SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Dados brandos de inflação nos EUA impulsionam (mais) o sentimento de alívio no mercado, americanos voltam atrás em taxa das blusinhas e outros destaques do mercado nesta quarta-feira (14).

**O PIOR JÁ PASSOU (?)**

Pela onda de alívio que atinge o mercado financeiro, dá até para pensar que ninguém tem problemas mais. Contudo, o perigo sempre está à espreita.

FOGUETE NÃO TEM RÉ

Quem viu o desempenho tímido da bolsa brasileira na segunda-feira pode se surpreender com os números desta terça-feira (13). Ela renovou o recorde histórico.

Ao final do pregão, o Ibovespa disparou 1,75%, a 138.963 pontos.

Na máxima do dia, chegou a 139.418 pontos, outro patamar inédito durante o período de negociações.

O recorde anterior de fechamento era de 28 de agosto de 2024, quando marcou 137.343 pontos, e o de negociação intradiária era da quinta-feira passada (8), de 137.634 pontos.

Lá fora…também rolou bastante otimismo.

– O S&P 500 subiu 0,72%;

– O Nasdaq Composite escalou 1,61%;

– Contrariando a corrente, o Dow Jones perdeu 0,64%.

POR QUÊ?

Já falamos sobre a trégua entre China e Estados Unidos na guerra comercial na segunda-feira, decisão que revigorou o apetite dos investidores por gastar dinheiro –agora, com um pouco menos de medo do que vem aí. O alívio contaminou as negociações desta terça.

Se não bastasse ganhar os docinhos, o mercado ainda foi presenteado com um bolo. O CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês) dos EUA, que é uma das métricas da inflação do país, veio abaixo das estimativas.

Ele esperava uma alta de 0,3% em abril, mas a inflação veio em 0,2%, depois de ter caído 0,1% em março.

Parece bom demais para ser verdade? Em partes, é mesmo. É sempre bom lembrar que as tarifas americanas para o restante do mundo estão fixadas em 10% apenas por enquanto. E vai saber se o tarifaço é a única medida arriscada que Trump vai anunciar nos próximos tempos?

Os especialistas acreditam, ainda, que os dados não capturam as principais sobretaxas instauradas por Washington. Ou seja, o chumbo grosso ainda não chegou.

Mas, para quem estava com medo de pagar taxas de até 145% para importar produtos chineses e se preparando para ver a inflação disparar, o que temos já é lucro.

**’TAX OF LITTLE BLUSAS’**

Você sabia que o Brasil não foi o único país a exercer o dom da criatividade e criar uma tarifa para a importação de produtos de baixo valor agregado? Na verdade, esta é uma forma bastante comum de tentar barrar a enxurrada que vêm de países que os produzem (como a China) e reduzir a ameaça ao varejo local.

Os Estados Unidos vão diminuir a “taxa das blusinhas” de lá –de remessas de baixo valor vindas da China.

Lojas como Shein, Temu e Aliexpress estão entre as mais favorecidas pela decisão.

Guardando a faca. A medida faz parte do alívio tarifário entre os dois países e mais uma forma de mostrar que eles estão baixando a guarda –depois de causar crises de pânico ao redor do mundo.

Tarifa de “minimis”…é o apelido que esse imposto ganhou entre os americanos. A suspensão dela não foi citada na declaração conjunta divulgada em Genebra, mas foi anunciada depois em um decreto da Casa Branca.

Sim, mas…a taxa não será extinta, só reduzida (e continua alta). Ela sai de 120% para 54%, com uma taxa fixa de US$ 100 (R$ 560) a ser mantida, a partir de hoje.

O plano para uma taxa fixa de US$ 200 (R$ 1.135) também será cancelado, disse, mantendo-a em US$ 100.

NADA SERÁ COMO ANTES

Nos distantes tempos pré-tarifaço, havia uma isenção de impostos para produtos de baixo valor vindos da China. Trump culpou-a por ser muito usada por empresas como Shein, Temu e outras do comércio eletrônico.

Especialistas do setor disseram que as transportadoras podem pagar a taxa de 54% ou US$ 100 por pacote. Empresas de logística ou despachantes cobram essas tarifas dos vendedores na China antecipadamente.

O número de remessas que entram nos EUA por meio desse canal disparou nos últimos anos, com mais de 90% de todos os pacotes chegando por esta via.

Destes, 60% vieram da China, liderados pelos varejistas que já citamos.

Engordando o porquinho. Os chineses exportaram U$ 240 bilhões (R$ 1,34 trilhão) em bens diretos ao consumidor, que se beneficiam da taxa das “little shirts” em todo o mundo no ano passado. A coisa é tão grande que representa 7% das suas vendas ao exterior e contribui com 1,3% do PIB (Produto Interno Bruto), segundo estima a Nomura.

ENGORDANDO O PORQUINHO

Por aqui a “taxa das blusinhas” segue firme e forte. Caso você não se lembre, a lei estabeleceu uma alíquota de 20% para compras internacionais de até US$ 50 (R$ 280) em plataformas internacionais.

