SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O conselho curador da Fundação Padre Anchieta (FPA), que administra a TV Cultura, elegeu nesta quarta-feira (14) a produtora Maria Angela de Jesus para presidir a entidade pelos próximos três anos. Ela precisava de no mínimo de 24 votos de 47 possíveis para ser a escolhida e teve 37. Quatro membros votaram foram em branco.

Maria Angela é executiva da Conspiração Filmes, com passagens por empresas como Netflix, Paramount e HBO. Numa sabatina antes da eleição, ela falou em restabelecer o diálogo com o governo estadual e em buscar novas frentes de recursos privados para a TV Cultura. Com a escolha, ela se torna a primeira mulher a presidir a FPA.

Ao mesmo tempo, a socióloga Neca Setubal foi a eleita para presidir o conselho curador —a única vez em que o colegiado teve o comando de uma mulher foi nos anos 1970, com Esther de Figueiredo Ferraz.

A expectativa é que a nova eleição torne possível baixar a fervura da tensão entre a fundação e o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) —uma crise que levou o atual presidente executivo, José Roberto Maluf, a decidir não buscar um novo mandato.

Um acordo tácito entre o governo e o comando da fundação previa que, sem a candidatura de Maluf, a entidade teria sinal verde para contratar um “headhunter” —responsável por descobrir novos profissionais para empresas— para escolher o sucessor do atual presidente.

Maluf disse aos conselheiros, no fim de abril, que não buscaria um terceiro mandato, apontando a falta de recursos orçamentários da gestão estadual para a fundação. Na ocasião, a secretária estadual de Cultura, Marília Marton —com quem Maluf acumulou alguns embates—, o chamou de mentiroso.

Maluf dizia haver uma resistência dentro do governo Tarcísio a seu nome e que esperava que sua saída ajudasse a remover esse empecilho.

Diante da decisão de Maluf, a empresa de “headhunters” tinha chegado a uma lista de três nomes do mercado audiovisual para sucedê-lo. Mas, após a sabatina com os trio, Maria Angela foi a única candidata a conseguir o número mínimo de indicações de conselheiros para concorrer à vaga.

Apesar de ser a única concorrente, era uma incógnita a posição do governo estadual sobre o nome dela. Uma eventual oposição da gestão Tarcísio poderia prejudicar o quórum para eleger Maria Angela. Mas, ao fim, a executiva teve uma votação tão expressiva porque também teve o apoio de integrantes do conselho que ocupam cargos no governo.

A FPA tem autonomia em relação ao governo, mas depende de verbas do estado para grande parte de seu orçamento —e isso está no cerne da tensão entre a entidade e a gestão estadual.

De um lado, a fundação diz que está sendo estrangulada financeiramente —para este ano, a previsão de orçamento para a entidade é de R$ 211 milhões, sendo R$ 109 milhões de repasses estaduais. O valor corresponde a cerca de 50% dos recursos totais da entidade. Há seis anos, para se ter uma ideia, as verbas do estado correspondiam a 70% do total.

A gestão estadual, contudo, defende que a Cultura busque recursos no setor privado e caminhe com as próprias pernas.

Também há nos bastidores um incômodo do governo paulista com a autonomia da instituição. O mal-estar parece ter se agravado após tentativas repetidas da secretaria de Cultura de indicar nomes para o conselho curador, que, em geral, foram rejeitados pelos atuais conselheiros —foi o caso, em março deste ano, do cineasta e gestor cultural André Sturm.

Com a eleição desta quarta, começa um novo capítulo. Se vai resultar em uma pacificação das relações ou se os atritos continuam, ainda é cedo para saber.