BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Lula (PT) sinalizou a auxiliares que o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) deverá ser anunciado ministro na volta de sua viagem à China. Ele assumiria a Secretaria-Geral da Presidência no lugar de Márcio Macêdo (PT), que está no cargo desde o começo do governo.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, o presidente avalia o nome de Boulos desde o início do ano, quando traçou sua reforma ministerial. A volta do presidente ao Brasil está prevista para esta quarta-feira (14).
O objetivo do presidente com a troca é melhorar a interlocução com movimentos sociais, atividade principal da secretaria, um ano antes da disputa presidencial. No entanto a iminente nomeação despertou preocupação de lideranças desses grupos com a composição da equipe da pasta.
Na formação da Secretaria-Geral, Macêdo incorporou quadros do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e da CMP (Central de Movimentos Populares), entre outros grupos.
Com a nomeação de Boulos, ex-coordenador e principal liderança do MTST, a preocupação é com a possível hegemonia do movimento na estrutura da pasta. Para além dos cargos em si, as posições ajudam a influenciar na definição de políticas que contemplam os projetos e causas de um ou outro movimento.
Essas lideranças apontam o caso da Secretaria Nacional de Periferias, vinculada ao Ministério das Cidades, como histórico negativo. A pasta é comandada por Guilherme Simões, indicado por Boulos e membro do MTST, e, segundo líderes de outros movimentos, praticamente não há interlocução com eles.
Líderes também manifestam incômodo com o que veem como desproporção entre a importância do cargo que Boulos ocupará e o tamanho do MTST em relação a outros movimentos. Como o deputado é representante de uma fração minoritária dos movimentos sociais, avaliam, a tendência é que sua nomeação agrade a poucos e desagrade a muitos.
Aliados de Boulos disseram à Folha que ele ainda aguarda a decisão do presidente Lula a respeito de sua nomeação e que, caso se torne ministro, dialogará com todos os movimentos sociais. Procurado, o deputado não quis se manifestar.
A escolha do psolista para um ministério passa por uma preferência pessoal de Lula. Na corrida pela Prefeitura de São Paulo no ano passado, o presidente se empenhou pessoalmente para que o PT apoiasse a candidatura de Boulos, tendo idealizado a composição da chapa que teve Marta Suplicy na vice.
Em meio às negociações com seu partido, o presidente chegou a dizer que considerava Boulos mais petista do que alguns filiados ao PT.
Sob influência de Lula, o PT abriu mão de candidatura na maior cidade do país para apoiá-lo. Boulos chegou ao segundo turno, mas foi derrotado por Ricardo Nunes (MDB), reeleito com o apoio do bolsonarismo.
Lula tem confiança e apreço por Boulos. No ano passado, fez campanha por ele, uma das poucas em que o presidente efetivamente se engajou mas na reta final não foi a São Paulo. Aliados citaram seu quadro de saúde na época, quando ele caiu no banheiro do Palácio do Alvorada.
Em 2022, durante a transição de governo, Boulos esteve cotado para assumir algum ministério, tendo participado do grupo de trabalho de Cidades. Mas isso não ocorreu, uma vez que ele já era à época pré-candidato à prefeitura.
No esboço da reforma ministerial, o nome cogitado para a Secretaria-Geral era o da ex-presidente do PT Gleisi Hoffmann. Mas, com sua nomeação para a articulação política, Lula passou a considerar Boulos para a vaga.
Segundo aliados, sua intenção é reanimar o eleitorado de esquerda. No momento em que uma ala do centrão que está no governo ameaça aderir a adversários do presidente nas eleições, a estratégia seria consolidar a base histórica para chegar com segurança a 2026. A ideia é também ganhar maior combatividade nas redes sociais frente à artilharia bolsonarista.
No começo do mês, Lula deu mais um passo em sua reforma ministerial com o objetivo de conexão com o campo da esquerda ao substituir a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves (PT), pela também petista Márcia Lopes.