgado pela autoridade monetária nesta quarta-feira (14).
Entre as 127 respostas dos entrevistados, 63% esperam que o impacto líquido seja desinflacionário no país, enquanto 23% falam em neutralidade. Na outra ponta, 14% dizem que a guerra comercial tende a trazer mais inflação para o Brasil.
As respostas ao levantamento, que foi enviado aos analistas do mercado financeiro no dia 25 de abril (antes, portanto, do anúncio de acordo entre EUA e China), serviram como subsídio para a mais recente decisão do Copom sobre a taxa básica de juros (Selic), que atingiu 14,75% ao ano, o maior nível em quase duas décadas.
Em 2 de abril, o Brasil e diversos outros países foram alvo de uma tarifa linear de 10% sobre as exportações para os Estados Unidos. Antes disso, o país já tinha sido afetado pela cobrança imposta pelos americanos de tarifas de 25% sobre importações de aço e alumínio.
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) iniciou as tratativas com auxiliares de Donald Trump antes mesmo de o tarifaço entrar em vigor. O contato entre os países tem sido mantido em nível ministerial, com a liderança do vice-presidente Geraldo Alckmin, e técnico.
No último encontro, o Copom incluiu em seu balanço de riscos, entre os vetores que puxariam os preços para baixo, a chance de queda nos preços de commodities. Cenário que agora fica mais incerto com o acordo entre EUA e China pela redução das tarifas.
Quanto ao impacto da guerra comercial na taxa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil, a previsão mediana dos economistas é de recuo de 0,2 ponto percentual neste ano (70 respostas) e de queda de 0,1 ponto em 2026 (62 respostas) números que não foram incorporados nos cálculos dos agentes econômicos até agora.
Na ata, o colegiado do BC disse ver um impacto bastante incerto quanto ao choque das tarifas impostas pelos americanos cenário que exige cautela na política de juros no Brasil.
Entre as camadas de incerteza no ambiente externo, o comitê cita o próprio tarifaço do governo Trump, a resposta dos países e das empresas, com possíveis impactos sobre as cadeias globais de produção, e a resposta dos consumidores às mudanças de preços.
“O cenário então se apresenta com incerteza muito maior, o que já tem provocado mudanças nas decisões de investimento e consumo”, disse no documento.
“Ainda é cedo para concluir qual será a magnitude do impacto sobre a economia doméstica, que, por um lado, parece menos afetada pelas recentes tarifas do que outros países, mas, por outro lado, é impactada por um cenário global adverso.”