Na porta da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim Itaipu, em Goiânia, pais de crianças internadas com bronquiolite enfrentam uma verdadeira maratona para conseguir tratamento adequado. A denúncia é grave: só com ordens judiciais os pequenos conseguem acesso a leitos de UTI. “Sem a Justiça, meu filho não estaria vivo”, desabafa Cristielen, mãe do pequeno Noah, de apenas dois meses.
Cristielen conta que Noah deu entrada na UPA no dia 8 de maio, em estado preocupante. Mesmo com o quadro grave, a transferência para uma UTI só ocorreu após decisão da Justiça. “O leito só foi liberado depois de intervenção judicial”, afirma. O mesmo aconteceu com Athos Júnior, de 27 dias, internado dois dias antes. Seu pai, Athos Matheus, também recorreu à Defensoria Pública para garantir o atendimento. “É um caos completo. Sem isso, não teria vaga”, denuncia.
A situação descrita pelas famílias revela um cenário de colapso na saúde pediátrica. Salas superlotadas, atendimento considerado negligente e demora na regulação de leitos são apenas alguns dos problemas apontados. “Eles tratam como se não fosse nada. As crianças chegam passando mal e não dão a mínima”, diz Cristielen.
A crise atinge também o transporte dos pacientes. Cristielen relata que o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) recusou inicialmente levar seu filho até Itumbiara, onde havia uma vaga disponível no Hospital São Marcos. “Disseram que o quadro dele não era grave o suficiente. Só fizeram o transporte porque a Justiça mandou”, relata.
Athos Matheus questiona a alegada falta de vagas. “Nos dizem que não tem leito, mas basta acionar a Justiça e a vaga aparece? Isso precisa ser investigado”, aponta. Ele relata que o filho segue na sala de observação, junto a outras três crianças com o mesmo diagnóstico. Além disso, segundo ele, há quatro idosos na sala vermelha, todos à espera de UTI.
Outro problema grave relatado é a possível exposição dos pacientes a riscos evitáveis. Segundo Athos, uma criança diagnosticada com influenza foi mantida junto dos demais até que o resultado do exame confirmasse a doença. “É um erro grosseiro. Colocar uma criança contaminada no mesmo espaço é inaceitável”, critica.
A transferência de Athos Júnior também se arrastou por horas, mesmo após o leito estar disponível. Até as 16h de segunda-feira, ele ainda aguardava a chegada de uma equipe médica do SAMU com estrutura para realizar o transporte com segurança.
Nota da Secretaria de Saúde
Em resposta, a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS) informou que a cidade possui sete leitos de UTI pediátrica e que a responsabilidade pela regulação das vagas é compartilhada com o Estado. Segundo a nota, nos dois casos citados, a Justiça determinou à Secretaria Estadual de Saúde (SES-GO) o fornecimento dos leitos.
A SMS também declarou que o transporte via SAMU leva em conta as condições clínicas do paciente e que, para mais detalhes sobre os procedimentos realizados, são necessários dados pessoais dos pacientes, como nome, CPF ou nome da mãe.
Enquanto isso, nas salas da UPA, pais seguem esperando — por atendimento, por leitos e, sobretudo, por respeito.