SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa brasileira renovou o recorde histórico nesta terça-feira (13), embalada pelos dados de inflação ao consumidor dos Estados Unidos e pela ata do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central).
Apesar do pregão não ter se encerrado ainda, o Ibovespa já ultrapassou a máxima de fechamento -registrada em 28 de agosto, quando marcou 137.343 pontos- e a do período de negociações, renovada na semana passada, de 137.634 pontos.
Às 12h35, o índice de referência do mercado acionário brasileiro disparava 1,63%, a 138.779 pontos. Já o dólar despencava 1,41%, cotado a R$ 5,604, em movimento global de desvalorização.
Os mercados repercutem o CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, que veio abaixo das expectativas. Enquanto o consenso do mercado era de uma alta de 0,3% no mês de abril, a inflação veio em 0,2%, depois de ter caído 0,1% em março.
Nos 12 meses até abril, os preços ao consumidor avançaram 2,3%, enquanto as projeções apontavam para uma manutenção dos 2,4% da leitura anterior.
A interpretação de especialistas é que os dados capturam apenas as tarifas adotadas antes do anúncio do “dia da libertação” do presidente Donald Trump, em 2 de abril. Entre elas, as taxas de 20% sobre todas as importações chinesas, em retaliação à droga fentanil, e as de 25% sobre carros e caminhões leves importados.
De lá para cá, Trump impôs e voltou atrás em uma série de tarifas a parceiros comerciais. Em meio à reação turbulenta dos mercados, sobretudo no de títulos do Tesouro norte-americano, o republicano suspendeu a maioria das sobretaxas específicas de cada país por 90 dias e aplicou uma geral de 10% sobre quase todas as importações.
É provável que o próximo relatório do CPI -o referente a este mês de maio- já indique um impacto significativo do tarifaço do presidente nos preços ao consumidor.
“Essa foi, provavelmente, a última leitura suave da inflação norte-americana pelos próximos meses. O CPI de abril não trouxe indícios claros do impacto do choque tarifário ao consumidor, exceto, talvez, no setor de passagens aéreas. Mas a expectativa é que principalmente produtos eletrônicos e automóveis se façam sentir daqui para frente”, avalia Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX.
No geral, pondera o analista, a inflação aparenta estar caminhando em direção à meta de 2% do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA). “É um bom sinal, porque pode acelerar o corte de juros, o que tende a prejudicar o rendimento dos títulos do Tesouro e a enfraquecer o dólar globalmente”, diz ele.
Essa visão também está amparando os mercados de maior risco, como a Bolsa brasileira.
“O problema é que esse CPI não deve ditar tendências futuras, porque os impactos do tarifaço são esperados para os próximos meses. É difícil saber exatamente como a economia dos EUA vai evoluir.”
Essa incerteza voltou a ditar os negócios globais nesta terça e tem incentivado a migração para mercados alternativos, depois de uma breve trégua na desconfiança dos investidores na véspera. Na segunda, o foco esteve integralmente voltado ao acordo comercial entre Estados Unidos e China, firmado em Genebra durante o fim de semana.
Ficou acertado que, durante 90 dias, os EUA reduzirão de 145% para 30% as tarifas adicionais sobre produtos chineses (10% de taxa básica, mais 20% relacionados ao fentanil). A China, por sua vez, diminuirá as taxas sobre importações americanas para 10%, ante os 125% de hoje. O país asiático também disse que irá suspender ou cancelar medidas não tarifárias tomadas contra os EUA.
O entendimento entre os dois países arrefeceu a escalada de tensões causada pela guerra comercial, instalando otimismo entre os mercados. A percepção é que os riscos de uma “estagflação” nos EUA -isto é, um cenário de inflação alta e atividade estagnada- se tornaram menores.
“Por mais que o anúncio de um entendimento entre China e Estados Unidos acerca das tarifas tenha reduzido substancialmente a incerteza e um risco de uma inflação maior, ainda há a incerteza do repasse, no curto prazo, dos efeitos da incerteza observada ao longo de abril, que podem ainda se manifestar nos próximos resultados do CPI”, diz André Valério, economista sênior do Inter.
Também está no radar a ata da última reunião do Copom. Na semana passada, o colegiado optou por subir a taxa básica de juros do Brasil, a Selic, em 0,5 ponto percentual, a 14,75% ao ano.
Segundo o documento divulgado na manhã desta terça, todos os integrantes do comitê avaliam que, em um ambiente de expectativas desancoradas, é necessária uma restrição monetária maior e por mais tempo.
Na análise do Copom, a política monetária já tem contribuído e seguirá contribuindo para a moderação do crescimento, tendo gerado impactos no mercado de crédito, sondagens empresariais, mercado de câmbio e balanços das empresas, assim como em alguns indicadores de atividade e mercado de trabalho.
“Espera-se que tais efeitos se aprofundem nos próximos trimestres”, apontou a ata.
O documento apontou que as expectativas de inflação seguem acima da meta de 3% em todos os horizontes, o que torna o cenário mais adverso, citando que o tema gera desconforto ao BC e aumenta o custo do combate à alta dos preços sobre atividade econômica.
“Na discussão sobre o tema das expectativas de inflação, a principal conclusão obtida e compartilhada por todos os membros do Comitê foi de que, em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma restrição monetária maior e por mais tempo do que outrora seria apropriado”, reforçou o documento.