A taxação foi uma resposta ao pleito de varejistas, que viram suas vendas caírem com a ascensão dos sites massivos e das compras digitais na pandemia. As marcas brasileiras destacaram a diferença de carga tributária entre produtos nacionais e aqueles importados.

**ACORDANDO DE UM SONHO**

Quando somos crianças, nossos pais nos dizem que podemos conquistar o que quisermos. O problema é que tem gente que acredita e se frustra bastante na vida adulta. Aconteceu mais ou menos isso com a Natura.

Depois da expansão internacional, a empresa brasileira de cosméticos se retrai e diminui a envergadura aos poucos. Ela anunciou nesta terça-feira que vai demitir 25% dos funcionários da Avon International, cerca de 1.100 pessoas,.

RECAPITULANDO

Há alguns anos, a Natura –que já era enorme no Brasil– decidiu que era hora de dar um passo importante na expansão dos negócios: investir no crescimento global.

Eles compraram marcas globais como a The Body Shop, a Aesop e, a operação mais relevante, a fusão com a Avon. Com tudo isso embaixo do braço, virou Natura & Co., um dos maiores conglomerados de beleza do mundo.

Ficou atrás só de gigantes como L’Oréal, Unilever e P&G.

A questão é que ficou muito difícil administrar tanta coisa dando pouco tempo para a adaptação. Não ajuda que o modelo de negócio da Avon, marca uma vez vendida de porta em porta ou nas revistinhas, esteja perdendo espaço para o e-commerce, já dominado por concorrentes.

R$ 438,4 milhões é o tamanho do prejuízo que a holding anunciou no último trimestre de 2024, informação que derrubou em 30% as ações da companhia. Foi necessário anunciar uma reestruturação interna para acalmar os ânimos.

– A Body Shop e a Aesop foram vendidas em 2023;

– A Avon vai ser reduzida drasticamente. A controladora volta a se chamar Natura Cosméticos S.A. e passa a controlar ambas as marcas.

LUZ NO FIM DO TÚNEL?

Talvez. As mudanças, aparentemente, começaram a dar resultados. O balanço do primeiro trimestre deste ano veio bem alinhado ao que o mercado esperava.

A empresa reportou uma receita líquida de R$ 6,68 bilhões no período. As ações da Natura & Co. avançaram 6,49% nesta terça, em meio à repercussão positiva dos números.

**TERRA DO NUNCA**

E se disséssemos que uma cidade tecnológica deveria ser construída no Brasil? E que milhares de aparelhos moderníssimos poderiam estar sendo fabricados aqui? Pois é, está uma promessa que nunca saiu do papel. Vamos entender.

Há 14 anos o governo Dilma Rousseff comemorava o anúncio de um investimento de US$ 12 bilhões (US$ 17 bilhões corrigidos pela inflação ou R$ 95 bilhões na cotação atual) de investimentos da taiwanesa Foxconn no Brasil.

Isso aconteceu em uma viagem da então chefe do Planalto para Pequim, parecida com a que o presidente Lula faz agora.

As negociações, lideradas por Aloizio Mercadante (ministro da Ciência e Tecnologia na época, hoje presidente do BNDES), prometiam gerar 100 mil empregos, do quais 20 mil para engenheiros, e produzir iPads em território brasileiro.

Tá bom que, hoje, alguns modelos recentes do iPhone são montados no Brasil, mas nada perto da expectativa gerada por aquela divulgação.

FOX, QUEM?

Foxconn. Ela é uma das principais fabricantes de produtos eletrônicos de renome no mundo, incluindo dispositivos da Apple, o videogame PlayStation da Sony e TVs.

VIROU VINAGRE

Em 2012, a coisa começou a azedar. O governo brasileiro exigia que a empresa utilizasse nas novas fábricas sua tecnologia de última geração, mas a taiwanesa resistia. Sem acordo, o Brasil afirmou que não iria financiar o projeto por meio do BNDES —uma das exigências dos taiwaneses.

A companhia taiwanesa fez uma lista extensa de exigências, que iam de infraestrutura a garantia de incentivos, passando por mudança na legislação fiscal.

O cenário internacional também contribuiu para o descarrilamento do projeto. Com a queda na demanda, a Foxconn não tinha pressa em expandir, porque unidades na Ásia estavam conseguindo atender aos pedidos do setor.

Dali para frente…foi só para trás. Um levantamento da Reuters mostrou que pouquíssimos empregos foram criados pela empresa aqui, além do abandono do projeto de uma planta tecnológica em Itu, interior de São Paulo.

**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**

Atenção! O INSS notificou nesta quarta-feira 9 milhões de pessoas que tiveram descontos nas aposentadorias. Veja como verificar se é o seu caso.

Muito ouro. Excursão de Trump ao Oriente Médio dá os primeiros frutos e Arábia Saudita e EUA firmam acordo de US$ 600 bi de investimento em IA e defesa.

Cinco minutos…é tempo demais par usar indo ao banheiro, segundo o Atacadão. A rede de hipermercados é condenada por controlar a pausa dos funcionários para necessidades básicas.

“Rei dos ovos”…é o apelido angariado por Ricardo Faria, que leva seus negócios para os EUA na esperança de lucrar com a crise da gripe aviária por lá.