PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – O presidente Lula e o líder chinês Xi Jinping divulgaram uma declaração conjunta, ao final da visita de Estado desta terça (13), em Pequim, em que procuraram ressaltar avanços concretos que teriam alcançado nos últimos seis meses, desde a visita de Xi ao Brasil, em novembro.

Em seu discurso final, ao lado de Xi, Lula afirmou ter conversado com o líder chinês sobre “a mobilização de financiamento para projetos de infraestrutura” como as rotas do Corredor Bioceânico, que prometem ligar o Brasil a portos no Chile e no Peru -e daí para China e Ásia.

Mencionou a missão chinesa que visitou o Brasil “para examinar oportunidades de investimento em infraestrutura no âmbito das rotas de integração sul-americana”. Disse buscar que elas sejam não só corredores de exportação entre os oceanos Atlântico e Pacífico, mas “vetores de indução do desenvolvimento”.

Questionada, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, que coordena os projetos, disse que há interesse chinês “de realmente atender o Brasil naquilo que o país precisa”, citando infraestrutura. “Nós precisamos rasgar o Brasil de ferrovias”, repetiu ela, usando expressão sua que viralizou antes da viagem.

“O objetivo é diminuir em até 10 mil quilômetros a distância, para nos tornarmos competitivos com a própria produção agrícola da Ásia”, afirmou, anotando que a primeira a entrar em operação, neste ano, é a rota 2, fluvial.

Sobre ferrovia, disse que “a gente começou um trecho, faltando agora a estatal ferroviária que esteve no Brasil aceitar o que nós pedimos, que é elaborar um projeto, em que eles têm expertise”. A decisão é esperada a tempo da cúpula do grupo Brics, em julho, no Brasil.

PANDABONDS E TÍTULOS DO BRASIL

Se a concretização do projeto do Corredor Bioceânico foi, ao menos em parte, adiada, outro foco das negociações dos últimos seis meses apresentou avanço. Entre as sinergias destacadas na declaração conjunta, a cooperação financeira volta com três ações definidas.

Foi também o primeiro “resultado concreto” na lista de Lula, em seu discurso. “A cooperação entre os bancos centrais permitirá maior integração financeira e facilitará investimentos”, falou.

Um integrante da comitiva detalhou que serão três ações: a emissão pelo Brasil de pandabonds, títulos em moeda chinesa, para o mercado chinês; a compra de títulos da dívida soberana brasileira pela China, que já teria começado; e o swap cambial anunciado um dia antes, em Brasília.

Questionado, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou que o swap “é para estabilidade financeira” e procurou explicar: “Quando você tem negócios entre dois países, especialmente financeiros, o banco central de um lado tem autoridade para emitir sua própria moeda, e o banco central do outro lado tem autoridade para emitir sua própria moeda. Para não precisar ficar acumulando reservas dos dois lados, na moeda do outro, o que você faz? Tem um contrato, ‘se você precisar da minha moeda, eu te empresto’.”

Segundo ele, “é um seguro, dentro das camadas que você tem de estabilidade financeira”. A diferença agora, acrescentou, para explicar por que entrou na coluna de “resultado concreto” de Lula, “é porque este a gente assinou”. E lembrou: “A gente tem com os Estados Unidos também, com o Fed, igualzinho”.

Chamada por Galípolo para comentar, nos corredores do Grande Salão do Povo, em Pequim, a presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, Dilma Rousseff, apontou o papel importante dos swaps cambiais para superar a crise financeira de 2008.

Durante a visita, a comitiva brasileira também se encontrou com empresários chineses, que prometeram investimentos da ordem de R$ 27 bilhões no Brasil.

BRASIL VAI EXPORTAR FARELO DE MILHO À CHINA

O Brasil assinou protocolos com a China nesta terça-feira (13) para permitir a exportação de DDGs (grãos secos de destilaria), como é conhecido o farelo de milho derivado da produção de etanol do cereal, além de acordos para exportar mais produtos avícolas, todos descritos como históricos por autoridades.

A exportação pelo Brasil do DDG, utilizado como insumo na ração animal, desafia o domínio dos EUA nesse mercado em meio a disputas comerciais entre China e EUA.

Além do DDG, o Brasil abriu o mercado chinês para a exportação de carne de pato, carne de peru, miúdos de frango (coração, fígado e moela) e farelo de amendoim, de acordo com nota do Ministério da Agricultura brasileiro.

“Sob a liderança do presidente Lula, o Brasil alcança uma conquista histórica com o maior número de aberturas de mercado para a China de uma única vez. Um reflexo da confiança mútua e da boa relação entre os dois países”, afirmou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, em nota.

Em 2024, a China importou US$ 155 milhões (R$ 870 milhões) de miúdos de frango, US$ 50 milhões (R$ 281 milhões) de carne de peru, US$ 1,4 milhão (R$ 7,9 milhões) de carne de pato, mais de US$ 66 milhões (R$ 371 milhões) em DDG e DDGS e US$ 18 milhões (R$ 101 milhões) em farelo de amendoim, segundo dados da aduana chinesa citados pelo ministério brasileiro.