SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – A fratura na relação entre PT e PDT, com a saída de Carlos Lupi do Ministério da Previdência, tumultua o processo de reaproximação entre os dois partidos no momento em que eles voltavam a construir pontes e retomar alianças nos estados.

Sob pressão no governo Lula (PT), Lupi pediu demissão do cargo em meio à crise dos descontos ilegais em aposentadorias e pensões do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).

Na terça-feira (6), quatro dias após o pedido, a bancada nacional do PDT na Câmara dos Deputados rompeu com o governo e anunciou posição de independência.

A crise deve abalar a retomada do diálogo entre os dois partidos, que voltavam a firmar alianças após os atritos do pleito de 2022.

Naquela eleição, o PDT concorreu ao Planalto com Ciro Gomes, que fez uma campanha crítica a Lula e terminou em quarto lugar.

As duas siglas estiveram no mesmo palanque em apenas cinco estados, sendo quatro deles em apoio a candidatos de outros partidos. O PT não apoiou nenhum pedetista para os governos estaduais, e o PDT endossou apenas Fátima Bezerra, no Rio Grande do Norte.

Desde então, a reaproximação mais simbólica aconteceu na Bahia, onde o PDT selou o retorno à base do governador Jerônimo Rodrigues (PT) dias antes da demissão de Lupi. A negociação teve a digital do próprio ex-ministro da Previdência e do seu então colega de Esplanada Rui Costa (Casa Civil) e atendeu aos anseios de líderes políticos do interior do estado.

O PDT estava na oposição havia quatro anos, desde que rompeu com Rui e decidiu apoiar a candidatura de ACM Neto (União Brasil) para o Governo da Bahia em 2022. Na época, o movimento foi influenciado pelo cenário nacional, em que o PDT buscava apoio para a candidatura presidencial de Ciro.

Em Salvador, o PDT já era aliado do União Brasil desde 2020, quando indicou Ana Paula Matos para a vice de Bruno Reis -ambos foram eleitos em 2020 e reeleitos em 2024. O partido também filiou o deputado federal Leo Prates, um dos aliados mais próximos de ACM Neto.

O retorno do PDT para a base petista na Bahia dividiu o partido, teve resistências entre líderes em Salvador e agora enfrenta um cenário de instabilidade diante do novo afastamento entre os dois partidos na esfera nacional.

Deputados estaduais que planejavam filiação ao PDT para 2026 estão em compasso de espera, aguardando ficar mais claro o cenário das movimentações políticas nacionais.

Presidente do PDT na Bahia, o deputado federal Félix Júnior minimiza o impacto da fissura entre os dois partidos. “Não acredito que a decisão nacional vá repercutir na Bahia. Pelo contrário, acho que a Bahia pode ajudar a aproximar os partidos em nível nacional”, diz.

No Ceará, base política de Ciro e epicentro de disputas renhidas entre os dois partidos nas últimas eleições, PT e PDT ensaiam uma reaproximação desde fevereiro deste ano. O movimento foi liderado por Lupi, que participou de uma reunião com o governador petista Elmano de Freitas.

A crise nacional, contudo, voltou a embaralhar o cenário no estado. Na semana passada, Ciro participou de uma reunião com a bancada de oposição na Assembleia Legislativa do Ceará.

No encontro, defendeu uma união das oposições no Ceará e sinalizou apoio à candidatura ao Senado do deputado estadual bolsonarista Alcides Fernandes (PL). Ele é pai do deputado federal André Fernandes (PL), derrotado em 2024 na disputa pela Prefeitura de Fortaleza.

Questionado sobre a aproximação com o PT no Ceará, o deputado federal André Figueiredo, presidente do diretório estadual do PDT, disse que ainda não há aliança formal entre os dois partidos.

Em Fortaleza, ao menos seis dos oito vereadores do partido apoiam o prefeito Evandro Leitão (PT). Na Assembleia Legislativa, há uma divisão da bancada entre oposicionistas e remanescentes aliados do senador Cid Gomes, irmão de Ciro que migrou para o PSB.

Possível candidato a governador em 2026, o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio lidera a ala do PDT que se mantém na oposição a Elmano. Ele foi convidado a se filiar ao União Brasil, caso tenha portas fechadas para uma candidatura no atual partido.

“Defendemos um projeto alternativo ao PT, que tem produzido retrocessos econômicos, sociais e políticos para o estado”, afirma.

Outro estado em que houve uma reaproximação é o Piauí, onde o PT elegeu em 2022 o governador Rafael Fonteles (PT), mas o PDT fez parte da chapa de Sílvio Mendes (União Brasil).

Os dois partidos voltaram a se aliar nas eleições de 2024, em Teresina, na chapa liderada por Fábio Novo (PT) -que acabou derrotada por Silvio Mendes.

Sem deputados federais e estaduais, o PDT estadual trabalha na formação de chapas para voltar a ter representação na Assembleia e na Câmara. A expectativa é que o partido apoie a reeleição de Fonteles.