SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em alta de 0,53% nesta segunda-feira (12), cotado a R$ 5,684, em reação dos investidores ao acordo comercial entre Estados Unidos e China anunciado durante a madrugada.
O entendimento entre os dois países arrefeceu a escalada de tensões causada pela guerra tarifária do último mês de abril, instalando otimismo entre os mercados. A percepção, agora, é que os riscos de uma “estagflação” nos EUA -isto é, um cenário de inflação alta e atividade estagnada- se tornaram menores, o que possibilitou uma recuperação mais acentuada nos ativos norte-americanos.
Além dos ganhos sobre o real, a moeda dos EUA se valorizou globalmente. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar ante outras seis divisas fortes, teve alta de 1,46%, a 101,8 pontos. Números acima de 100 indicam uma tendência de valorização consistente e não eram atingidos há mais de um mês
Em Wall Street, os principais índices acionários dispararam. O S&P500, referência do mercado norte-americano, teve alta de 3,26%, enquanto Nasdaq Composite e Dow Jones avançaram 4,35% e 2,81%, respectivamente.
Por aqui, a Bolsa ficou praticamente estável, com leve variação positiva de 0,03%, a 136.563 pontos. O Ibovespa foi sustentado no azul pela disparada das ações da Petrobras e da Vale, que seguiram o desempenho de suas commodities de referência no mercado externo.
A trégua comercial, firmada em Genebra durante o fim de semana, inspirou alívio nos mercados ao afastar, por ora, temores de uma guerra tarifária ampla que pudesse empurrar a economia global para uma recessão.
No entanto, “apesar de benéfica nesse sentido, ela reorganizou os fluxos de capital estrangeiro devido ao ambiente de menor de incerteza e de menor demanda por mercados emergentes que estávamos presenciando até então”, avalia Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.
É esse o movimento que explica a disparada do dólar globalmente e o descolamento do Ibovespa das demais Bolsas nesta sessão.
No acordo, ficou acertado que, durante 90 dias, os Estados Unidos reduzirão de 145% para 30% as tarifas adicionais sobre produtos chineses (10% de taxa básica, mais 20% relacionados ao tráfico da droga fentanil).
A China, por sua vez, diminuirá as taxas sobre importações americanas para 10% (são 125% hoje). O país asiático também disse que irá suspender ou cancelar medidas não tarifárias tomadas contra os EUA.
“Ambos os países representaram muito bem seus interesses nacionais”, disse o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, nesta segunda. “Ambos temos interesse em um comércio equilibrado, e os Estados Unidos continuarão avançando nessa direção.”
Já o Ministério do Comércio chinês disse que “esta medida atende às expectativas de produtores e consumidores, alinhando-se com os interesses de ambas as nações e o interesse global comum”.
Na análise de André Valério, economista sênior do Inter, ainda faltam detalhes relevantes a serem explicados, mas o acordo já é “um avanço considerável” e desperta alívio nos mercados.
“Na prática, reduz os riscos de estagflação e a chance de um potencial desabastecimento da economia norte-americana. Os mercados estão precificando um cenário mais positivo para a economia dos Estados Unidos em termos de crescimento, o que tem se manifestado em juros de dez anos do Tesouro americano maiores e uma apreciação do dólar frente às principais moedas do mundo.”
Outras praças acionárias repercutiram o anúncio com otimismo. As três principais Bolsas da China subiram: o CSI300 teve valorização de 1,16%; o SSEC (de Xangai) ganhou 0,82%; e o Hang Seng (de Hong Kong) subiu 2,98%.
Em Tóquio, o índice Nikkei avançou 0,38%, a 37.644 pontos, enquanto em Seul, o índice KOSPI teve valorização de 1,17%, a 2.607 pontos, e Taiwan, o índice TAIEX registrou alta de 1,03%, a 21.129 pontos.
As principais Bolsas da Europa também subiram. O índice STOXX 600, referência no continente, avançou 1,56%; o FTSE, de Londres, ganhou 0,59%. Em Paris, o CAC-40 subiu 1,37%, e o DAX, da Alemanha, 0,29%.
As reuniões em Genebra foram as primeiras interações presenciais entre altos funcionários econômicos dos EUA e da China desde que Donald Trump retornou ao poder e lançou uma ofensiva tarifária global, impondo taxas particularmente pesadas à China.
Desde que assumiu o cargo, em janeiro, Trump havia aumentado as tarifas pagas pelos importadores americanos para produtos da China para 145%, além daquelas que ele impôs a muitos produtos chineses durante seu primeiro mandato e das taxas aplicadas pela administração Biden.
A China revidou impondo restrições à exportação de alguns elementos de terras raras, vitais para fabricantes americanos de armas e produtos eletrônicos de consumo, e aumentando as tarifas sobre produtos americanos para 125%.
“A notícia de que China e os Estados Unidos concordaram em reduzir -ao menos momentaneamente- as tarifas para o comércio entre os dois países, soa, naturalmente, como música aos ouvidos dos investidores”, disse a equipe da Ágora Investimentos, em relatório a clientes.
“Claramente esse é um ambiente que sugere ganhos por aqui também. A dúvida, porém, é se a trégua entre as duas maiores economias do mundo pode reduzir a força do movimento de rotação global de recursos que vinha estimulando a tomada de risco em nosso mercado, mas ainda é muito cedo para saber.”
Na Bolsa brasileira, as principais empresas do Ibovespa, Vale e Petrobras, registraram fortes ganhos.
A mineradora avançou 2,51%, enquanto os papéis preferenciais e ordinários da petroleira subiram 2,39% e 2,71%, respectivamente. As movimentações nas duas companhias seguira a disparada de suas commodities de referência no mercado externo: o minério de ferro teve alta de 3,16%, enquanto o petróleo Brent avançou 1,39%.