SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O conselho curador da Fundação Padre Anchieta, que administra a TV Cultura, se reúne nesta quarta-feira (14) para escolher o nome que presidirá a entidade pelos próximos três anos. A expectativa é que a eleição baixe a fervura da tensão entre a fundação e o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) -uma crise que levou o atual presidente executivo, José Roberto Maluf, a decidir não buscar um novo mandato.

A eleita deve ser a produtora Maria Angela de Jesus, executiva da Conspiração Filmes, com passagens por Netflix, HBO e Paramount.

Um acordo tácito entre o governo e o comando da fundação previa que, sem a candidatura de Maluf, a entidade teria sinal verde para contratar um “headhunter” -responsável por descobrir novos profissionais para empresas- para escolher o sucessor do atual presidente.

Maluf disse aos conselheiros, no fim de abril, que não buscaria um terceiro mandato, apontando a falta de recursos orçamentários da gestão estadual para a fundação. Na ocasião, a secretária estadual de Cultura, Marília Marton -com quem Maluf acumulou alguns embates-, o chamou de mentiroso.

Maluf disse que há uma resistência dentro do governo Tarcísio a seu nome e que esperava que sua saída ajudasse a remover esse empecilho. Procurada, a secretaria estadual de Cultura não quis se manifestar.

Diante da decisão de Maluf, a empresa de “headhunters” chegou a uma lista de três nomes do mercado audiovisual para sucedê-lo. Além de Maria Angela, foram indicados Luiz Barreto, CEO da SS Mídia Multicomunicação, e Marcos Amazonas, CEO na Conecta.

Contudo, após uma sabatina com o conselho curador, Maria Angela foi a única candidata a conseguir o número mínimo de indicações de conselheiros para concorrer à vaga. Agora, ela precisa ter um mínimo de 24 votos de um total de 47 para ser a escolhida.

Não está clara a posição do governo quanto ao nome dela. Estima-se que a gestão estadual tenha entre 15 e 18 votos. Com isso, seria possível, pelo menos em tese, dificultar o quórum necessário para eleger a produtora -considerando que alguns conselheiros já costumam se ausentar das votações.

Se for eleita, Maria Angela será a primeira mulher a presidir a Fundação Padre Anchieta. Segundo um relatório da sabatina que circulou entre funcionários da entidade, a executiva falou em restabelecer um diálogo com o governo estadual e em buscar novas frentes de recursos privados.

Além disso, a Fundação Padre Anchieta pode ter uma mulher também na presidência do conselho curador. Por enquanto, a única candidata é a socióloga Neca Setubal, tida como uma das apoiadoras da candidatura de Maria Angela. A única mulher a presidir o colegiado foi Esther de Figueiredo Ferraz, nos anos 1970.

A FPA tem autonomia em relação ao governo, mas depende de verbas do estado para grande parte de seu orçamento -e isso está no cerne da tensão entre a entidade e a gestão estadual.

De um lado, a fundação diz que está sendo estrangulada financeiramente -para este ano, a previsão de orçamento para a entidade é de R$ 211 milhões, sendo R$ 109 milhões de repasses estaduais. O valor corresponde a cerca de 50% dos recursos totais da entidade. Há seis anos, para se ter uma ideia, as verbas do estado correspondiam a 70% do total.

A gestão estadual, contudo, defende que a Cultura busque recursos no setor privado e caminhe com as próprias pernas.

Também há nos bastidores um incômodo do governo paulista com a autonomia da instituição. O mal-estar parece ter se agravado após tentativas repetidas da secretaria de Cultura de indicar nomes para o conselho curador, que, em geral, foram rejeitados pelos atuais conselheiros -foi o caso, em março deste ano, do cineasta e gestor cultural André Sturm.

Com a eleição desta quarta, começa um novo capítulo. Se vai resultar em uma pacificação das relações ou se os atritos continuam, ainda é cedo para saber.