SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar está em alta nesta segunda-feira (22), com investidores reagindo ao acordo comercial entre Estados Unidos e China anunciado durante a madrugada.

O entendimento entre os dois países arrefeceu a escalada de tensões causada pela guerra tarifária do último mês de abril, instalando otimismo entre os mercados.

Às 14h08, o dólar subia 0,68%, cotado a R$ 5,692, em movimento global de valorização. Já a Bolsa avançava 0,11%, a 136.668 pontos, seguindo Wall Street, Ásia e Europa.

Em acordo firmado em Genebra durante o fim de semana, os Estados Unidos reduzirão de 145% para 30% as tarifas adicionais sobre produtos chineses (10% de taxa básica, mais 20% relacionados ao tráfico da droga fentanil).

A China, por sua vez, diminuirá as taxas sobre importações americanas para 10% (são 125% hoje). O país asiático também disse que irá suspender ou cancelar medidas não tarifárias tomadas contra os EUA.

As novas taxas estarão em vigor durante 90 dias.

“Ambos os países representaram muito bem seus interesses nacionais”, disse o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, nesta segunda. “Ambos temos interesse em um comércio equilibrado, e os Estados Unidos continuarão avançando nessa direção.”

Já o Ministério do Comércio chinês disse que “esta medida atende às expectativas de produtores e consumidores, alinhando-se com os interesses de ambas as nações e o interesse global comum”.

O acordo inspira alívio entre os mercados por reduzir a incerteza sobre os rumos da economia global, em patamares elevados desde 2 de abril, o “dia da libertação” do presidente Donald Trump.

“É um acordo ainda recheado de detalhes a serem explicados, mas já é um avanço considerável e os mercados se mostram bastante aliviados”, diz André Valério, economista sênior do Inter.

“Na prática, reduz os riscos de estagflação e a chance de um potencial desabastecimento da economia norte-americana. Os mercados estão precificando um cenário mais positivo para a economia dos Estados Unidos em termos de crescimento, o que tem se manifestado em juros de dez anos do Tesouro americano maiores e uma apreciação do dólar frente às principais moedas do mundo.”

O índice DXY -que compara o dólar a uma cesta de seis moedas fortes, como euro e iene- disparava 1,49%, a 101,83 pontos. Números acima de 100 indicam uma tendência de valorização consistente da divisa dos EUA e não eram atingidos há mais de um mês.

Já as ações globais marcam forte alta. Nos Estados Unidos, o S&P500 disparava 2,91%, enquanto Nasdaq Composite e Dow Jones tinham altas de 4,18% e 2,62%.

As três principais Bolsas da China subiram: o CSI300 teve valorização de 1,16%; o SSEC (de Xangai) ganhou 0,82%; e o Hang Seng (de Hong Kong) subiu 2,98%.

Em Tóquio, o índice Nikkei avançou 0,38%, a 37.644 pontos, enquanto em Seul, o índice KOSPI teve valorização de 1,17%, a 2.607 pontos, e Taiwan, o índice TAIEX registrou alta de 1,03%, a 21.129 pontos.

Seguindo a mesma tendência, as principais Bolsas da Europa também subiram. O índice STOXX 600, referência no continente, avançou 1,56%; o FTSE, de Londres, ganhou 0,59%. Em Paris, o CAC-40 subiu 1,37%, e o DAX, da Alemanha, 0,29%.

As reuniões em Genebra foram as primeiras interações presenciais entre altos funcionários econômicos dos EUA e da China desde que Donald Trump retornou ao poder e lançou uma ofensiva tarifária global, impondo taxas particularmente pesadas à China.

Desde que assumiu o cargo, em janeiro, Trump havia aumentado as tarifas pagas pelos importadores americanos para produtos da China para 145%, além daquelas que ele impôs a muitos produtos chineses durante seu primeiro mandato e das taxas aplicadas pela administração Biden.

A China revidou impondo restrições à exportação de alguns elementos de terras raras, vitais para fabricantes americanos de armas e produtos eletrônicos de consumo, e aumentando as tarifas sobre produtos americanos para 125%.

A disputa tarifária paralisou quase US$ 600 bilhões em comércio bilateral, interrompendo cadeias de suprimentos, despertando temores de estagflação e provocando algumas demissões.

“A notícia de que China e os Estados Unidos concordaram em reduzir -ao menos momentaneamente- as tarifas para o comércio entre os dois países, soa, naturalmente, como música aos ouvidos dos investidores”, disse a equipe da Ágora Investimentos, em relatório a clientes.

“Claramente esse é um ambiente que sugere ganhos por aqui também. A dúvida, porém, é se a trégua entre as duas maiores economias do mundo pode reduzir a força do movimento de rotação global de recursos que vinha estimulando a tomada de risco em nosso mercado, mas ainda é muito cedo para saber.”

Na Bolsa brasileira, as principais empresas do Ibovespa, Vale e Petrobras, registram fortes ganhos.

A mineradora avançava 3,04%, enquanto os papéis preferenciais e ordinários da petroleira subiam 3,36% e 3,25%, respectivamente. As movimentações nas duas companhias seguem a disparada de suas commodities de referência no mercado externo: o minério de ferro mais negociado em Dalian, na China, encerrou as negociações do dia com alta de 3,16%, enquanto o petróleo Brent avançava 1,94%.