ROMA, ITÁLIA (FOLHAPRESS) – Leão 14 enviou uma bênção especial aos fiéis da arquidiocese do Rio de Janeiro, disse à reportagem dom Orani Tempesta, primeiro cardeal brasileiro recebido em audiência privada pelo novo papa. O encontro ocorreu na tarde de segunda-feira (12) para tratar da nomeação de bispos auxiliares e outros assuntos da circunscrição carioca.
Foram 15 minutos com o papa, contou dom Orani. Inicialmente eles falaram em português, idioma que o papa compreende, e depois em italiano.
Até o conclave que o escolheu, o cardeal Robert Prevost era prefeito do Dicastério para os Bispos, órgão da Igreja responsável pela aprovação das nomeações para as dioceses. Com sua eleição, o cargo ficou vago e “questões ainda estavam pendentes”. “Coisas que fazem parte do dia a dia da conversa do arcebispo com o dicastério”, explicou dom Orani.
O arcebispo do Rio precisava tratar com urgência do tema. Ele não pôde ficar no Vaticano para a missa de entronização, no próximo domingo (18), e chega ao Brasil na manhã desta quarta-feira (14). No sábado (17), deve ordenar novos padres e apresentar bispos auxiliares.
“Cumpri minha missão aqui. Pedi desculpas. Ele sabe que não vou poder estar presente devido a esses compromissos que se acumularam.” Dom Orani estava em Roma desde o último dia 23, dois dias após a morte do papa Francisco.
Na manhã desta quarta, o arcebispo deve conceder entrevista à imprensa sobre sua experiência no conclave. Ele falou à reportagem nesta terça (13), no Colégio Pio Brasileiro, instituição mantida pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) para dar apoio a religiosos brasileiros que estudam em Roma.
Dom Orani convidou o papa a visitar o Rio de Janeiro. O brasileiro acrescentou, porém, que “todo mundo fez convites” ao pontífice: “É claro que ele disse que vai pensar, vai ver a ocasião. Precisa ser um acontecimento bastante específico para um deslocamento do Santo Padre.”
Ele disse acreditar que a primeira viagem do papa será, como se especula, à Turquia para a comemoração dos 1.700 anos do Concílio de Niceia, marco importante na história da Igreja Católica.
Para o arcebispo do Rio, Leão 14 “tem impressionado o mundo, pela sua presença, sua originalidade, sua participação, sua proximidade”. “O mundo vai se acostumando com o novo estilo, com a voz do papa. E ele também vai se acostumando com a sua missão.”
“É alguém que traz uma grande esperança. Depois de termos chorado a morte do papa Francisco, temos outro perfil, um religioso agostiniano, que conhece o mundo todo. [É] missionário e também administrador”, acrescentou.
No perfil da arquidiocese do Rio no Instagram, dom Orani publicou uma foto dele com o papa diante de um retrato de Leão 13, último papa do século 19, lembrado pela preocupação com as questões sociais. Segundo o cardeal brasileiro, o simbolismo da imagem é proposital.
“Leão 13 foi aquele que viu as novas situações dos direitos dos trabalhadores e fez a famosa encíclica Rerum Novarum [latim para “as coisas novas”], que marcou a história da Igreja. E o papa Leão 14 já falou sobre isso: a questão do trabalho, a inteligência artificial, as novas tecnologias, uma reflexão sobre essas coisas novas que vão acontecendo.”
Dom Orani lembrou a tradição de trabalho social da arquidiocese do Rio, na linha preconizada por Leão 13. “Todas as dioceses têm trabalhos sociais. Eu herdei grandes trabalhos sociais da época de dom Hélder Câmara [1909-1999], que continuam até hoje, adaptados aos tempos, é claro, mas levados adiante com equipes de leigos e leigas, com muito carinho e coragem. O trabalho social é algo que percorre todas as paróquias da diocese [do Rio].”
O arcebispo disse voltar para o Brasil “com muita esperança” após o conclave. “Tem coisas que eu vi que gravei no coração, questões do conclave que marcam a ação do Espírito Santo. São coisas que guardo somente para mim. Quantas coisas bonitas estou vendo para cada vez mais servir com alegria ao povo de Deus”, concluiu.