RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Polícia Militar do Rio de Janeiro considera a morte de Thiago da Silva Folly, o TH, uma perda estratégica para o TCP (Terceiro Comando Puro) e admite que a ausência do traficante, morto nesta terça-feira (13) em operação do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), pode desencadear uma disputa pelo controle do tráfico no Complexo da Maré, na zona norte do Rio. A facção opera de forma descentralizada, o que pode dificultar a sucessão imediata do comando na região.
Segundo a corporação, TH era uma figura-chave dentro da estrutura do TCP, especialmente por sua atuação na Maré, um dos territórios mais importantes da facção no país.
“Nós ainda não temos informação sobre essa linha de sucessão. Mas entendemos que é uma baixa muito importante. A Maré é uma região complexa, um ponto estratégico para as diversas facções criminosas que atuam ali”, disse à reportagem a tenente-coronel Cláudia Moraes, porta-voz da PM.
Composto por 16 comunidades, o Complexo da Maré é dividido entre as duas principais facções do tráfico de drogas do Rio o TCP e o Comando Vermelho (CV) e é considerado estratégico por cortar as principais vias expressas da cidade, como a Linha Amarela, a Linha Vermelha e a avenida Brasil. Delimitada pela baía de Guanabara, a região atrai grupos criminosos de diferentes estados.
Para evitar movimentações de criminosos, a Polícia Militar reforçou a presença no entorno da comunidade. “Entramos com reforço ao 22º BPM, com ocupação permanente, por 24h, nos principais acessos da Maré. Será por tempo indeterminado. É uma operação de cerco para coibir tanto a entrada de criminosos que queiram ocupar a região quanto a saída dos que já estão lá”, explicou Moraes.
A ação que resultou na morte de TH foi planejada por oito meses, com o apoio da Subsecretaria de Inteligência. Ele foi localizado em um imóvel na comunidade do Timbau, onde se escondia em uma espécie de bunker (abrigo subterrâneo blindado). O local, segundo os agentes, era usado para refino de drogas e armazenamento de armas. Segundo a polícia, ele estava acompanhado de ao menos 30 seguranças, e dois deles também morreram no confronto.
Figura histórica da facção, TH começou como segurança de Marcelo Santos das Dores, o Menor P, e assumiu o controle do tráfico na Maré na virada da década de 2010. Desde então, passou a comandar roubos de carga e extorsões em vias expressas e a proteger criminosos de outros estados.
O traficante estava foragido desde 2014 e tinha 227 anotações criminais e 17 mandados de prisão em aberto, um dos quais referente ao assassinato de dois sargentos do Bope no ano passado. Durante uma entrevista coletiva nesta terça para detalhar a operação, a Polícia Militar mostrou a ficha criminal de TH, em folha impressa com cerca de cinco metros de comprimento.
A expectativa é de que o grupo criminoso leve algum tempo para se reorganizar. A PM avalia que diferente do Comando Vermelho, que tem uma hierarquia verticalizada, o TCP funciona como uma rede de lideranças regionais autônomas, que se articulam de forma independente.
Por isso, segundo o subsecretário de Inteligência da PM, Uirá Ferreira, não há impacto imediato sobre outras áreas dominadas pela facção, como o morro dos Macacos. Ainda assim, a ausência de TH pode acirrar uma disputa interna na Maré.
“No crime organizado não existe vácuo. Já estamos acompanhando esse cenário com nossa inteligência, em articulação com outras corporações”, disse Ferreira.
Segundo a investigação, TH dividia o comando da facção na Maré ao lado de Edmilson Marques de Oliveira, o Cria ou Di Ferro, e Michel de Souza Malveira, conhecido como Bill ou Mangolê. Cria é considerado um dos criminosos mais violentos da facção, responsável por ataques a policiais e operações de confronto direto. Já o perfil de Bill é mais estratégico e voltado aos negócios.
A complexidade da região é acentuada por uma geopolítica local marcada por zonas de tensão e códigos próprios. A “Faixa de Gaza”, faixa que separa a Nova Holanda da Baixa do Sapateiro, é um exemplo disso trata-se de uma linha de fronteira entre áreas do Comando Vermelho e do TCP, onde regras rígidas regulam a convivência entre facções rivais, inclusive com restrições à circulação de moradores.
De acordo com o mapeamento da polícia, o território dominado pelo TCP também convive com a presença de milicianos em áreas vizinhas, como Roquete Pinto e o Piscinão de Ramos. Segundo investigações, o avanço do grupo paramilitar na região tem sido silencioso, mas constante.