SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Julio Castiglioni, presidente do Metrô de São Paulo, admitiu que o acidente que causou a morte de um passageiro na linha 5-Lilás poderia ter sido evitado. Lourivaldo Ferreira Silva Nepomuceno, 35, ficou preso entre as portas do trem e da plataforma, sem sensores de presença.

”O Metrô tem parcela de responsabilidade nisso”, afirmou o presidente. A declaração ocorreu na sexta-feira durante uma entrevista à SP TV, onde foi questionado sobre a Companhia ter sido avisada pela concessionária ViaMobilidade a respeito de um problema nas portas pelo menos mil dias antes do ocorrido.

O primeiro alerta de falta de segurança nas portas foi dado ainda em 2021. Em novembro daquele ano, ocorreu o primeiro acidente desta categoria que acendeu a preocupação, quando um passageiro ficou preso entre o vão na estação Chácara Klabin. Três meses depois, o Metrô acionou a fabricante das portas, Alstom, mas nada, além disso, foi feito, segundo a reportagem da emissora. O UOL entrou em contato com a ViaMobilidade, mas outros detalhes não foram repassados.

Depois do quarto acidente, o Metrô informou que avaliaria as ações possíveis conforme os termos do contrato da Alstom. Em novembro de 2022, um segundo acidente se repetiu na estação Santa Cruz. Em março de 2023, foi registrado o terceiro e, em julho, o quarto.

Secretaria de Parceria e Investimentos questionou a demora do Metrô em apresentar soluções. Durante este tempo, a ViaMobilidade desenvolveu um projeto: barras de segurança de borracha que ficassem entre as duas portas e detectassem quando um passageiro estivesse preso. A ideia, no entanto, precisava de aprovação e adesão do Metrô, que não chegou a ver o protótipo.

Em dezembro do ano passado, o Metrô anunciou que adotaria uma solução apresentada pela fabricante, parecida com a da ViaMobilidade. A concessionária disse que instalaria as barras de borracha em seis meses, já a Alston falou que entrega das peças ocorreria em junho desse ano. Na sequência, a fabricante atrasou e precisou estender o prazo.

‘PROCESSOS DECISÓRIOS DEMORADOS’, DIZ PRESIDENTE

Castiglioni disse que o Metrô precisa melhorar os processos de decisão: ”foram longos neste caso”. ”O Metrô reconhece isso e a gente está adotando diligência interna e investigação com sindicância para melhoria dos processos. O Metrô tem parcela de responsabilidade nisso e é claro que tem sido dias duros para nós, mas não dá para comparar com a dor da família. Então o que eu posso dizer é que a gente está muito triste e ciente de que temos uma missão de tornar nossa atuação melhor do que foi”, declarou.

Presidente diz que o dispositivo de segurança será instalado nas 17 estações da linha Lilás em breve. Segundo ele, em 90 dias, a ViaMobilidade receberá barreiras físicas do tipo gap filler fabricados pela Alstom e dará início à instalação das barras de borracha nas portas das plataformas. A medida foi confirmada em nota ao UOL pela Companhia.

Lourivaldo ficou preso entre as duas portas na estação Campo Limpo e foi arrastado pelo trem em seguida. Segundo os relatos nas redes sociais de pessoas que presenciaram a cena, o acidente ocorreu por volta das 8h da última terça-feira.

A morte foi confirmada em seguida pela ViaMobilidade. Em nota, a empresa também afirmou que colaborava com as autoridades e apurava as circunstâncias do ocorrido. O caso foi registrado na Delpom, uma unidade da polícia responsável por crimes ocorridos nas dependências do sistema metroferroviário.

Vítima trabalhava como repositor, era casado e pai de três filhos de 4, 5 e 17 anos. Morador de Taboão da Serra, na região metropolitana da capital, ele estava a caminho do trabalho quando sofreu o acidente. O homem também faria 36 anos no último domingo.