SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Desde esta segunda-feira (12), ações da Polícia Militar paulista na comunidade do Moinho, a última favela remanescente na região central de São Paulo, deixou feridos, incluindo uma criança, segundo registros e relatos enviados por moradores à reportagem.

Sob protestos, comunidade é alvo de demolições pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional de Urbano do Estado de São Paulo). O órgão estadual começou a demolir as primeiras casas já desocupadas nesta segunda, como parte do projeto de remoção de todos os moradores do Moinho para a construção de um parque e uma estação ferroviária no terreno onde vivem cerca de mil famílias.

Morador foi atingido por disparo de bala de borracha e crianças inalaram gás de pimenta e bombas de efeito moral, relatam moradores. “Um morador levou um tiro, o bombeiro está entrando para prestar socorro para outro. As crianças chegaram da escola e foram recebidas com gás das bombas e de pimenta”, disse à reportagem uma moradora que preferiu não se identificar.

Vídeo mostra bebê desmaiado após inalar gás. Na gravação, a criança aparece sendo levada às pressas pela mãe até um carro do Corpo de Bombeiros, na entrada da comunidade. As duas são acompanhadas aos gritos por outros moradores que pedem socorro aos agentes.

“Estão jogando bomba e gás de pimenta, fazendo truculência. As famílias estão aqui tendo que prender um pano no rosto, as crianças voltando da escola não estão podendo entrar. Precisamos de ajuda”, disse uma moradora da favela do Moinho.

“As crianças estão passando mal e estão oprimindo a população”, diz morador nas imagens gravadas. No mesmo vídeo, uma outra criança, mais velha, aparece sendo encaminhada aos bombeiros para também receber atendimento.

Ação policial envolveu disparos com balas de borracha e ao menos uma pessoa detida. A reportagem ainda tenta confirmar quantas pessoas foram feridas ou presas desde ontem e o motivo da operação.

SSP (Secretaria da Segurança Pública) diz que PM atua para “dar apoio” a funcionários da CDHU que estão na comunidade. A pasta não comentou sobre o que teria justificado o uso de força não letal contra moradores e, em nota, afirma apenas que “a ocorrência está em andamento” e a presença policial na região “tem como objetivo garantir a segurança dos profissionais da CDHU, dos moradores e de todas as pessoas presentes no local”.

Nesta segunda, fora do cordão de isolamento formado por policiais, moradores protestavam e exigiam os documentos de autorização das demolições, que não foram apresentados. Segundo apuração da Folha de S.Paulo, mudanças de moradores continuaram sendo feitas, sendo três delas na manhã desta terça (13).

Ainda na segunda, a PM e a GCM (Guarda Civil Metropolitana) tentaram escoltar um trator para dentro da favela. Foi a ação que deu início aos protestos de moradores. O equipamento acabou ficando fora da comunidade e o trabalho se restringiu à demolição manual, com martelos, pés de cabra e uma marreta, além do uso de madeiras das próprias construções.

Durante o primeiro dia de protestos, manifestantes colocaram fogo nos trilhos de trens da CPTM, mas situação foi normalizada. O Corpo de Bombeiros foi acionado para combater as chamas e a tropa de choque da Polícia Militar permaneceu na comunidade até à noite, quando ainda não havia registros de presos e feridos.

Deputada denunciou ação policial. “Na noite de ontem [12], agentes da polícia estavam no local intimidando a população e escoltando a demolição de casas”, divulgou em nota a parlamentar estadual Ediane Maria (PSOL), que acompanhava presencialmente a situação na comunidade.

“Ontem foi um show de horror, com os moradores perdendo suas coisas porque não tinham sido avisados com antecedência. A sanha de Tarcísio em fazer limpeza social para favorecer a especulação imobiliária passou de todos os limites. A PM, mais uma vez, está usando de violência para intimidar os moradores”, disse Ediane.