RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O presidente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Marcio Pochmann, afirmou que o novo mapa-múndi do órgão, lançado na semana passada, “alcançou êxito instantâneo”, considerando o que o economista chamou de “importante debate aberto” pela projeção cartográfica.
A iniciativa, contudo, provocou críticas da associação sindical que representa os servidores do instituto, a Assibge. Na avaliação da entidade, o mapa teve um lançamento “bastante problemático”, sem construção pelas áreas técnicas do IBGE.
A nova projeção viralizou nas redes sociais ao mostrar os territórios dos países de ponta-cabeça na comparação com modelos tradicionalmente usados. Com a representação invertida, as nações do chamado sul global ocupam a parte superior do globo, e o Brasil preenche o centro do mapa.
Ao anunciar a novidade, Pochmann disse na semana passada que o trabalho buscava ressaltar a posição de liderança do país em fóruns internacionais como o grupo dos Brics e a COP30 (a conferência da ONU sobre mudança climática). Com trajetória ligada ao PT, o economista assumiu o comando do IBGE em agosto de 2023, após indicação do presidente Lula (PT).
“O mapa em si não apresenta nenhuma incorreção técnica, e poderia compor, em conjunto com outras representações, atlas e materiais didáticos, trazendo um debate bem-vindo sobre as representações cartográficas e sua expressão política”, afirma a executiva nacional da Assibge.
“O que avaliamos como bastante problemático é o lançamento de um produto que não foi construído pelas áreas técnicas, não teve um lançamento adequado, e parece atender a agenda pessoal do presidente Marcio Pochmann”, completa a entidade sindical.
O economista usou sua conta na rede social X (ex-Twitter) para tratar do assunto em uma sequência de mensagens na segunda (12) e nesta terça (13).
Segundo ele, a “enorme procura” pelo modelo colocado à venda na loja virtual do instituto “ressalta como a diversidade da representação visual de um país no planeta Terra é fundamental para a emancipação da opinião pública livre e democrática do povo brasileiro”.
Em outra postagem, o economista anunciou que, “depois de uma longa viagem em classe econômica de 31 horas”, chegou à China, onde Lula participa de agendas.
Pochmann compartilhou fotos segurando o novo mapa do IBGE ao lado de autoridades chinesas e da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que comanda o Novo Banco de Desenvolvimento, o banco dos Brics. O economista escreveu na postagem que a projeção cartográfica do instituto “inspira líderes mundiais”.
Em 2023, Pochmann causou polêmica ao elogiar a produção de dados no Oriente, citando a China. A manifestação despertou críticas de analistas que apontaram à época falta de transparência do país asiático na área de estatísticas.
No ano passado, a gestão do economista virou foco de debates com a criação de outro mapa-múndi no IBGE. O material lançado em 2024 já trazia o Brasil no centro da projeção, mas não de forma invertida, como ocorreu em 2025.
Chamado de “lacração geográfica” por alguns e “ícone decolonial” por outros, o mapa anterior polarizou internautas que passaram a discutir temas como cartografia, geopolítica e patriotismo. Na ocasião, o IBGE chegou a falar em “grande sucesso” da ideia.
Houve, porém, quem enxergasse ruído desnecessário para o instituto, um órgão de Estado que historicamente prezou pela discrição ao divulgar dados que muitas vezes são sensíveis para governantes.
O IBGE é responsável pelo Censo Demográfico e por indicadores como PIB (Produto Interno Bruto), taxa de desemprego e inflação.
A CRISE NO IBGE
A criação do mapa invertido ocorre meses após a explosão de uma crise interna na instituição. Servidores passaram a reclamar de medidas adotadas pela gestão Pochmann, como a criação de uma fundação de direito privado, a IBGE+, suspensa neste ano.
O sindicato dos trabalhadores chegou a apontar autoritarismo em decisões da direção, que rebateu as acusações em diferentes ocasiões. Pochmann conseguiu se manter no cargo apesar da crise.
O IBGE anunciou o lançamento do mapa invertido em conjunto com a realização de um evento chamado Triplo Fórum Internacional da Governança do Sul Global – Novos indicadores e temas estratégicos para o desenvolvimento e a sustentabilidade na Era Digital.
Segundo o instituto, a programação é organizada em conjunto com o Governo do Ceará. A agenda está prevista para ocorrer de 11 a 13 de junho em Fortaleza.
O novo mapa também traz indicações da cidade do Rio de Janeiro, que recebe a cúpula dos Brics neste ano, de Belém, sede da COP30, e do estado do Ceará, em razão do Triplo Fórum.
Internamente, o lançamento da projeção cartográfica desagradou parte dos servidores por ter ocorrido em meio à divulgação de uma das principais pesquisas do IBGE, a Pnad Contínua: Rendimento de Todas as Fontes.
Publicado na quinta (8), esse estudo mostrou que a desigualdade de renda no país caiu em 2024 para o menor patamar de uma série histórica com dados desde 2012.
Em entrevista à coluna de Mônica Bergamo na semana passada, Pochmann disse que os comentários a favor ou contra o novo mapa “fazem parte” e que não há nada de errado com a representação.
“A sociedade pode se colocar como quiser, mas a instituição tem autonomia. O mapa visa estimular a reflexão a partir do sul global. Ele passou por toda a área técnica antes de ser publicado. Lembrando que não há nada de errado tecnicamente, já que o planeta é redondo”, afirmou.