SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa brasileira renovou o recorde histórico nesta terça-feira (13), embalada pelos dados de inflação ao consumidor dos Estados Unidos e pela trégua tarifária entre os norte-americanos e a China.

Ao final do pregão, o Ibovespa fechou em disparada de 1,75%, a 138.963 pontos. Na máxima do dia, chegou a 139.418 pontos, outro patamar inédito durante o período de negociações.

Até aqui, o recorde de fechamento era de 28 de agosto de 2024, quando marcou 137.343 pontos, e o de negociação intradiária pertencia à quinta-feira passada (8), de 137.634 pontos.

O dia também foi positivo no mercado de câmbio. O dólar teve forte queda de 1,37% e encerrou a sessão cotado a R$ 5,606, o menor valor desde outubro do ano passado.

O exterior está por trás do bom desempenho dos ativos brasileiros nesta sessão. De um lado, o CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês) dos Estados Unidos veio abaixo das expectativas. Enquanto o consenso do mercado era de uma alta de 0,3% no mês de abril, a inflação veio em 0,2%, depois de ter caído 0,1% em março.

Nos 12 meses até abril, os preços ao consumidor avançaram 2,3%, enquanto as projeções apontavam para uma manutenção dos 2,4% da leitura anterior.

“O dado diminui a pressão sobre o Fed [Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos] e reforça a tese de que, mesmo com os riscos inflacionários por causa das tarifas do presidente Donald Trump, os juros devem permanecer estáveis por mais tempo”, diz Lucas Almeida, sócio da AVG Capital.

“Essa leitura me parece estar sendo bem recebida pelo mercado, pois retira do radar a possibilidade de novas altas de juros em um momento de desaceleração econômica.”

A interpretação de especialistas é que os dados capturam apenas as tarifas adotadas antes do anúncio do “dia da libertação” do presidente Donald Trump, em 2 de abril. Entre elas, as taxas de 20% sobre todas as importações chinesas, em retaliação à droga fentanil, e as de 25% sobre carros e caminhões leves importados.

De lá para cá, Trump impôs e voltou atrás em uma série de tarifas a parceiros comerciais. Em meio à reação turbulenta dos mercados, sobretudo no de títulos do Tesouro norte-americano, o republicano suspendeu a maioria das sobretaxas específicas de cada país por 90 dias e aplicou uma geral de 10% sobre quase todas as importações.

É provável que o próximo relatório do CPI -o referente a este mês de maio- já indique um impacto significativo do tarifaço do presidente nos preços ao consumidor.

“Essa foi, provavelmente, a última leitura suave da inflação norte-americana pelos próximos meses. O CPI de abril não trouxe indícios claros do impacto do choque tarifário ao consumidor, exceto, talvez, no setor de passagens aéreas. Mas a expectativa é que principalmente produtos eletrônicos e automóveis se façam sentir daqui para frente”, avalia Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX.

No geral, pondera o analista, a inflação aparenta estar caminhando em direção à meta de 2% do Fed. “É um bom sinal, porque pode acelerar o corte de juros, o que tende a prejudicar o rendimento dos títulos do Tesouro e a enfraquecer o dólar globalmente”, diz ele.

Essa visão também está amparando os mercados de maior risco, como a Bolsa brasileira.

“O problema é que esse CPI não deve ditar tendências futuras, porque os impactos do tarifaço são esperados para os próximos meses. É difícil saber exatamente como a economia dos EUA vai evoluir.”

Essa incerteza voltou a rondar os negócios globais nesta terça e incentivou a migração para mercados alternativos. O movimento sucede o acordo comercial entre Estados Unidos e China, firmado em Genebra durante o fim de semana -outro fator de alívio para os investidores.

Ficou acertado que, durante 90 dias, os EUA reduzirão de 145% para 30% as tarifas adicionais sobre produtos chineses (10% de taxa básica, mais 20% relacionados ao fentanil). A China, por sua vez, diminuirá as taxas sobre importações americanas para 10%, ante os 125% de hoje. O país asiático também disse que irá suspender ou cancelar medidas não tarifárias tomadas contra os EUA.

O entendimento entre os dois países arrefeceu a escalada de tensões causada pela guerra comercial, instalando otimismo entre os mercados. A percepção é que os riscos de uma “estagflação” nos EUA -isto é, um cenário de inflação alta e atividade estagnada- se tornaram menores.

Também esteve no radar a ata da última reunião do Copom. Na semana passada, o colegiado optou por subir a taxa básica de juros do Brasil, a Selic, em 0,5 ponto percentual, a 14,75% ao ano.

No documento divulgado na manhã desta terça, o comitê mostrou mais confiança no processo de desaceleração da atividade econômica. Segundo ele, os juros elevados têm contribuído e seguirão ajudando a moderar o crescimento da economia.

O Copom manteve em aberto seus próximos passos e repetiu mensagem do comunicado sobre a necessidade de cautela e flexibilidade.

Houve unanimidade entre os membros sobre a necessidade de manter os juros altos por mais tempo diante da deterioração das expectativas de inflação, hoje distantes do alvo. Além disso, o comitê afirmou que os vetores que contribuem para inflação seguem adversos, citando a resiliência da economia, as pressões no mercado de trabalho e as projeções elevadas.

“Foi um tom duro, mas não tão duro quanto o das últimas atas. O BC está reforçando o compromisso em perseguir a meta de inflação, o que é uma boa sinalização para o mercado, e também fez alguns apontamentos de que pode pausar o ciclo de aperto na próxima reunião, apesar de repetir que o cenário inflacionário seguirá sendo o motivador das decisões”, diz Pedro Moreira, sócio da One Investimentos.

“Ou seja, se tivermos uma inflação saindo da linha, poderemos ver um aumento de juros de novo. Mas esse não é o cenário base para o mercado, o que despertou bom humor nos investidores.”