SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os Estados Unidos e a China chegaram a um acordo para reduzir temporariamente as tarifas recíprocas, enquanto as duas maiores economias do mundo buscam encerrar uma guerra comercial que tem alimentado temores de recessão e deixado os mercados financeiros em alerta.

Como parte de um acordo firmado em Genebra durante o fim de semana, os Estados Unidos reduzirão de 145% para 30% as tarifas adicionais sobre produtos chineses (10% de taxa básica, mais 20% relacionados ao tráfico da droga fentanil). A China, por sua vez, diminuirá as taxas sobre importações americanas para 10% (são 125% hoje). O país asiático também disse que irá suspender ou cancelar medidas não tarifárias tomadas contra os EUA.

Após o acordo ser divulgado, o presidente americano, Donald Trump, disse que as relações entre os países foram retomadas e sinalizou que falará com seu homólogo chinês, Xi Jinping, nesta semana.

Ele disse que as tarifas sobre importações da China não voltarão a 145% após a pausa de 90 dias. Entretanto, sinalizou que as tarifas dos EUA sobre produtos chineses podem aumentar, caso os países não atinjam um acordo definitivo.

“Ontem conseguimos um recomeço completo com a China após negociações produtivas em Genebra”, disse. “A relação é muito, muito boa. Falarei com o presidente Xi, talvez no final da semana”, acrescentou.

“Ambos os países representaram muito bem seus interesses nacionais”, disse o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, nesta segunda-feira (12). “Ambos temos interesse em um comércio equilibrado, os Estados Unidos continuarão avançando nessa direção”.

“Esta medida atende às expectativas de produtores e consumidores, alinhando-se com os interesses de ambas as nações e o interesse global comum”, disse o ministério do Comércio da China.

Bessent também disse que o acordo firmado nesta segunda é apenas o começo de uma negociação entre as potências, e que, nas próximas semanas, os países voltarão a se encontrar para firmar um acordo comercial mais amplo. Ele não especificou uma data para tal.

Em entrevista à CNBC, o secretário do Tesouro americano também disse que o país tem como objetivo proteger os setores de aço e semicondutores nos acordos.

Bessent falou ao lado do representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, após as conversas do fim de semana na Suíça, nas quais ambos os lados celebraram o progresso na redução das diferenças.

“O consenso de ambas as delegações neste fim de semana é que nenhum lado quer um desacoplamento [das economias]”, disse Bessent. “E o que ocorreu com essas tarifas muito altas foi o equivalente a um embargo, e nenhum lado quer isso. Nós queremos comércio.”

As ações globais estenderam seus ganhos após o anúncio.

Em Wall Street, os principais índices acionários dispararam. O S&P500, referência do mercado norte-americano, teve alta de 3,26%, enquanto Nasdaq Composite e Dow Jones avançaram 4,35% e 2,81%, respectivamente. Na China, as três principais Bolsas, o CSI300, o SSEC (de Xangai) e o Hang Sang (de Hong Kong), subiram 1,16%, 0,82% e 2,98%, respectivamente.

O dólar também se valorizou globalmente. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar ante outras seis divisas fortes, teve alta de 1,46%, a 101,8 pontos. Números acima de 100 indicam uma tendência de valorização consistente e não eram atingidos havia mais de um mês

No Brasil, a Bolsa ficou praticamente estável, com leve variação positiva de 0,03%, a 136.563 pontos. O Ibovespa foi sustentado no azul pela disparada das ações da Petrobras e da Vale, que seguiram o desempenho de suas commodities de referência no mercado externo. Já o dólar fechou em alta de 0,53%, cotado a R$ 5,684.

Em Tóquio, o índice Nikkei avançou 0,38%, a 37.644 pontos, enquanto em Seul, o índice KOSPI teve valorização de 1,17%, a 2.607 pontos, e Taiwan, o índice TAIEX registrou alta de 1,03%, a 21.129 pontos.

As principais Bolsas da Europa também subiram. O índice STOXX 600, referência no continente, avançou 1,56%; o FTSE, de Londres, ganhou 0,59%. Em Paris, o CAC-40 subiu 1,37%, e o DAX, da Alemanha, 0,29%.

As reuniões em Genebra foram as primeiras interações presenciais entre altos funcionários econômicos dos EUA e da China desde que Donald Trump retornou ao poder e lançou uma ofensiva tarifária global, impondo taxas particularmente pesadas à China.

Desde que assumiu o cargo, em janeiro, Trump havia aumentado as tarifas pagas pelos importadores americanos para produtos da China para 145%, além daquelas que ele impôs a muitos produtos chineses durante seu primeiro mandato e das taxas aplicadas pela administração Biden.

A China revidou impondo restrições à exportação de alguns elementos de terras raras, vitais para fabricantes americanos de armas e produtos eletrônicos de consumo, e aumentando as tarifas sobre produtos americanos para 125%.

A disputa tarifária paralisou quase US$ 600 bilhões em comércio bilateral, interrompendo cadeias de suprimentos, despertando temores de estagflação e provocando algumas demissões.

“Isso é melhor do que eu esperava. Pensei que as tarifas seriam reduzidas para algo em torno de 50%”, disse Zhiwei Zhang, economista-chefe da Pinpoint Asset Management em Hong Kong.

“Obviamente, esta é uma notícia muito positiva para as economias de ambos os países e para a economia global, e faz com que os investidores fiquem muito menos preocupados com os danos às cadeias de suprimentos globais no curto prazo”, acrescentou Zhang.

Após as conversas de domingo, autoridades americanas anunciaram um acordo para reduzir o déficit comercial dos EUA, enquanto autoridades chinesas disseram que os dois haviam chegado a um consenso importante e concordado em lançar outro novo fórum de diálogo econômico.

Trump fez uma leitura positiva das conversas antes que elas fossem concluídas, dizendo que os dois lados haviam negociado “uma redefinição total… de maneira amigável, mas construtiva.”

O presidente dos EUA impôs as tarifas em parte após declarar uma emergência nacional devido ao fentanil que entra nos Estados Unidos, e Greer disse que as conversas sobre a redução do opioide mortal foram “muito construtivas”.

O vice-primeiro-ministro chinês He Lifeng foi menos categórico em suas declarações, mas ainda assim saudou o “progresso substancial” após as conversas realizadas na vila privada e cercada do embaixador suíço nas Nações Unidas, com vista para o lago Genebra.