RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Impulsionada pela safra de grãos, a atividade econômica do Centro-Oeste caminha para um crescimento esperado de 6,7% no acumulado de 2025, superando com folga os avanços previstos para as demais regiões do país, conforme a consultoria MB Associados.

A estimativa é mais que o triplo da projeção para o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil, que tende a mostrar uma expansão próxima de 2% neste ano, afirma o economista-chefe da MB, Sergio Vale, responsável pela análise.

Segundo ele, enquanto a agropecuária beneficia sobretudo o Centro-Oeste, regiões que dependem mais dos serviços e da indústria devem sentir o freio dos juros elevados sobre o consumo e os investimentos produtivos –caso do Sudeste.

A MB espera que o Sul apresente a segunda maior alta da atividade econômica em 2025: 3,3%. A região também é conhecida pela tradição na agropecuária, mas a falta de chuva voltou a prejudicar a safra durante o verão, especialmente no Rio Grande do Sul. O estado amargou perdas em culturas como a soja.

No caso do Sudeste, a alta prevista pela consultoria é de 1,9% para a atividade econômica neste ano. Trata-se de uma variação parecida com as taxas projetadas para o Norte (1,8%) e o Nordeste (1,6%).

“Economias que dependem mais dos serviços e das indústrias tendem a ser mais afetadas pelos juros”, afirma Vale.

As projeções da MB são feitas a partir de dados do Índice de Atividade Econômica Regional do BC (Banco Central), que traz sinalizações para o PIB.

Essas informações são divulgadas com recorte mensal, e o período mais recente com números disponíveis é fevereiro.

“É possível ver que a maior expansão nos últimos meses se deu justamente no Centro-Oeste, com alta de 3,6% em fevereiro contra dezembro do ano passado, bem acima das outras regiões. Essa tendência de crescimento do interior deverá se manter e acelerar ao longo dos próximos anos com o choque tarifário de [Donald] Trump, que tende a nos aproximar ainda mais da China”, aponta relatório da MB assinado por Vale.

As estimativas para 2025 sinalizam diferenças em relação ao cenário visto em 2024, quando a agropecuária foi prejudicada por uma série de problemas climáticos no país.

Nesse contexto, a atividade econômica fechou o ano passado com crescimento acumulado de 2,9% em 12 meses no Centro-Oeste, abaixo das taxas registradas no Norte (4,8%), no Sul (4,2%), no Nordeste (4,1%) e no Sudeste (3,2%).

O PIB do Brasil, por sua vez, teve alta de 3,4% em 2024, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O instituto também calcula o indicador dos estados e das grandes regiões, mas esses recortes levam mais tempo para ficar prontos –o ano mais recente com informações disponíveis é 2022.

O desempenho do PIB brasileiro no primeiro trimestre de 2025 será divulgado pelo IBGE no dia 30 de maio. Com os juros altos, analistas do mercado financeiro esperam uma desaceleração do indicador para 2% no acumulado deste ano, segundo o boletim Focus, do BC.

Na semana passada, a autoridade monetária aumentou a taxa básica de juros, a Selic, para 14,75% ao ano –o maior patamar em quase duas décadas. O possível efeito da medida é o freio no consumo e nos investimentos produtivos, já que o crédito fica mais caro para famílias e empresas.

Ao tentar desestimular a demanda por bens e serviços, o BC pretende conter a pressão sobre os preços. A inflação oficial do país foi de 5,53% nos 12 meses até abril, distante do teto de 4,5% da meta perseguida pela instituição.

Se de um lado os juros dificultam o crescimento, de outro a safra traz estímulo. Tanto o IBGE quanto a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) esperam uma produção de grãos recorde neste ano, o que tende a favorecer locais com agropecuária forte, como é o caso do Centro-Oeste.

A safra também é vista como possível fator de alívio para a inflação dos alimentos. A carestia da comida tem pressionado o bolso das famílias, especialmente as mais pobres, que destinam uma parcela maior do orçamento, em termos proporcionais, para a compra dos produtos básicos.

A inflação dos alimentos é apontada como uma das principais razões para a queda da aprovação do presidente Lula (PT) no começo de 2025. As mercadorias subiram de preço após os impactos de problemas climáticos na produção e em meio a um cenário de dólar alto.